Mulheres na filosofia: elas pensam, logo existem

Beatriz Bulhões

Em comemoração ao dia da mulher, a professora Juliana Aggio, com apoio do PET-Filosofia e do PIBID-filosofia, organizou uma mesa de debates sobre as mulheres na filosofia. O evento aconteceu no campus São Lázaro, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e teve como convidadas Carla Oliveira (mestranda em filosofia), Laiz Fraga (Doutoranda em filosofia), Karla Sousa (mestranda em Filosofia) e Maíra Kubik (doutora em ciências Sociais e Integrante do NEIM).

Durante as exposições, foi feito um resgate sobre como a mulher é tratada por diferentes correntes filosóficas ao longo da história. Pitágoras, 500 anos antes de cristo, dizia: “há um princípio bom, que criou o a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau, que criou o caos, as trevas e a mulher”. Aristóteles, por sua vez, acreditava que a mulher era inferior ao homem, e escreveu que “o escravo não tem vontade; a criança tem, mas incompleta; a mulher tem, mas impotente”. Em Rousseau, “A mulher tem mais espírito, o homem mais gênio, a mulher observa, o homem raciocina”. Kant aconselha professores que ministrem aulas a mulheres que “não deves dar uma aula fria, especulativa, mas antes elegante, com floreios e ditos espirituosos. A sabedoria das mulheres não provém do pensamento, mas do sentimento”. Schopenhauer considera a mulher “um ser antes destinado a parir filhos fortes, e se há exceções no âmbito artístico e científico, são apenas as que confirmam a regra”, e Nietzsche foi explícito ao dizer que “se a mulher tem inclinações eruditas, geralmente há algo de errado com sua sexualidade”. Em comum, todos citam a “natureza feminina” como trivial e leviana.

A mentalidade só muda por volta do século 18. Diderot, por exemplo, percebe que “a mulher é como o homem, ou seja, um ser humano” e Voltaire aponta alguma das injustiças que sofrem as mulheres. Condorcet não só as considera iguais aos homens, como atribui as diferenças a educação recebida por ambos.

Do outro lado, há as mulheres filosofas, mas pouco conhecidas. Na Grécia antiga, por exemplo, houveram Aspásia (que ensinou filosofia a Sócrates), Deutina (que ensinou a Sócrates o amor pela filosofia), e Hipácia (lecionou na escola platônica) entre diversas outras. “Nós sequer ouvimos falar dessas filosofas, suas obras se perderam e eu mesma sou culpada por não falar delas a minhas alunas”, revela Juliana Aggio. “Para aqueles que duvidam, nossa academia segue machista. Em menor número e, em alguns casos, com menor agressividade ou pelo menos uma agressividade menos escancarada, mas há”, complementa.

Também foi levantada a significação de algumas palavras de etimologia grega que são usadas hoje. “Histérica”, por exemplo, surge a partir da designação de uma doença onde um liquido do útero subiria para o cérebro tornando a mulher irritadiça e louca – homens não tem útero, logo não ficam histéricos. “Público”, por sua vez, tem raiz na mesma palavra grega que traduz “testículos”, dando apenas aos homens o espaço de fala pública.

A mulher e seu lugar de fala

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Foto: Divulgação

Laiz Fraga, em sua fala, exibiu um artigo do The New York Times sobre pesquisa que analisava a presença feminina em debates mistos. Segundo o estudo, homens interrompem mulheres mais vezes do que o contrário, além de terem mais momentos de fala e intervenções mais longas que o sexo oposto, que só ganha em quantidade de falas ignoradas. “Participar de discussões frequentemente exige que mulheres assumam uma postura masculina pra impor sua fala, e precisem despender um esforço maior para falar e para ter sua fala levada a sério. Acredito que se essa pesquisa tivesse sido feita em alguma universidade brasileira, os resultados não seriam muito diferentes”, afirma.

O 8 de março foi decidido como dia da mulher por causa de protestos operários nos Estados Unidos, principalmente um incêndio marcante que matou mais de 140 mulheres, em março de 1908. Maíra Kubik, que representava o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM), chamou atenção para um outro fato: “É interessante pensar que, de repente, durante duas ou três semanas as mulheres se tornam um tema relevante e no resto do ano isso não acontece”.

Karla Sousa, cuja pesquisa é voltada à filosofa Simone de Beauvoir, comentou que seus colegas e professores sempre perguntam o porquê dela estar fazendo mestrado em filosofia e não no NEIM, onde os estudos de gênero na UFBA estão concentrados – enquanto mulheres que estudam filosofia sejam poucas. Carla Oliveira, por sua vez, retomou o lugar dos estudos feministas na filosofia. “A teoria feminista não trata de assuntos particulares, menores ou marginais, como uma crença comum poderia compreender. Ela se insere dentro da própria construção filosófica”, define Carla Oliveira.

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Foto: Divulgação

 

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