Estudantes de artes da UFBA apresentam trabalhos no Pará

A capital paraense sediou o evento propondo um espaço para trocas de experiências

Por Kalú Santana

Diversas linguagens artísticas se encontraram durante uma semana em Belém, quando a Universidade Federal do Pará (UFPA) recebeu o Encontro Nacional de Estudantes de Artes (ENEARTE) . Artes visuais, cinema, música, dança, teatro e performance foram apresentados em diversos trabalhos, a partir do tema “Chega-te a mim: A arte em contato”.

Constituído por estudantes das Licenciaturas, Bacharelados e, nesta edição, cursos técnicos do campo artístico, o Enearte é um evento de caráter científico, político, acadêmico e cultural. O encontro foi realizado entre 9 e 16 de setembro de 2018. Estudantes da UFBA tiveram 34 trabalhos selecionados para participar do evento.

Em sua XXII edição, esteve sob a coordenação dos estudantes do Instituto de Ciências das Artes (ICA), da UFPA. Maíra Miquilini, estudante de Cinema de Animação e Artes Digitais, da UFMG, em mobilidade acadêmica com a UFBA, teve, como trabalhos selecionados, um curta chamado “Anfêmero” e uma oficina de “Cinema de Guerrilha”. Trazendo a temática do segundo, que surge da necessidade de produzir com nenhum ou baixíssimo orçamento, contou, com a direção de arte da estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFBA, Angela de Carvalho.

Com muita vontade de produzir, mas quase sem dinheiro e com uma equipe bastante limitada, as duas amigas resolveram trabalhar com não atores, aproveitar para gravar sem diálogos roteirizados e experimentar a gravação em fluxo.

Segundo ela, o ENEARTE foi uma possibilidade de iniciar a submissão do curta em festivais, e também um lugar propício para expandir o trabalho realizado através do Cinema de Guerrilha. “A Oficina de Cinema de Guerrilha é algo que estudo há um tempo e acho que é uma temática muito importante para ser mais difundida entre artistas, uma vez que muitos deixam de realizar filmes por falta de orçamento.”

Maíra lembrou da dificuldade de se produzir no audiovisual brasileiro. “No Brasil o fomento audiovisual, infelizmente, ainda não é o suficiente e fica muito centrado no sudeste. Vi o ENEARTE como uma possibilidade de compartilhar minhas experiências e estudos dessa tática e buscar incentivar a produção dos estudantes de artes”.

(Foto: Maíra Miquilini)
(Foto: Maíra Miquilini)

Victor Hugo Sá, estudante de Teatro da UFBA, também participou do encontro com a oficina “A Percepção do Personagem, além de chefiar a delegação dos estudantes da UFBA. Segundo ele, o trabalho selecionado teve como objetivo auxiliar na construção de um personagem a partir dos sentimentos e dos estímulos externos, e, disso, ter uma aprendizado pessoal.

Ele ainda diz que, como ferramentas pedagógicas, utilizou alguns procedimentos do Teatro do oprimido e do Sistema stanislavskiano, técnicas teatrais oriundas, respectivamente, dos trabalhos dos teatrólogos Augusto Boal e Constantin Stanislavski.

O discente ressaltou a importância do encontro para seu amadurecimento enquanto artista.

“Após frequentar o encontro, eu comecei a amadurecer mais, dentro da universidade e fora dela. Como esse ano eu gostaria de ampliar minha pesquisa, resolvi dar este retorno ao evento, pois foi nele que tudo começou”, explicou, ao se referir ao seu trabalho.

Victor contou ainda que fez alterações no projeto, a partir das experiências que teve ao longo de outras edições. “Esta oficina se tornou um pouco disso tudo, pois me apresentou uma forma de reconhecer o Teatro enquanto área de conhecimento e, desde então, venho reforçando essa luta, seja como artista ou professor de teatro”, completou.

(Foto: Rosa Abreu)
(Foto: Rosa Abreu)

Sociedade e Política
Promovendo a reflexão e a discussão sobre a sociedade e a arte, o evento foi um espaço de troca de experiências, divulgação de trabalhos científicos/projetos artísticos, discussões políticas e sociais. Segundo os estudantes, que o evento foi também um momento para o auto-reconhecimento como campos de pesquisa, de conhecimento científico e de transformação político-social.

O estudante de Licenciatura em Teatro da UFBA Victor Hugo sinalizou a importância da organização coletiva que aconteceu nesta edição. “Neste ano, nós do Enearte decidimos em plenária que deveríamos reativar um órgão muito importante para auxiliar os estudantes de arte (técnicos, profissionalizantes e universitários) que é o Fenearte (Federação Nacional dos estudantes de Artes). A dificuldade que tivemos de estrutura só fortaleceu que precisávamos nos organizar para que os cursos de artes ganhem mais respeito e relevância em suas universidades e na sua cidade”.

Diante dos encaminhamentos da situação política governamental, ele pontuou articulações prévias para a próxima edição. “Ficamos muito preocupados de como vai ser o XXIII Enearte na Paraíba, já que estamos vivendo um caos político, de incertezas e de como vai ser o país em 2019. Desde já estamos nos organizando para que o evento ganhe mais recursos e apoios”, adiantou.

Entraves burocráticos

O tema “Chega-te a mim – a arte em contato” apresenta uma proximidade entre as linguagens, e o que isto pode acrescentar no debate artístico em construção.  Para Maíra,  a organização dos locais, onde ocorriam os trabalhos, contribuiu neste quesito. “Quanto ao local em que as oficinas, mesas e apresentações ocorreram era possível transitar e criar diálogos entre áreas, umas vez que não havia pré-requisitos para participar das atividades e, muitas vezes, pessoas de outras áreas lançavam novas visões para os assuntos tratados”.

Já com relação à interação nos outros espaços, a estudante pontuou que a mudança na organização dos alojamentos não foi muito boa. “Esse ano, infelizmente, o alojamento não colaborou para isso, ao invés de ficarmos todos juntos no mesmo espaço, como normalmente acontece, acabamos ficando separados por delegações em salas separadas, diminuindo um pouco essa troca nacional entre artistas.”

Para Victor Hugo, o problema é a atenção que as universidades são aos cursos de artes. “Este ano o evento teve muitos problemas em sua organização física, por conta da resistência da UFPA em apoiar um evento de artes. A falta de estrutura física que a comissão organizadora teve para receber o evento acabou prejudicando muito a programação”, contou.

(Foto: Silvana Mendes)
(Foto: Silvana Mendes)

Apesar dos problemas em Belém, ele ressaltou o trabalho responsável de dois motoristas da UFBA. “Tivemos alguns problemas no diálogo com a UFBA, por exemplo, tivemos resposta do ônibus uma semana antes da data prevista de viagem que foi avisada dois meses antes. Gostaria de agradecer muito a Ailton e Domicio que foram os motoristas da UFBA, pela paciência e cuidado com toda delegação durante esses dois dias de viagem na estrada.”

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