Ângela Tahara fala sobre a publicação “Ivete Oliveira- Ícone da Enfermagem Brasileira”

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Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de Tokyo, membro da Academia Brasileira de História da Enfermagem (ABRADHENF) e atualmente é docente associada da UFBA, Ângela Tamiko Sato Tahara, fala sobre o livro histórico-biográfico Ivete Oliveira- ícone da Enfermagem Brasileira, lançando pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

 

 

 

 

por Itamar Ferreira

A obra Ivete Oliveira- Ícone da Enfermagem Brasileira conta a trajetória acadêmica e profissional de Maria Ivete Ribeiro de Oliveira, primeira mulher a assumir um cargo na administração publica do estado da Bahia. A biografia foi organizada por Ângela Tahara, Taka Oguisso, Hyeda Maria da Gama Rigaud, membros da Academia Brasileira de História da Enfermagem (ABRADHENF), e pelo ex-governador do estado e reitor da UFBA no período em que Ivete Oliveira foi diretora da Escola de Enfermagem, Roberto Figueira Santos. O lançamento acontece no dia 08 de maio (terça) às 19h, na sala dos Conselhos Superiores na Reitoria da UFBA e contará com a presença do senhor Roberto Santos e da atual reitora da UFBA, Dora Leal Rosa. Ambos farão discurso em homenagem a Ivete.

Confira a entrevista com Ângela Tamiko Sato Tahara, além de organizadoras da publicação, foi amiga de Ivete Oliveira.

 

Agenda Arte e Cultura: Qual foi o principal motivo para se pensar em editar um livro histórico-biográfico sobre Ivete Oliveira?

Ângela Tahara: A ideia surgiu em 1996 por ocasião da indicação do nome da professora Maria Ivete Ribeiro de Oliveira para receber o Título de Professor Emérito da UFBA. Nessa oportunidade, foi iniciado o trabalho de resgatar a história de vida dessa ilustre baiana. Não tínhamos ainda ideia da dimensão do conteúdo a resgatar. Deparamos com um imenso arquivo de documentos, incluindo fotografias, discursos, textos, rascunhos de livros, artigos para publicação, pesquisas, atas, relatórios e cartas. Era um grande arsenal de riquíssimo material pronto para quem quisesse fazer pesquisa histórica. No entanto, Ivete era muito modesta e discreta, dizia que não queria que fosse escrito um livro sobre ela porque ainda havia muitas missões a cumprir. Por isso, naquela ocasião, foi organizado um relatório simples e resumido, destinado apenas a justificar a concessão da titulação pela universidade. Assim, em 14 de maio de 1998, foi lhe outorgado o título de Professor Emérito da UFBA. Depois desse fato, Ivete continuou trabalhando da mesma forma e com a mesma intensidade, assessorando o desenvolvimento das atividades do Banco da Mulher. Destaque-se que pequena parte desse acervo foi, de fato, utilizada para fundamentar o conteúdo desse livro, a ser lançado pela UFBA. Trata-se, pois de um livro de História da Enfermagem, conforme vivido pela personagem baiana e não de um livro de homenagens, ainda que ela mereça ser homenageada.

 

Agenda: A morte de Ivete em 2003 intensificou o desejo de lançar um livro sobre sua história?

