Enecult abre as portas da Ufba para o mercado cultural

ENCONTRO Ufba sedia o XI Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura que acontecerá em agosto

Artur Mello com colaboração de Michelle Oliveira

Entre os dias 11 e 14 de agosto acontece o XI Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult), o maior evento de estudos em cultura realizado no Brasil. O evento, sediado na Universidade Federal da Bahia (Ufba), traz profissionais e pesquisadores em cultura, buscando integrar academia e prática.

A cerimônia de abertura será realizada pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, no dia 11 de agosto, a partir das 18h, no auditório da Faculdade de Arquitetura da Ufba. Com o intuito de atrair diferentes públicos, o evento traz novidades em sua programação deste ano. Três relatos de experiência, seis simpósios e oito minicursos foram criados para proporcionar o diálogo entre profissionais da cultura e a universidade.

Com esse novo formato, a coordenadora do Enecult, Renata Rocha, tem grandes expectativas. “Estou vendo uma mobilização maior para a participação e acredito que as novidades trazem um interesse mais segmentado”, comenta.

Além disso, Renata ressalta a importância do espaço que será disponibilizado para o lançamento de livros científicos na área cultural, que tenham sido publicados a partir de 2014.

“​Acreditamos que lançar livros no Encontro seja uma vitrine interessante para divulgação e intercâmbio da produção acadêmica, pois a circulação e distribuição da literatura científica, em geral, não acontece de forma tão intensa”, explica.

O Encontro será aberto ao público, no entanto, os eventos são sujeitos a lotação, pois a prioridade de participação é para aqueles que estiverem inscritos. Os participantes inscritos receberam um certificado, ao final do Enecult.

Programação

Entre os oito minicursos oferecidos, Consumo e Práticas Culturais, ministrado por Gisele Jordão (Espm/SP), tem como objetivo discutir e compreender as motivações do consumo das artes por parte dos brasileiros. Com o intuito de construir uma visão ampla sobre a forma como as pessoas se relacionam com a cultura artística no Brasil.

As sessões dos relatos de experiência trazem vivências de agentes culturais expressivos na sociedade. Um dos destaques da programação são os relatos da sessão Dissidências Sexuais e de Gênero: Ativismos em Arte e Comunicação, que traz o escritor Jota Mombaça e a administradora da página no Facebook, Travesti Reflexiva, Sofia Favero.

Já o relato Inovações Culturais, com o diretor do MAM/BA, Marcelo Rezende, e a diretora de projetos da Fábrica Cultural, Teresa Carvalho, pretende abordar a inovação na cultura. Serão utilizados como base, a experiência da III Bienal da Bahia, realizada no MAM, e a criação do Mercado Iaô, que reúne música, artesanato, gastronomia, entre outras artes, e a comunidade da Ribeira.

O relato Experiências Internacionais em Cultura, com a participação de Paulo Speller, secretário geral da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), irá abordar as experiências culturais internacionais.

Os simpósios terão expositores e debatedores que irão fomentar as discussões com o público participante. Artes e Cultura será um dos temas dos simpósios e contará com a participação da crítica de dança Helena Katz e do atual diretor do Teatro Vila Velha, Márcio Meirelles. Eles irão debater questões relacionadas à autonomia e à dependência das artes e da cultura na sociedade contemporânea.

O simpósio Acessibilidade Cultural irá proporcionar uma ampliação da percepção da acessibilidade para além da dimensão arquitetônica. Além de estimular a compreensão do tema para os artistas com deficiência e para o campo das políticas culturais. Será coordenado por Ana Rita Ferraz (Uefs) e contará com as presenças de Arnaldo Godoy (vereador de Belo Horizonte), Patrícia Dornelles (Ufrj) e Carlos Eduardo (Edu O  do Grupo X de Improvisação em Dança).

A presidente do Iphan, Jurema Machado, estará presente no simpósio Patrimônio Cultural Imaterial, que propõe uma discussão sobre questões que desafiam a sustentabilidade de projetos que protegem a guarda dos patrimônios imateriais. Em 2015, a legislação que criou o registro dos bens culturais de natureza imaterial no Brasil completa 15 anos.

A programação completa do XI Enecult pode ser acessada em: www.cult.ufba.br/enecult

ENTREVISTA Sofia Favero

A sergipana Sofia Favero Ricardo, de 21 anos, é estudante de psicologia e ficou nacionalmente conhecida com a sua página no Facebook, Travesti Reflexiva, que teve início em 2012. Hoje, com mais de 150 mil curtidas, Sofia é uma referência para as pessoas trans, além de ser a vice-presidente da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis, a Amosertrans.

A TARDE – Quando você inciou o projeto da Travesti Reflexiva, qual era a sua ideia? A proposta da página se mantém a mesma?

SOFIA FAVERO – A ideia era produzir um conteúdo humorístico e trabalhar questões cotidianas em uma perspectiva informal. Eu não poderia dizer que os traços de humos se perderam ao longo desses anos, mas a página adquiriu uma maturidade. Na verdade, eu adquiri e repassei para o meu trabalho.

A TARDE – Como percebe que sua página tem sido importante na luta pelo respeito às travestis e transexuais e como entende o seu papel na luta pela visibilidade trans?

SOFIA FAVERO – Acredito que até hoje não sei a dimensão do acesso que a página tem na vida das pessoas. Normalmente, é sempre um choque quando alguém me reconhece na rua ou quando sou citada como referência. É um trabalho de formiguinha. Eu tento fazer uma pequena parte e espero que outras pessoas compartilhem dessas ideias, o que não quer dizer que a minha perspectiva é a certa, só quer dizer que eu estou buscando uma solução.

A TARDE – Qual o papel da Travesti Reflexiva na luta contra a Transfobia?

SOFIA FAVERO – Esse papel, e isso falo com propriedade, é abrangente. Recentemente, postei sobre a importância da não utilização do termo “traveco” e mais de 246 mil pessoas visualizaram. O que é, para uma mídia alternativa, um grande alcance.

A TARDE – Na sua página, há postagens sobre o debate de gêneros na escola. O que falta, na sua opinião, para que esse debate comece a ser feito com uma maior frequência e de maneira efetiva?

SOFIA FAVERO – Não há uma fórmula pronta. Seria irresponsável da minha parte propor um modelo de dinâmica, atividade ou palestras. Os conceitos de gênero e sexualidade são transversais, isso quer dizer que eles devem dialogar com a grade fixa, não somente atravessá-la. Acredito que falta contextualizar cada situação, por exemplo: costumeiramente acredita-se que a resolução para a homofobia, que só aparenta ser visível quando há um aluno gay na escola, é expor filmes, seminários, materiais voltados para a conscientização, etc. Quando, na minha visão, isso reforça a mira na criança ou no adolescente. (Re)torna-o um alvo, o corpo estranho.

A TARDE – O que representa a oportunidade de abordar sua experiência em um evento como o Enecult, com reconhecimento nacional?

SOFIA FAVERO – Mais um pequeno passo rumo à doutrinação trans!

A Tarde Enecult
Matéria publicada no Jornal A Tarde em 21 de julho de 2015.

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