Fórum relembra momentos e fatos da ditadura militar no Brasil

*Por Natácia Guimarães | Fotos Dudu Assunção

Na noite de segunda feira, dia 24 de março, quem foi até o Teatro Castro Alves percebeu que o clima do lugar estava diferente. Lá estava ocorrendo o III encontro do Fórum do pensamento crítico com o tema Autoritarismo e Democracia – a programação aconteceu dos dias 24 a 28 de março. O evento  evento buscou  lembrar e debater o Golpe de militar que ocorreu em 1964 e que completa, no dia primeiro de abril, 50 anos.

“Os comunistas! Os comunistas! “.  Entoando a música de Caetano Veloso, poemas de Marighela, um grupo  do Levante Popular da Juventude fez uma intervenção na porta do evento antes de ser iniciado o debate. A intervenção chamou a atenção do público e iniciou a sensação de “revolta” com a lembrança dos anos de chumbo. “Somos um movimento de juventude. Usamos os métodos de escracho. Método chileno e argentino que tem o hábito de ir na casa dos torturadores das ditaduras pra denunciar a sociedade que ali mora alguém que está impune. Essa intervenção tem como objetivo lembrar heróis do povo que foram esquecidos, propositadamente, pela história”, esclareceu Jamile, Estudante de Geofísica da UFBA e integrante do movimento.

O público, diversificado na faixa etária – idosos, jovens, militantes, ex-militantes, políticos e outros representantes da sociedade civil – parecia todo interessado em debater, saber mais ou em relembrar os anos do regime autocrático. “O Fórum do pensamento critico é um momento privilegiado para refletir não só sobre o passado, mas também sobre o nosso futuro. O tema da ditadura não é apenas uma questão de história no sentido de passado, mas  de história que estamos construindo e temos que enfrentar ainda vários resquícios ditatoriais presentes em nossas instituições. O Fórum é um importante momento de reflexão”, disse o professor de Filosofia e diretor da Faculdade de Filosofia da UFBA, João Carlos Salles.

Jaques Wagner, governador da Bahia, foi um dos convidados para a abertura do Fórum.
Jaques Wagner, governador da Bahia, foi um dos convidados para a abertura do Fórum.
A Reitora Dora Leal Rosa.
A Reitora Dora Leal Rosa.

O evento foi iniciado com uma mesa institucional que contou com a participação do Governador da Bahia, Jaques Wagner, a Magnífica Reitora da UFBA Dora Leal Rosa, entre outros participantes. Cada um contou um pouco do momento que a ditadura representou nas suas vidas. A neta do militante político Carlos Marighela estava na plateia e foi chamada ao palco logo após uma intervenção em homenagem ao Avô. Na sua fala, emocionada disse: “Era uma ditadura violenta, sangrenta, nefasta. Ele não se acovardou, lutou e por cinco anos foi cassado, tratado como inimigo número 1 da ditadura militar. Sua morte foi tratada como morte de um terrorista. Marighela morreu, mas todos os homens e mulheres que sonham não morrem, todos os homens e mulheres que pensam não morrem. Marighela vive”, declarou Maria Marighela.

Neta de Marighela, Maria deu sua palavra em apoio aos jovens que lutaram contra a ditatura militar.  "Marighela vive"
Neta de Marighela, Maria deu sua palavra em apoio aos jovens que lutaram contra a ditatura militar.
“Marighela vive”

A primeira mesa  de debate, com o título “O que possibilitou o autoritarismo (golpe civil/militar) em 1964 no Brasil” foi composta pelo ex- governador da Bahia, Waldir Pires, além de Clodomir Morais, Juarez Guimarães e Eliana Rolemberg. A diretora da Fundação Pedro Calmon, realizadora do evento, Fátima Fróes disse que  a escolha dos convidados foi  proposital para que os debates fossem plurais e com várias perspectivas. Cada palestrante falou um pouco da relação com os anos de autoritarismo no Brasil. Waldir Pires contou sua história em 1964, quando era consultor-geral da República, militante político, anistiado político. Eliana, última palestrante a se apresentar emocionou a plateia ao contar a sua história de vida e relatar alguma das torturas que existiam na época.

O evento lembra o momento de autoritarismo onde a população brasileira “se viu extinta” de qualquer direito civil. No ano do Golpe de 1964, o governo era de Jânio Quadros e a situação interna estava complicada. A crise econômica assolava o país e era comum a ocorrência de greves e passeatas. Logo, no momento em que os militares tomaram o poder, a população ficou dividida entre a eficácia do novo regime político. Era benéfico ou não?  A resposta viria com 24 anos de censura, tortura por vezes seguidas de morte para qualquer indivíduo que fizesse oposição ao governo.

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O Fórum do Pensamento Crítico é realizado pela fundação Pedro Calmon, junto com a Secult-Bahia. As mesas de discussão ocorreram no TCA dos dias 24 a 28 de março.  O evento contou também com lançamentos de livros, shows e mostras de filmes.

Para saber mais sobre a programação acesse: http://www.fpc.ba.gov.br/forum/

 

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