Na Cena: documentário conta história de drag queens das residências universitárias da UFBA

Documentário faz parte de projeto que começou como uma exposição de fotografias

Por Rafaela Dultra

A história de drag queens nascidas nas residências universitárias da UFBA é apresentada no documentário “Na cena: Muito mais que se montar”. Nas telas, Ricardo Andrade é Mila Kokaev, Noan Santos é Tereza Skyper e Gabriel Victor Nunes é Maria Gabriela.  O objetivo do projeto é abordar sobre cultura drag nas universidades e como esses corpos políticos produzem arte dentro desse espaço.

A exposição tem direção de Igor Moura, estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes e fotos assinadas por  Rodrigo dos Santos, estudante de Ciências Sociais. Segundo eles, o conteúdo do documentário é um processo criativo das drags e a interferência por parte dos autores é mínima. A ideia do projeto é apresentar as drags e sua história. “Elas apresentaram o seu estado artístico, e nós apenas transformamos isso em um documentário e fotos”, explica Igor.

O projeto foi submetido na plataforma da Rede Logos para o financiamento, e também foi realizada como atividade da disciplina COM 136 – Planejamento e Elaboração de Projetos Culturais, do professor Adriano Sampaio.

A primeira exibição do projeto foi nesta terça-feira (10), na Sala de Arte da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e contou com uma roda de conversa e um brechó para as drags. Outros dois encontros vão acontecer no dia 14, às 20h, no Bar das Lilths, na Casa de Artes Sustentáveis, e dia 21, também às 20h, na Residência Universitária, no Corredor da Vitória.   

Estar na cena
De acordo com  os autores, o projeto busca dialogar com aqueles que possuem uma compreensão restrita sobre a definição de arte. A diversidade sexual, de gênero e de comportamento é expressada na obra como objeto de reflexão e aprendizado: “Existe um sistema de aprendizado que é o da interação. Muitas pessoas vêm do interior e não têm contato com esses corpos políticos que se expressam. Queremos mostrar que isso não é assustador”, explica Rodrigo.

O título da exposição também pretende desmistificar um estigma acerca das drag queens. Apesar de se tratar de uma performance artística, e não uma identidade de gênero, essa cultura ainda é marginalizada e incompreendida, segundo os estudantes.

“É preciso entender que drag queen não é só se montar. Esse indivíduo está produzindo algo desde bem antes de estar em cima do palco, de estar na cena”, defende o diretor.

É arte, sim
As narrativas retratadas no documentário estão inseridas no contexto de residência universitária – espaço que é caracterizado pelos autores como precário e, ao mesmo tempo, rico e impactante. Segundo eles, embora a assistência estudantil e o estado físico das residências sejam deficientes, existe uma pluralidade de conhecimento e de fazeres dentro desse espaço. “É uma situação de vulnerabilidade social e de encontro de mundos”, acreditam.  

O documentário também foca na importância da arte em um cenário de instabilidade política. Para Rodrigo, além de a arte ser um instrumento de descontração, ela abre espaço para sujeitos políticos se mostrarem e produzirem cultura engajada e representativa. “São residentes universitários, geralmente de  perfil socioeconômico baixo, que superam a barreira de entender que estão produzindo arte, sim”.

Visibilidade drag queen
A cena cultural drag queen ainda é voltada para si, mas está começando a alcançar outros públicos. “A visibilidade drag está muito maior hoje em dia”, garantem os dois. Os próprios autores servem para exemplificar o aumento da inclusão desse tipo de arte pelo fato de o projeto ter nascido por curiosidade pessoal e tentativa de compreensão Nós não performamos uma drag. Somos essas pessoas que estão fora da cena e estão olhando para dentro dela”

Apesar de haver maior visibilidade, a arte drag ainda enfrenta preconceitos e dificuldades de ser aceita, não só dentro da universidade, mas também na cidade como um todo. “Produzir arte em Salvador já é complicado. Quando se trata de corpos LGBT que estão sendo marginalizados a todo momento é mais complicado ainda”, afirmam os estudantes ao criticar a discriminação na cena cultural soteropolitana.

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