Os mestres alemães e suas ressignificações no Brasil

Encontro discutiu a influência de três importantes mestres europeus para a dança que se ensinou no nosso país no século XX.

 *Por Lorena Caliman

O que seria da Escola de Dança da UFBA sem a presença dos mestres alemães? Com certeza, muito diferente do que é hoje. A partir do que foi apresentado na mesa-redonda “Influências europeias na dança produzida no Brasil”, três pesquisadoras em Dança contaram um pouco sobre as experiências dos bailarinos e coreógrafos alemães, seja na Bahia, seja em outras partes do país como Porto Alegre.

A mesa-redonda fez parte do evento Conexão Dança Alemanha-Bahia, que aconteceu em três espaços de Salvador entre os dias 13 e 18 de agosto. Proferida na Escola de Dança na tarde da última terça-feira, 13, a palestra mostrou o percurso do método de ensino de Jaques Dalcroze em Porto Alegre; do bailarino Rolf Gelewski na Escola de Dança da UFBA; e do ensino do método do “pai” da dança-teatro, Rudolf Laban, no Brasil, com foco também na UFBA. As escolhidas para ilustrar essas histórias foram as professoras doutoras Monica Dantas (UFRGS), Dulce Aquino (UFBA) e Lenira Peral Rengel (UFBA), respectivamente.

Instituto de Cultura Física Utilizando como ponto de partida seu estudo sobre os primeiros anos do Instituto de Cultura Física, criado em 1928 em Porto Alegre, a professora Monica Dantas falou sobre o início dos estudos de dança na capital gaúcha e suas implicações na sociedade da época. Nesse contexto, Monica ressaltou a importância da imigração europeia, principalmente alemã, na região, a partir de 1824.

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Inserindo-se inicialmente dentro da proposta da ginástica rítmica, o ICF teve um papel importante no desenvolvimento da dança no sul do país ao acrescentar o desenvolvimento do ritmo e a busca pela fluidez do movimento como um diferencial no seu ensino, transformando paulatinamente a forma de enxergar a dança. Ainda em seus primórdios, eram utilizadas técnicas de improvisação e estudos coreográficos como meio para se desenvolver a espontaneidade das alunas, e os métodos de representação de estátuas gregas foram aproximando a ginástica rítmica do ballet. “A sociedade via o Instituto como uma filial do Instituto de Dalcroze no Brasil, ou seja,  essa instituição era vista como eminentemente europeia”, declara a pesquisadora. Foi a partir do ICF que a dança pôde adquirir novas perspectivas e ganhar mais atenção na sociedade da época, principalmente pelo fato de que as atividades do instituto receberam considerável atenção dos principais jornais do período.

Rolf  Gelewski e a Escola de Dança “Minha formação eu devo basicamente a Rolf”, declara, logo de início, a professora doutora e Pró-Reitora de Ações Afirmativas da UFBA, Dulce Aquino.  Em sua fala, Dulce traçou um perfil do educador e dançarino como o responsável por dar à Escola de Dança da UFBA uma estrutura curricular inovadora, uma estrutura de conhecimento que não existia nos primeiros anos do ensino na universidade. “Me concentro nesse Rolf que encontrou uma Escola muito jovem, veio para a Bahia e começou a experimentar métodos com base em coisas muito interessantes”, disse. Como principais contribuições de Gelewski, Dulce citou a criação de disciplinas inovadoras a partir de princípios anatômicos, “reconstruindo a ideia renascentista do ballet”. A ideia dos níveis do corpo – baixo, médio e alto -, o ato de perceber qualquer coreografia em termos de possibilidades de corpo e espaço de maneira lúdica foram outras características dos estudos que Rolf trouxe à UFBA na época do reitorado de Edgard Santos.

“Ele mostrava que a dança não é só aprender uma técnica e sair aplicando essa técnica”, sentenciou. O fato de o então diretor da Escola de Dança preencher todos os horários livres dos alunos com atividades complementares mostra um pouco da determinação em formar artistas mais completos.

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Professoras Lenira Rengel, Dulce Aquino e Monica Dantas

 O sentido da contemporaneidade na dança Com a incumbência de destacar a importância do método Laban no ensino da dança contemporânea, a professora doutra Lenira Rengel afirmou que ele está sempre presente nessa área. “O Laban propunha acaso, improvisação. Ele tira a referência do corpo do espaço da frontalidade. Trata do espaço no corpo e o corpo no espaço”, provoca, dizendo também que apesar de toda a influência do método contemporâneo de Laban na dança, há companhias que se dizem contemporâneas e continuam usando a frontalidade como referência: “não adianta ter uma proposta contemporânea se você não tem uma atitude contemporânea”. Segundo Lenira, a hierarquização do espaço que se vê ainda hoje é também um modo de se olhar para a vida.

Falando sobre a grandiosidade do trabalho criado pelo dançarino e coreógrafo austro-húngaro, Lenira lembra que alguns de seus livros ainda hoje não foram publicados, e outros só vieram a ser publicados há poucos anos. Não apenas o trabalho do pensador que é considerado o maior teórico da dança no século XX é levado em consideração dentro desse saber artístico, mas também o componente emocional e humano. Nesse sentido, a professora diz que Laban buscava algo que fosse universal.

 

 

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