Encontro discute gênero e raça na Facom

O evento contou com convidadas que relataram suas vivências e perspectivas sobre o tema em dois dias de atividades    

Por Greice Mara

Na tarde da última segunda-feira (07) aconteceu o primeiro dia  do I Encontro Antonieta de Barros de Mulheres da Facom. A mesa “Gênero e raça: interseções e modos de agir” contou com a participação de Raquel Franco, estudante de Produção Cultural e Samira Soares, feminista negra e integrante da organização da Marcha do Empoderamento Crespo e estudante do Bacharelado Interdisciplinar de Humanidades.

Entre os temas levantados pelas convidadas, vale ressaltar a discussão sobre o feminismo interseccional, que trouxe referências de grandes nomes do feminismo, sobretudo o negro, e das questões sobre o racismo dentro do espaço acadêmico. As convidadas ressaltaram a importância de um feminismo que respeite as diferenças – sociais, em termos de sexualidade e raça – entre as mulheres. Para Samira Soares, que se considera uma feminista interseccional, essa perspectiva é importante para que essa movimentação de entender que o feminismo não acolhe uma única mulher, uma mulher universal.

Para ela, grandes nomes do feminismo negro como Angela Davis, Bell Hooks e Patricia Hill Collins “conseguiram compreender que a nossa vida enquanto mulher é estruturada pelos marcadores sociais”. Para a estudante, é importante que cada mulher possa, através de suas vivências,  auxiliar uma a outra e respeitando respeitando os marcadores sociais aos quais estão submetidas.

Durante o debate, Raquel Franco levantou a questão do negro na universidade. Ela, que veio de Brasília para cursar Produção Cultural, lembrou que há uma maioria branca nas universidades e relatou a primeira impressão que teve ao chegar na Facom. “Quando eu cheguei aqui foi muito difícil. Porque a gente chega em uma faculdade na maior cidade negra fora da África e é impressionante quando você vê que é igual a todas as outras federais de outros estados e isso me entristeceu muito inicialmente”. Entretanto, a estudante ressaltou a importância de os negros de ocupar e resistir no espaço da Universidade.

Participantes compartilharam impressões em mural disponibilização pela organização do evento / Foto: Greice Mara
Participantes compartilharam impressões em mural disponibilização pela organização do evento / Foto: Greice Mara

Para Lyane Menezes, estudante do 4° semestre de Jornalismo, a importância da realização de uma mesa de debates que tem as questões da mulher negra como pauta se dá pelo fato de a Facom ter uma maioria branca, de classe média e com uma série de privilégios que os negros não têm. “Então a gente tem mesmo é que se unir para fazer essa frente de enfrentamento contra essa galera que está oprimindo a gente em todos os espaços dessa instituição”, afirmou a estudante, que conta também ter saído ainda mais fortalecida para permanecer na universidade após o debate.

O evento contou também com a presença de Annandra Lís, estudante do primeiro semestre de jornalismo na UFBA. Ela fez a leitura de uma poesia de sua autoria, intitulada “Sina” e de “Mulata Exportação” de Elisa Lucinda. A poetisa aproveitou para ressaltar a importância da poesia. “Aprendi que a minha poesia é uma arma e, por mais que seja sutil, tem um papel motivador, tem uma força muito grande e a partir disso eu escrevo sobre a minha realidade como mulher interiorana, preta na universidade.”

Ao final da atividade, ocorreu uma oficina de turbantes com Valdiele Lima, da Ayabá Africanidades.

Na terça, 8, as convidadas foram Daiane Rosário, produtora e realizadora audiovisual, formada em Cinema e Audiovisual pela UFBA; Val Benvindo, jornalista formada pela Facom, produtora cultural do bloco afro Ilê Aiyê; e Vania Dias, jornalista e apresentadora do Soterópolis (TVE). Que se reuniram na mesa “A Mulher na Universidade e na Comunicação”.

O I Encontro Antonieta de Barros de Mulheres da Facom trata-se de uma iniciativa inteiramente estudantil, tomada pelas estudantes Glenda Dantas, Laila Nery, Tainã Souza, Rebeca Almeida e Mariana Gomes. O nome do Encontro, “Antonieta de Barros”, é em alusão à jornalista, educadora e primeira deputada negra no Brasil, pioneira no combate à discriminação contra negros e mulheres no Brasil.

 

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