Fabíola Aquino estreia Água de Meninos – A Feira do Cinema Novo

Logo Água*Por Ítalo Cerqueira

As condições de vida da sociedade baiana da década de 1960 e a Feira de Água de Meninos são os fios condutores dos filmes Sol Sobre a Lama (1962) e A Grande Feira (1961), rememorados no atual documentário Água de Meninos – A Feira do Cinema Novo. A nova produção estreia nesta segunda-feira (11/06), às 20h, no Cine Cena Unijorge e, na terça-feira (12/06), no Galpão Água de Meninos, em duas sessões, às 18h 30 e às 20h. A direção é de Fabíola Aquino.

O documentário

Palma Neto e Álvaro Queiroz, produtores de Sol sobre a Lama, estavam decididos em fazer o filme para retratar a realidade na Feira de Água de Meninos, pois o filme de Roberto Pires, A Grande Feira, não conseguia retratar a verdadeira luta da população local. “Estes produtores iriam proporcionar um olhar de dentro da problemática da feira, pois eles eram feirantes bem sucedidos e que apostaram e investiram em uma grande produção cinematográfica”, destaca a diretora. Fabíola Aquino ainda lamenta o fato de que a obra é desconhecida pela grande parte do público, devido a brigas entre a direção e os produtores, o que ocasionou na inviabilidade da exibição de Sol sobre a Lama em circuito comercial. “Essas histórias dos bastidores do Cinema Novo na Bahia são narradas em Água de Meninos pelos poucos que ainda estão entre nós e que viveram a efervescência cultural dos anos 60”, ressalta.

Com os depoimentos de Antônio Pitanga, Álvaro Queiroz, Mateus Aleluia, Nilson Mendes, dentre outros, o documentário retrata as situações vividas pelos feirantes do local, ao mesmo tempo em que todos esperam com esperança a ampliação e revitalização da considerada maior feira livre do estado. “As motivações para construirmos esse documentário vão além da metalinguagem inspiradora, pois o que propomos diz respeito ao direito de trabalho digno de todos estes comerciantes que há muitas décadas buscam melhores condições de vida”, frisa Aquino.

A antiga Feira de Água de Meninos e a atual Feira de São Joaquim são lugares que representam a forças dos modos de vidas do povo baiano. A cineasta explica que “na feira se aprende que as trocas vão muito além das econômicas, coisa que o chamado mercado do mundo capitalista não consegue enxergar, ou melhor, pretende sempre destruir”. A área onde se encontra a Feira de São Joaquim, a Baía de Todos os Santos sofreu pressões advindas de interesses pela ocupação do local, ameaçando a permanência da feira.

A experiência

Há três anos, para formatar o projeto, a diretora viu a necessidade de deixar muita coisa de fora do documentário para que a construção do argumento coubesse na proposta orçamentária. Além disso, na etapa de filmagens, muita novidade surgiu, consequentemente, mais assuntos tiveram de deixar o projeto. “Essa lógica é a marca do fazer documentário, pois mesmo na montagem houve entrevistas que não entraram na edição final por conta de como o roteiro definitivo foi se delineando até chegar ao filme de 52 minutos”, explica a cineasta. “Tudo era demasiado revelador e instigante”, vislumbra.

Antes de Água de Meninos – A Feira do Cinema Novo, Fabíola Aquino dirigiu alguns curtas, contudo, para projetos futuros, revela a intenção de produzir um novo documentário, desta vez sobre a sua cidade natal. A metragem ainda não foi definida, porém ele já tem um título: “Caculé, o quilombo de um homem só”.

 

Cinema baiano

Em seu blog, o professor André Setaro explica que na época da estreia de Sol sobre a lama, o filme atingiu um grande sucesso de bilheteria. O professor ainda afirma que “ao contrário dos dias atuais, quando um filme baiano interessa apenas a um pequeno círculo, a província da Bahia compareceu em peso para ver as vistas de sua cidade, os problemas de seu povo, os artistas locais”.

Para Aquino, a pequena parcela que mantém interesse pelo que é produzido aqui no estado está ligada diretamente à pouca penetração que esse tipo de produção possui na grande mídia, isso se comparado aos “blockbusters”, produções de grande apelo no mercado. “Temos que seguir persistindo em um trabalho de aproximação entre nosso produto e o público, e esse contato nem sempre passa pelos meios de comunicação de massa majoritários”, frisa.

Fabíola ainda ressalta a importância em se buscar formas alternativas que possam aproximar o público de trabalhos “independentes”, que não contam com as empresas distribuidoras. “Nosso filme mergulha no passado para pensar o presente e toda vez que esse esforço se manifesta criamos uma egrégora que nos aproxima de nossa identidade. Sou uma utópica, mas é assim que gosto de pensar a vida”, finaliza.

Devido ao formato de 52 minutos e por não possuir distribuidora, o documentário não será apresentado em circuitos de exibição. Contudo, para se atingir um número maior possível de interessados, a produção já está agendando exibir em centros de cultura no Estado, além de buscar a exibição em festivais e mostras de cinema, emissoras de TV e, futuramente, disponibilizá-lo na internet.

Serviço

O quê: Lançamento do documentário Água de Meninos – A Feira do Cinema Novo

Quando: dias 11 e 12 de junho

Onde: Cine Cena Unijorge, no Shopping Itaigara, às 20h (segunda-feira, 11/06); e Feira de São Joaquim, no Galpão Água de Meninos, às 18h30 e 20h (terça-feira, 12/06)

Quanto: Entrada franca

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