Palestra discute a dança expressionista e o corpo como objeto político

*Por Virgínia Andrade

Aconteceu na última quinta-feira, 15, na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a palestra “Corpos Políticos: Dança-expressão e Coreografias de Protesto” com a presença de Yvonne Hardt, professora doutora da Escola Superior de Música e Dança de Colônia e da Universidade Livre de Berlim, ambas localizadas na Alemanha. Parte da programação do projeto Conexão Dança Alemanha-Bahia, a mesa discutiu a representação política da dança expressionista e o uso do corpo como objeto de manifestação ideológica.

Baseada em seu livro-tese “Corpo Político, Dança Expressão: Coreografias de Protesto e o Movimento Operário na República de Weimar”, interlocução entre as teorias estética e sociológica de Pierre Bordieu, Yvonne direcionou seu foco de discussão para os principais representantes da dança expressionista alemã: dançarinos politicamente engajados, que tiveram sua arte negligenciada e, em detrimento disto, optaram por migrar da Alemanha, a partir de 1933, em pleno regime nazista. O que Hardt faz é um reexame da própria pesquisa sobre a dança expressão, com ênfase na temática de gênero, repensando as definições do político e os processos de construção da história alemã.

Foto: Virgínia Andrade
Foto: Virgínia Andrade

De acordo com a dançarina e coreógrafa, mais que arte de vanguarda, a dança expressão é uma arte política, bem como uma forma artística moderna e heterogênea, que surgiu em contraponto ao balé e se projetou para além do contexto artístico. Na opinião de Yvonne, é decisivo observar a dança expressionista enquanto elemento de integração coletiva ou organização coletiva dos corpos, de maneira tal que se constituiu como uma das forças transformadoras de uma sociedade que estava em crise.

Considerada menos valiosa em termos estéticos e desprovida de complexidade, a arte política da dança expressão, geralmente apresentada como apolítica, embora não tenha alcançado as massas, rompeu com clichês correntes do movimento e da beleza femininas, transformando-se em um novo espaço de criação de arte para mulheres. Esse abandono dos modelos clássicos de expressão corporal subsidiou o intenso intercâmbio entre os dançarinos e seus temas e deu voz aos que não tinham voz na dança.

Foto: Virgínia Andrade
Foto: Virgínia Andrade

Chamada inicialmente de “dança livre” ou “nova dança”, a dança expressão extinguiu o mito do apolitismo, a partir do estabelecimento de estreito vínculo com o movimento dos trabalhadores na Alemanha, tornando-se capital simbólico de uma espécie de empoderamento performático, que tinha a coreografia de protesto como dado analítico de organização social.

Yvonne Hardt, além de dançarina e pesquisadora de dança, é professora da disciplina Ciência Aplicada de Dança e Coreografia na Escola Superior de Música e Dança de Colônia, na Alemanha. Estudou Dança Moderna, em Montreal e História e Teatro, em Berlin. É doutora em “Encenações Corporais” e teve sua tese publicada em forma de livro intitulado “Corpo Político, Dança Expressão: Coreografias de Protesto e o Movimento Operário na República de Weimar” (Berlin, 2004). Foi professora assistente no Departamento de Estudos de Teatro, Dança e Performances da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Atualmente, é docente na Universidade Livre de Berlin – tendo sido a responsável pela criação dos Estudos Master em Ciências da Dança – e trabalha com sua companhia de dança contemporânea, a BodyAttacksWord.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *