Saberes ancestrais e saberes acadêmicos: como buscar a diversidade na universidade?

*Por Igor Tiago

“Diversidade é a matriz para a construção do conceito de cidadania”, é o que defende Pedro Domingues Monteiro Junior, Coordenador Geral de Programas e Projetos Culturais da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC.  Domingues discutiu o assunto na mesa Diversidade na Universidade, no primeiro dia do 1º Seminário Cultura e Universidade, em Salvador. Além de Pedro, participaram da mesa Othon Leonardos (Professor e Pesquisador colaborador do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB), José Jorge de Carvalho (Professor Associado da UnB e Coordenador do INCT – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia e Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa) e Martha Rosa Figueira Queiroz (Chefe de Gabinete da Fundação Cultural Palmares – MinC).

Os mestres e mestras das culturas populares, bem como os povos indígenas e outras comunidades não tinham acesso à universidade, e o padrão acadêmico de transmissão de conhecimentos tornou-se cada vez mais dependente da escrita ao longo da história. Até recentemente, a cultura brasileira sofria uma divisão histórica que correspondia à distância entre dois universos sociais: o “povo” e a “elite”. O primeiro, responsável pelas assim chamadas culturas populares – marcadas pelos saberes e fazeres tradicionais, e pela transmissão oral – enquanto à elite cabiam as “belas artes” e os saberes acadêmicos.

Partindo de uma breve análise da formação cultural da sociedade brasileira, os palestrantes ressaltaram a importância dos saberes: os saberes milenares da cultura indígena, os saberes dos afro-descendentes, dos quilombolas, entre outros. “A sociedade ignora a existência desses saberes dos povos tradicionais”, diz Othon Leonardos.  O debate abordou temas como: novas formas de troca de saberes, os saberes não reconhecidos, a importância das políticas de ações afirmativas como forma de extermínio do modelo excludente e dicotômico da atual universidade e a importância das políticas voltada para as minorias.

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Dessa forma, o tema do cenário atual da universidade foi um ponto forte do debate. Para José Jorge de Carvalho, as universidades são “brancas” e elitistas. O estudioso defende ser necessária a reconstrução do ensino universitário, a mudança no corpo docente e discente para a integração dos saberes. E não só do ensino, como do espaço universitário também, com a criação de Centro de Artes tradicionais. “As nossas universidades não parecem com a sociedade. Elas não incorporam a riqueza do saber que a sociedade tem. Os mestres acumulam saberes durante muito anos mas não podem passar pra juventude nas universidades porque não tem como entrar, se você não tiver um diploma de pós-graduação, você não pode transmitir o seu saber numa universidade. A gente não pode pedir que esses mestres tenham diploma de pós-graduação, a gente precisa encontrar uma maneira que elas possam entrar pra transmitir saberes importantes”, pondera.

Ao promover e proteger a diversidade das expressões culturais brasileiras em consonância com a Declaração Universal da Diversidade Cultural e com a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, o Ministério da Cultura busca, com a realização do atual seminário, incentivar formas de diálogo e interação entre esses dois universos.

 

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