Vídeodança em Stop Motion é objeto de pesquisa na Ufba

Por Ítalo Cerqueira*

 

Largamente conhecido como uma técnica cinematográfica para montar um longa-metragem de animação com personagens feitos de massinha, o stop motion requer que os objetos de um filme sejam fotografados quadro a quadro, os quais serão, em um momento posterior, editados e montados, para que o resultado dê uma sensação de um movimento fluído.

Entretanto, o trabalho em questão não se utilizou de massinhas, mas sim da própria realidade, cujo propósito é o de observar como são as modificações das percepções do corpo circunscrito no mundo ao seu redor, quando neste é acrescido de artefatos culturais. O resultado disto tudo foi uma interessante videodança, desenvolvida pela mestranda da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luna Dias, como projeto para elaboração do trabalho de conclusão da disciplina Prática Solísta.

Takatatá

takatata_0Em 2009, Luna Dias despertou seu interesse por trabalhar com videodança, momento em que ela filmou um projeto denominado Takatatá, o qual foi pensando juntamente com Karina Leiro como trabalho final da disciplina Laboratório de Criação II.

Responsável por elaborar a proposta, baseada, principalmente, em suas inquietações sobre a dança flamenca e do seu levantamento feito por ela sobre o assunto iniciado desde 2005, Luna Dias lembra que Leiro disse que tais inquietações envolvem a questão de como ela pode atender à demanda de desenvolver uma pesquisa em dança “contemporânea” sendo bailarina de danças tradicionais e trazendo no corpo esses códigos dos quais não seria possível ela se dissociar, e como esses códigos poderiam servir de ferramenta para essa pesquisa em dança que ela desenvolveu.

De acordo com Luna Dias sua participação na elaboração da videodança “foi, principalmente, na filmagem, onde tive contato direto com a direção de fotografia do vídeo. Por termos atingido um resultado reconhecido após a finalização do vídeo, percebi, em mim, um grande interesse em continuar pesquisando, produzindo e relacionando a dança com a tela”, diz.

Foi a partir de então, que ela despertou o desejo de experimentar a dança aplicada à linguagem do vídeo. Para conferir o resultado do trabalho, acesse o youtube.

Projeto

Os artefatos culturais são produzidos pelo homem, estes se caracterizam como portadores de informações sobre quem os usa e sobre quem os produziu.  Por isso, dois artefatos culturais foram escolhidos para a execução do vídeo: os óculos e o salto alto, cuja escolha se deu por conta destes serem encarados por Luna como prolongamentos do corpo, tal característica se deve ao seu uso direto na estrutura física corporal.

Em relação aos óculos, lentes de diferentes cores e graus foram colocadas em frente à câmera, com o intuito de modificar a imagem capturada pelas lentes durante a realização de um movimento.

Com o salto alto, foram usadas imagens de pés com e sem o salto em solos de diferentes naturezas, como a grama, areia e cimento. Desta forma, é possível analisar o comportamento corpóreo e como ele consegue se equilibrar ao usar o salto alto.

Stop motion

Técnica cinematográfica, que consiste em fotografar e montar sequências fotográficas de uma determinada cena. São necessários 24 fotogramas por segundo para se criar a ilusão de que o objeto em cena esteja em movimento.

Luna Dias conta o porquê da escolha desta técnica cinematográfica para compor sua pesquisa em videodança. De acordo com ela: “a técnica do Stop Motion foi uma escolha, uma maneira de realizar a ideia para a videodança. A escolha dessa técnica se deu pelo fato de possibilitar experimentações de ação do objeto cênico (sapato), de modo que ele tenha o foco das movimentações nas cenas da videodança”. Além disso, Dias revela o quão trabalhoso é produzir um vídeo em stop motion, para ela o trabalho é árduo “tanto para quem está tirando as fotos quanto para quem está na cena. Exige cálculo de distância e controle corporal, pois a movimentação é sempre fragmentada. Além do mais, o vídeo tem 2 minutos e cerca de 700 fotos, porém quando fazemos o que gostamos, o trabalho é prazeroso”, afirma.

O resultado do trabalho foi a videodança intitulada Só no Sapatinho, confira no youtube.

Tanto Só no Sapatinho quanto Takatatá já participaram de mostras de videodança em diversos estados.

Futuro

Projetos posteriores na área de videodança estão dentro dos planos da carreira de Luna Dias como dançarina. Ela tem buscado aperfeiçoamento na área com participações em oficinas de vídeo e cinema, com isso ela pretende se familiarizar ainda mais com a linguagem e equipamentos do vídeo.

“Recentemente fui selecionada para uma residência artística de videodança em Brasília onde, em conjunto, foi produzido uma videodança no prazo de uma semana de atividade, sob a organização da diretora e dançarina do grupo de dança Margaridas, Laura Virgínia”, conclui.

*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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