Semana Mahomed Bamba: o que eu vi

Cobertura do primeiro dia da homenagem ao professor Mohamed Bamba pelos olhos de quem nunca o conheceu                   

Por Rafaela Fleur

Começou, na última segunda-feira (28), a Semana Mahomed Bamba de Comunicação. Marcada para começar às 15h, na FACOM (Faculdade de Comunicação da UFBA) , a programação  extensa durou até sexta. Extensa também era a lista de pessoas presentes. Amigos, colegas de trabalho, alunos – e eu, que entrei na FACOM em 2015 e nunca tinha conhecido Bamba, só tinha ouvido relatos do quanto ele foi um professor bacana e do quanto ele se foi cedo e repentinamente. Não queria cobrir, confesso. Meu dia não estava bom e sou um tanto quanto sensível demais. Mas como boa estagiária que sempre tento ser, peguei caderno, caneta e fui. Não sem antes, claro, fazer uma breve pesquisa sobre quem ele era.

Nascido na Costa do Marfim, graduou-se em Letras na Université Nationale d´Abidjan, localizada no país, em 1992. Era mestre em Linguística Geral e Semiótica, doutor em Cinema e Estética do Audiovisual, ambos pela USP (Universidade de São Paulo). Especializado em Cinema, era pesquisador em diversas áreas, como Teorias da Recepção e  Semiologia e Narratologia do Cinema. Em 2009, se tornou professor da FACOM. Tinha 48 anos, faleceu na madrugada do dia 16 de novembro de 2015, às 00h23, de falência múltipla dos órgãos, em razão de uma infecção generalizada. Bamba tinha feito um procedimento cirúrgico por conta de neoplasia maligna detectada no fígado.  

Na mesa de abertura da Semana que homenagearia o professor, estavam Suzana Barbosa, Juliana Gutmann e Guilherme Maia. A primeira, diretora da FACOM. Os dois últimos, coordenadora e vice-coordenador do PósCom (Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas), respectivamente, programa do qual Bamba era pesquisador. O grande objetivo da mesa era explicar como seria a semana dedicada a Mahomed e o funcionamento do PósCom.

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Composição da mesa “Um ser em errância: memórias de Mahomed Bamba”

Após uma pausa de 10 minutos, a sala que havia ficado vazia voltou a se encher. Dessa vez, na grande mesa, estavam a professora Regina Gomes e o professor Francisco Serafim. Na programação constava que o título da mesa era “Um ser em errância: memórias de Mahomed Bamba” e  eu estava preparada para um vídeo ou qualquer coisa parecida que mostrasse alguns momentos dele, até que Regina falou: “Gostaria de chamar essa mesa de ‘Mesa dos Afetos, pois todos aqui eram muito próximos de Bamba”. Respirei fundo.

Marise Berta, coordenadora e professora do IHAC (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos), foi a primeira a falar. Comentou que, na primeira banca de doutorado que Bamba participou, ela estava presente. Com um sorriso enorme no rosto, disse que Bamba era extremamente cortês, gentil e elegante, sempre instigando e provocando as pessoas de forma doce. “Era de uma ousadia civilizadíssima”, afirmou. Todos riram e concordaram, inclusive eu, que nunca pude presenciar essa doçura.

Algumas outras pessoas falaram depois de Marise, Alex França, André Bomfim, Ana Paula Nunes, todos da UFBA. Dentre essas pessoas, Ana Camila, jornalista, ex aluna de Bamba e uma das pessoas que tornou esse evento possível. Ana contou que o professor era muito solícito e que sempre a ajudava mandando textos que ela deveria ler e temas que ela deveria pesquisar. “Abria minha caixa de e-mail e só encontrava mensagens de Bamba”. Camie, como ele a chamava, contou que o docente chamou sua dissertação de ‘impertinente’ em plena banca de mestrado e que ela ficou ‘completamente arrasada’. “Só estou rindo agora porque já faz muito tempo’’, admitiu.

Quando Camie começou a contar sobre como eles eram próximos e o quanto ele queria o seu crescimento, comecei a imaginar o quanto deve ter sido bacana tê-lo conhecido. Comentaram das cores que Bamba vestia, do laranja aceso, do verde limão, da energia. Falaram que ele era uma pessoa do Facebook: ficava ligado em todas as atualizações da sua timeline. Uma aluna levantou a mão e disse que perdê-lo foi como perder um pai e a sala, que já estava triste, se encheu ainda mais de tristeza. Meu coração apertou e as lágrimas vieram.Eu chorava por alguém que nunca vi. Por alguém que nunca me viu. Mas a julgar pela vivacidade com que todos falaram de Bamba, acredito que ele está por aí, em algum lugar.

Espero que ele tenha me visto.

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