Grupo goiano encerra Vivadança em Salvador

Por João Bertonie

Quem foi ao Teatro Castro Alves na última terça-feira, 29, se deparou com uma pluralidade de personagens excêntricos, coreografias surpreendentes e músicas muito bem selecionadas. Tratava-se do espetáculo “No Singular” do grupo goiano Quasar Cia de Dança, que finalizou o ciclo de apresentações do festival VIVADANÇA em Salvador.
No ano em que completa 25 anos de existência, a Quasar trouxe à capital baiana um espetáculo vasto e denso, com uma abordagem original às várias temáticas do nosso cotidiano – como a vaidade e o excesso de informação tão comuns à nossa época. O objetivo era refletir as interações humanas num mundo cada vez mais veloz, através da linguagem performática da dança contemporânea.

Os pontos altos da apresentação foram quando vários personagens gritaram expressões corriqueiras à vida virtual, os ditos memes (brincadeiras estabelecidas entre os usuários na rede), como “beijinho no ombro” e “hashtag adoro”, e quando um dos membros do espetáculo convidou pessoas da plateia para dançar com os artistas, enchendo o palco com dançarinos e espectadores executando várias coreografias ao mesmo tempo.
A plateia recepcionou bem o espetáculo da companhia goiana. Com um público composto por pessoas de várias gerações, a apresentação terminou no momento interativo do espetáculo, em meio aos aplausos empolgados de todos. “Não gosto muito da estrutura teatral tradicional, por isso gostei da interação com a plateia”, disse o professor costarriquenho Leonardo Sebiani, 35. Ele foi uma das muitas pessoas que já eram fãs de artes cênicas e de dança contemporânea que prestigiaram o evento e se envolveram no espetáculo, indo até o palco para dançar com os artistas.
A apresentação, que chegou a ganhar o Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna, propunha um diálogo sobre a velocidade e o excesso de informações nos dias atuais e tinha nas reações imediatas da plateia – que iam do assombro ao encantamento – um dos seus pontos mais curiosos. Podiam se ouvir entre as cadeiras do TCA as gargalhadas e as palmas de aprovação dos espectadores ainda no meio do espetáculo. Também podia se sentir o silêncio absoluto durante os momentos introspectivos, nos quais uma luz azul era incidida sobre os dançarinos. O espetáculo proporcionava momentos curiosos – como quando os artistas corriam do palco com as calças abaixadas – e melancólicos – como na hora em que um casal parecia se confrontar e, ao mesmo tempo, se confortar, numa representação de um relacionamento amoroso. E toda a plateia se envolvia.
“No Singular” foi o encerramento da temporada do VIVADANÇA na capital baiana. Segundo Luiz Antônio Jr., o diretor de produção do festival, os resultados do evento em Salvador foram “surpreendentes”, tendo, inclusive, a casa cheia nos sete espetáculos apresentados na cidade. “Mais de 70% do público foi de não-artistas”, salienta, comentando a adesão de pessoas pouco ligadas às artes cênicas e dramáticas. O festival, que tem em média cerca de 26 mil espectadores e mil artistas a cada edição, parte para novas apresentações em Vitória, Espírito Santo.

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