Bicentenário da Independência: exposição reúne obras que remontam o período de lutas que culminou no 02 de Julho de 1823
Realizada na Galeria Cañizares, a exposição reúne obras que remontam o período de luta do povo baiano pela conquista do território
Por: Gleisi Silva
No dia 2 de julho de 1823, a Bahia foi palco de um importante momento da história: a independência do Brasil na Bahia. E para celebrar os 200 anos desse acontecimento marcante, a Escola de Belas Artes da UFBA, promove uma exposição especial que resgata a história e destaca o legado dessa batalha heróica.
A exposição “2 de julho, a Independência da Bahia no Brasil”, que segue em cartaz até o dia 30 deste mês, é promovida pela Academia de Letras da Bahia, em parceria com a EBA, e tem o objetivo de destacar, através das artes plásticas, a importância da data para o país.

Segundo o diretor da EBA e coordenador da exposição, Paulo Guinho, a ideia era juntar, em único espaço, as artes plásticas com as letras, de forma que representasse a temática do 2 de julho. Dessa forma, o público terá acesso a obras exclusivas de artistas como Edvaldo Gato, Juarez Paraíso, Paulo Guinho, Bel Borba, Nanci Novais, Daniele Steele, Evandro Sybine, San Chagas, Edgar Oliva entre outros.
Veja, mesmo com a independência do Brasil, em setembro de 1822, a Bahia nunca foi livre, porque as tropas portuguesas continuaram aqui, atuando, cobrando altos tributos. Então, para o Brasil a Bahia representa essa liberdade total, foi as batalhas vencidas na Bahia, que conseguimos realmente separar politicamente de Portugal.
Para a artista plástica, professora e curadora da exposição, Nanci Novais, a conquista da independência da Bahia teve um impacto significativo na luta pela emancipação do Brasil como um todo. “Veja, mesmo com a independência do Brasil, em setembro de 1822, a Bahia nunca foi livre, porque as tropas portuguesas continuaram aqui, atuando, cobrando altos tributos. Então, para o Brasil a Bahia representa essa liberdade total, foi as batalhas vencidas na Bahia, que conseguimos realmente separar politicamente de Portugal”, enfatizou Nanci. Assim, a vitória baiana, ocorrida no dia 2 de julho de 1823, contribuiu para fortalecer o sentimento de unidade e nacionalidade no país.

Foto: Mirauá Noronha.
Neste sentido, o evento, que celebra o Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, serve de provocação para questões sociais que reverberam até os dias atuais, permitindo também, aos que contemplam, analisar criticamente todo o processo de emancipação social. “O 2 de julho dá margem a mil interpretações do patriotismo até a implantação da semente de algumas conquistas que devem ser realizadas, como por exemplo a reconquista do nome 02 de julho do Aeroporto Internacional da Bahia”, ressalta o curador, professor e artista plástico Juarez Paraíso.
A arte como expressão de liberdade
De iniciativa do curador, professor e artista plástico Juarez Paraíso, a exposição é composta por diversas expressões artísticas. São pinturas, gravuras, esculturas e outras linguagens, criadas por 54 convidados. É uma ótima oportunidade para conhecer o trabalho de artistas baianos renomados e de diferentes gerações.
“Primeiro, antes de tudo é mostrar a todo Brasil que o baiano sabe o que significa o 2 de julho. É um momento de valorização, não só do patriotismo mas, do que se pretende como liberdade e independência. Não é à toa que os heróis hoje considerados da Independência do Brasil sejam baianos e sejam das minorias: os negros, os mestiços, os cafusos e etcétera”, enfatiza ele.

Por outro lado, Paulo Guinho acrescenta que o maior desafio aconteceu durante o processo de montagem, afinal, cada artista possui uma técnica diferente, tem um modo de ver e representar a arte. “Não é fácil pegar uma diversidade de linguagem e característica e aproximar umas das outras, mesmo sendo um tema único para todos, é bastante complicado”, acrescenta ele.
O artista plástico Fabrício Dias, que esteve na abertura do evento (30/06), reconhece a importância da exposição para a história brasileira, e sobretudo, destaca que, apesar de desafiador, a diversidade de trabalhos possibilitará ao público ter interpretações distintas sobre a data. “Eu achei que foi um grande desafio, assim, parece confuso, talvez, quando a gente entra, pela variedade de tamanhos, formatos e técnicas, mas eu acho que por outro lado também é interessante da gente perceber as várias possibilidades e linguagens que cada um dos artistas utilizou para trazer questões do 02 de julho”.
Obras, únicas e cheias de detalhes, dão protagonismo aos verdadeiros heróis da independência, que por muitas vezes foram silenciados e invisibilizados na história. Foram os negros, os indigenas, as mulheres, o povo nas ruas que lutam bravamente por liberdade. Assim, com total liberdade, desde que não ultrapassasse as dimensões de 1m², os artistas homenagearam o 02 de julho, a data símbolo da liberdade brasileira.
“Eu pensei numa coisa leve, mas que tivesse toda uma simbologia do 02 de julho. Então, fiz umas penas, as cores da Bahia e algo caindo festejando as mulheres que participaram. É um trabalho simples, mas direto, as pessoas olham e sabem que aí tem Bahia”, descreve César Romero, artista plástico, fotógrafo, crítico de arte e criador da obra ‘Brasil, Bahia – 2 de julho versão Kitsch’.
A exposição busca fazer uma releitura do que aconteceu durante o processo de reconquista do território brasileiro na Bahia. Tornando-se, portanto, fundamental para a preservação da memória histórica para as próximas gerações. “A gente espera que [a exposição] seja um canal de divulgação e de conhecimento desses fatos históricos superimportantes no Brasil”, pontua Nanci.

Contudo, Fabrício Dias aponta para um questionamento: a falta de diversidade entre os artistas. Para ele, era de suma importância pensar em um lugar que pudesse demonstrar melhor a grandiosidade deste feito histórico. “Pode parecer grande a quantidade de artísticas, mas acho que poderia ter uma diversidade maior. Talvez se fosse em outro espaço, um espaço maior, com mais artistas”, diz ele.
Deste modo, César Romero sugere que, o ideal seria que a exposição ocorresse em todo território brasileiro, de maneira que permitisse o aprendizado ao maior número de pessoas. “Porque lá no sul ninguém sabe quem é Maria Felipa. Não falam do batalhão de mulheres, mulheres negras que ajudaram nessa coisa. A importância da mulher na libertação do Brasil foi muito grande”, finaliza.
Oportunidade gratuita
A exposição, em homenagem ao bicentenário do 2 de julho, acontece durante todo o mês de julho, na Galeria Cañizares, localizada na Escola de Belas Artes da UFBA, rua Araújo Pinho, n. 212, Canela. Com entrada franca, das 9h às 18h, das segundas às sextas, e aos sábados e domingos das 9h às 17h. Além disso, o espaço conta com monitores, nos dois turnos, que darão todo suporte aos visitantes.