Poesia além da lida: recital comemora 31ª edição

*Por Virgínia Andrade

Prosa e poesia sem tradicionalismos. A proposta é inovar, arriscar, experimentar. Por não haver em Salvador, até antes do Pós-Lida, um evento regular dedicado à poesia – apenas projetos específicos de recitais e saraus -, a necessidade de criá-lo era latente. Produzido e idealizado pelo poeta James Martins, em parceria com o Coletivo Urgente de Audiovisual (Cual), o “Pós-Lida: recital de poesia e alguma prosa” surge em resposta a essa demanda reprimida e a fim de ser uma alternativa de lazer para quem não resiste a uma sessão de poesia – e aos poetas de plantão.

Confessamente ligado às vanguardas revolucionárias, James, o anfitrião da noite, iniciou os trabalhos do último recital, de número 31, recitando o poeta Olavo de Carvalho, reconhecido pelo partidarismo de direita. Embora o “recital de poesia e alguma prosa” tenha se tornado um “recital de prosa e alguma poesia”, a última edição, no dia 29 de agosto destacou-se por reunir dois poetas de uma vez só.

James Martins. Foto: Amana Dultra
James Martins.
Foto: Amana Dultra

Marcado por uma polaridade bem definida, embora nada conflituosa, o recital situou de um lado o poeta marginal esquerdista Carlos Alberto Verçosa, e do outro, o conservador Bernardo Linhares, que se restringiu exclusivamente a recitar poemas paisagísticos e epigramas, todos de sua autoria. Verçosa, por sua vez, embora especialista em poesia haikai, optou por trabalhar a poesia marginal, usada como ferramenta de protesto durante as décadas de 1960 e 1970.

Bernardo Linhares. Foto: Amana Dultra
Bernardo Linhares.
Foto: Amana Dultra

De acordo com Carlos, a poesia engajada da “Geração Ditadura” baseava-se no cotidiano, pirateava versos e slogans publicitários e abusava das mais diversas temáticas. Sem qualquer abertura no mercado editorial, a poesia ilegal, cheia de metáforas, duplos sentidos e discurso de entrelinhas condenou seus poetas à marginalidade. O escritor aproveitou para pré-lançar o livro “Chicotadas e Salmoura”, escrito entre os anos de 1973-76. O lançamento oficial acontecerá na Feira do Livro de Ilhéus.

Carlos Alberto Verçosa. Foto: Amana Dultra
Carlos Alberto Verçosa.
Foto: Amana Dultra

Poesia nossa de cada dia Numa época em que as pessoas estão cada vez mais ligadas à internet, o Pós Lida contempla esse mundo virtual, trazendo regularmente a participação online, via Skype, de algum artista. Além das participações virtuais, o recital recebe também convidados especiais. A bola da vez foi o ator e pesquisador Yuri Tripodi, com a intervenção artístico-sonora “+ SELF”.

Yuri Tripodi. Foto: Amana Dultra
Yuri Tripodi.
Foto: Amana Dultra

Desde a primeira edição, em março de 2012, o Sebo Praia dos Livros, no Porto da Barra, recebe o projeto, sempre às quintas-feiras, a partir das 19:30 e com entrada gratuita.

De periodicidade quinzenal, o Pós-Lida é um espaço para ser vivenciado após o trabalho diário e mantém-se em consonância com a ideia original: integrar a poesia ao cotidiano do público mais ou menos assíduo ao recital. Como de costume, para fechar a noite, o microfone foi aberto ao público que interagiu recitando poesias próprias ou intervindo artisticamente.

 

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