Tahara: Ela faleceu em 2003 deixando uma grande lacuna, porém seu exemplo de vida e trabalho constitui modelo de inspiração para todos os que ficaram. Em 2006, por ocasião da comemoração dos 60 anos de criação da Escola de Enfermagem da UFBA (1946-2006), uma comissão de colegas que conviveram com a professora se reuniu para redigir uma breve trajetória da EEUFBA, que coincidia com a história da Ivete, por ter sido aluna da primeira turma da Escola. Essa história foi descrita e divulgada nas revistas, nos encontros e seminários Internacionais. Na mesma época, na reunião do Conselho Universitário, o reitor da UFBA solicitou a todos os conselheiros que apresentassem a trajetória de cada unidade universitária, pois seria editado um livro para comemoração dos 60 anos da UFBA,  o UFBA do século XIX ao Século XXI, publicado pela Editora dessa Universidade. Ainda na mesma ocasião (2006), houve solicitação de familiares de Ivete para que se documentasse e registrasse os feitos dela, dando assim continuidade ao trabalho iniciado dez anos antes, em 1996. Da ideia à execução surgiu esse livro Ivete Oliveira – ícone da Enfermagem brasileira a ser lançado na noite de 8 de maio de 2012, na Reitoria da Universidade.  Assim, a ideia de descrever a trajetória de vida da professora Ivete tem uma história que foi se consolidando aos poucos. Foi a soma de esforços de amigos baianos, docentes e colaboradores que trabalharam junto com ela nos diferentes órgãos, compartilhando esforços na luta para o alcance dos objetivos almejados, assim como de colegas que buscaram através de entidades de classe a ampliação do espaço da enfermagem brasileira na sociedade. Todos eles, juntamente com familiares, endossaram esse trabalho para deixar registrados em um livro os fatos e dados mais significativos da vida dessa ilustre enfermeira, que engrandeceu a Bahia e serve de inspiração para os jovens da atual geração e das futuras gerações.

 

Agenda: Quais feitos de Ivete Oliveira podemos destacar como profissional e mulher nos anos de 1970 que a fizeram ocupar a Secretária de Estado no governo Roberto Santos?

Tahara: Sem dúvida, acreditamos que ela tenha se destacado pelas suas qualidades de liderança nata e imensa capacidade de trabalho, aglutinando grupos e pessoas ao seu redor no intuito de realizar trabalhos que o tirocínio de Ivete ia descobrindo e alargando.  Temos certeza que o próprio governador, na época, pôde desfrutar do sucesso que Ivete, como Secretária de Estado, soube granjear.

 

Agenda: E a sua trajetória no âmbito acadêmico, como professora e Adjunta do Reitor para Assuntos de Ensino, Pesquisa e Extensão na UFBA?

Tahara: O seu trabalho como Adjunta do Reitor (1967-1975) demonstrou sua operosidade e iniciativas para o desempenho de sua missão. Sua experiência anterior como chefe de unidade de internação do Hospital Universitário, docente e diretora da Escola de Enfermagem também contribuíram para que pudesse realizar seu trabalho com tanto êxito. Note-se que nessa época ocorria a Reforma Universitária, determinada pela Lei 5540/68 que deveria ser obrigatoriamente implementada em todo o sistema de ensino universitário. Foram as iniciativas de Ivete que ajudaram nesse processo desenvolvido pela Universidade como um todo e que alcançaram os objetivos propostos.

 

Agenda: No cargo de presidente do Banco Mundial da Mulher na Bahia, como Ivete Oliveira introduziu a mulher baiana na produção econômica e social do estado?

