Bamba deixou saudades

Beatriz Bulhões e Luiza Leão

A última segunda-feira amanheceu triste. Mahomed Bamba, professor universitário da Faculdade de Comunicação, faleceu devido à falência múltipla de órgãos, ocasionada por uma infecção generalizada. A sua paixão por cinema, seu jeito falastrão e seu sorriso cativante deixam saudades.

“A minha relação com ele era de proximidade, além de meu amigo era meu colega de trabalho”, conta Regina Gomes, professora da Facom que criou, em parceria com Bamba, o grupo Grim (Grupo de Pesquisa Recepção e Crítica da Imagem) em 2011.  Juntos, os dois já ministraram a disciplina Teorias e Metodologias e também desenvolveram diversos projetos no campo de recepção do cinema.

Leticia Moreira conheceu o professor em 2012, quando entrou no grupo de pesquisa. “Ele era uma pessoa incrível, pessoal e profissionalmente”, disse. Elogiou ainda sua inteligência e capacidade de falar sobre diversos assuntos. Inclusive, Bamba era conhecido por prolongar suas falas: “A  gente dava uma cortadinha pra ele saber que não ia poder prolongar até às sete horas da noite”, relembra.

Bamba estava orientando a doutoranda Amanda Aouad. “Ele era um dos poucos que sabia falar Aouad certo”, recorda. Apesar do pouco tempo como orientador e orientanda, ela lembra também do carinho especial que ele tinha por ela: “Bamba era uma pessoa apaixonada e apaixonante. O que eu posso dizer é que ele tinha essa energia e passava essa paixão. Ele gostava do cinema, de falar do cinema, de pensar no cinema”, conta.

Uma de suas alunas este semestre, Nathaly Gonçalves, se emocionou ao falar de seu antigo professor. “Eram quatro horas super agradáveis, foi a melhor matéria que eu peguei esse semestre. Infelizmente convivemos por um tempo breve”, disse. Ela lembra que após a greve, Bamba compartilhou com seus alunos que estava doente. “Quando ele falou do assunto eu senti que ele tinha pressa para resolver e queria iniciar logo o tratamento”, relata.

Desde que o seu falecimento foi anunciado, o clima de comoção tomou conta das redes sociais, e alunos e ex-alunos expressaram seus sentimentos pelo Facebook.  De todos que o conheceram ou que já o viram, sempre lembram do sorriso estampado em seu rosto, sua marca registrada.

Bamba nasceu na Costa do Marfim e começou a lecionar na Universidade Federal da Bahia em 2009. Dedicou seus últimos quatro anos de vida compartilhando seu interesse pelas artes visuais, ao lecionar a disciplina História do Cinema II e participar do Programa de Pós Graduação (PósCom).

Além disso, tem mestrado em linguística geral e semiótica pela Universidade de São Paulo e sua tese no doutorado em cinema e estética do audiovisual, na mesma universidade, resultou no livro “O Legível e O Visível No Cinema”.  O pesquisador era Graduado em Letras na Université Nationale d´Abidjan, em 1992, falava pelo menos quatro línguas e ensinou também na Universidade Estadual de Feira de Santana e na Faculdade 2 de Julho. Voltou para o Brasil em meados de fevereiro após fazer pós doutorado em Michigan, EUA.

O grupo Grim, do qual é cofundador, realizou um debate na quinta feira, 19. Devido a proximidade da data, e não havendo possibilidade de cancelamento, o evento foi dedicado a ele, com exibição de uma de suas ultimas entrevistas, no começo deste ano. A Facom decretou luto durante todo o dia de segunda e terça-feira, paralisando suas atividades em memória do professor, pesquisador e amigo.

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