Somos todos Ayotzinapa

Realizada pelo departamento espanhol do Instituto de Letras, a Vigília Informativa por Ayotzinapa discutiu o recente massacre em Iguala, México

Por João Bertonie

No dia 26 de setembro deste ano, na pequena cidade mexicana de Iguala, 74 estudantes da Escola Rural Normal de Ayotzinapa foram interceptados por carros da polícia, durante uma viagem de ônibus. O saldo dessa abordagem, que contou com a ajuda de civis armados, foi de seis mortos, 25 feridos e 43 desaparecidos. Essa tragédia norteou a discussão da Vigília Informativa por Ayotzinapa, evento promovido pelo departamento de espanhol do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (Ilufba), que ocorreu no Auditório Nadja Viana, no Pavilhão de Aulas Reitor Felipe Serpa, campus Ondina. O encontro foi mediado pela professora doutora Carla Dameane Pereira.

Tudo no Auditório Nadja Viana remetia aos 43 desaparecidos de Ayotzinapa. Em várias das cadeiras do ambiente foram colocados cartazes com fotos dos estudantes e uma flor branca. Nessas, ninguém se sentava. Os presentes, que ocuparam as cadeiras vagas, tiveram que conviver por algumas horas com a presença incômoda do espectro desses estudantes desaparecidos. Um deles, entretanto, não era mexicano: Davi Fiúza, adolescente baiano sumido há cerca de 30 dias, recebeu sua própria cadeira.

Somos todos Ayotzinapa
Fotos de João Bertonie.

Com a presença de vários membros da comunidade universitária, Carla Dameane se dedicou a falar sobre a história mexicana, dando especial atenção aos períodos de conflito do país da América Central. “Um dos casos notórios foi quando o governo declarou 20 mortes na Noite de Tlatelouco, quando na verdade mais de 400 foram executados”, disse a professora, referindo-se ao massacre da Praça das Três Culturas, na Cidade do México, que ocorreu em outubro de 1968, em ocasião dos Jogos Olímpicos daquele ano.

Um tópico importante abordado durante a conversa foram as ligações dos governos latinos com o narcotráfico. “Há muitos anos a América Central vem dizimando a sua juventude através de uma fachada de uma guerra do Estado contra o narcotráfico”, afirmou Carlos Alberto Bonfim, professor doutor do Instituto de Humanidades, Letras e Ciências Humanas (Ihac/Ufba) presente no encontro. No caso de Ayotzinapa, as autoridades mexicanas acreditam que o prefeito de Iguala, José Abarca Velázquez, é o provável pensante dos sequestros e assassinatos, por manter ligações com o tráfico de drogas.

ONDE ESTÁ DAVI?

Uma das presentes na Vigília era Camila Fiúza, irmã de Davi Fiúza, desaparecido recentemente. A estudante de jornalismo da UFBA expressou sua angústia por ainda não ter notícias do irmão, que, segundo ela e testemunhas, sumiu logo após ter sido abordado por policiais militares, no dia 24 de outubro, no bairro de São Cristóvão, na capital baiana. “A gente nunca acha que vai acontecer com a gente”, disse Camila, que também afirmou ter passado por uma série de dificuldades para pedir a investigação do caso. Para ela, o súbito desaparecimento do seu irmão só teve projeção por conta do apoio prestado pelos professores da sua faculdade.

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