Tahara: Uma das últimas atividades profissionais na vida de Maria Ivete ocorreu no campo da prestação de serviços voluntários à comunidade. Iniciou como membro da Junta Administrativa da Associação Comercial da Bahia – ACB –, participando também do Conselho Diretor dessa Associação. Por iniciativa do Conselho da Mulher Executiva da ACB, foi criado o Banco da Mulher-Bahia, tendo Maria Ivete como sua primeira presidente de 1989 a 2003, que o administrou e supervisionou, desenvolvendo um trabalho voluntário, que logo foi reconhecido como entidade de utilidade pública municipal, estadual e federal. Em seguida, foi habilitado para o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado – PNMPO, do Ministério do Trabalho, nos termos da Lei 11.110, de 25-04-2005. A partir de 2001, o Banco da Mulher-Bahia, transformou-se em Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP. Nessa oportunidade, atendendo solicitação do Banco da Mulher (Nacional), o Banco da Mulher-Bahia fez uma revisão do seu estatuto e foi transformado em Associação para o Desenvolvimento da Mulher do Estado da Bahia – Banco da Mulher-BA, com CGC, atual CNPJ próprio. O Banco da Mulher-BA iniciou suas atividades no nordeste de Salvador, no bairro de Amaralina, onde se encontrava uma grande concentração de mulheres empreendedoras de baixa renda. Inicialmente, foi utilizada uma metodologia experimental com empréstimos a grupos solidários. Só depois os empréstimos passaram a ser individuais. Desde sua criação, o Banco da Mulher-BA trabalhava com recursos sucessivamente advindos das fundações e outros Bancos, mantendo parceria e apoio mútuo com várias instituições, tais como: Associação Comercial da Bahia, Instituto Miguel Calmon, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Faculdade Ruy Barbosa e Planet Finance. Posteriormente, firmou convênio com o Governo do Estado da Bahia para desenvolvimento de projetos sobre geração de emprego e renda nas comunidades assistidas pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) com financiamento da Agência de Fomento do Estado da Bahia – CONDER/DESENBAHIA. Tinha por objetivo atuar no Projeto Viver Melhor, inicialmente nas comunidades de Bate Facho e Vila Nova Pituaçú. Em seguida, atuou nas comunidades de Sussuaruna, Saboeiro, Dique do Cabrito, Costa Azul, Jardim das Margaridas, Itapuã, Roberto Santos, Pelourinho e Pilar.

Agenda: Durante sua gestão no Setrabes (governo estadual), quais foram os feitos de Ivete?

Tahara: Entre outras realizações, é necessário que se reconheça a relevância dos Centros Sociais Urbanos (CSU) no programa de Desenvolvimento Comunitário, que se destinava a enfrentar problemas de desagregação social e comunitária que existiam nos grandes centros sociais urbanos. Ivete tratou de desenvolver essas comunidades e fazer promoção social da população de baixa renda residente em áreas carentes de recursos, nas grandes e médias cidades. A Setrabes era a unidade do governo responsável mais diretamente pela promoção de medidas com vistas à melhoria do nível de vida e a uma participação maior da população nos benefícios trazidos pelo desenvolvimento. Ela mesma tratou de superar todos os desafios e obstáculos que se interpuseram ao longo das várias fases do desenvolvimento, obtendo total apoio do governador Roberto Santos. Criou a Fundação Baiana para o Trabalho, fundou 33 Centros Sociais Urbanos por todo o Estado, fortaleceu o Instituto de Artesanato Visconde de Mauá, criado em 1923, para impulsionar a confecção de artesanato em domicilio pelos artesãos, revitalizou cooperativas, promoveu a realização de feiras e criou programas de apoio às microunidades de produção e suplementação alimentar, inclusive do pré-escolar. Com tudo isso, Ivete deu nova envergadura, visibilidade e grande projeção social à Secretaria, pois em seu mandato, o orçamento cresceu em 1340%, além de outros recursos recebidos em convênios com diversos órgãos federais, regionais e estaduais.

Agenda: Qual o maior legado deixado por Ivete Oliveira para a sociedade, e em especial para mulher?

Tahara: Cremos que não existe um legado, no singular, mas um conjunto de obras que confirmou ser possível que uma mulher aparentemente frágil por problemas graves de saúde pode ser capaz de realizar. Vontade férrea, inteligência invulgar, liderança firme, tenacidade inquebrantável, espírito de justiça e solidariedade fizeram dela a figura forte à frente do seu tempo. Deixou o exemplo de mulher forte, capaz, persistente e, ao mesmo tempo, serena, tranquila e pacificadora. Cremos que esse exemplo de vida pode ser considerado o maior legado que Ivete deixou para toda a sociedade e, especialmente, para nós, mulheres e trabalhadoras de todos os matizes, para enfermeiros de norte ao sul do Brasil e, também a todas as categorias de enfermagem, pois ela sempre valorizou todos os membros da equipe de enfermagem.

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