Agenda na Saladearte: ‘Encontros’ aborda relações interpessoais em um mundo cada vez mais tecnológico

  • Por Ícaro Lima e Monique Feitosa

Relações sociais sempre esteve entre os temas principais na história do cinema. Pelos recorrentes debates que surgiram recentemente sobre a configuração atual das formas de interações interpessoais em meio aos avanços dos meios digitais, muitas obras cinematográficas detalham diversas visões sobre esse assunto. “Encontros”, filme dirigido por Cédric Klapisch, faz parte desse contexto.

O longa, lançado no Brasil no último dia 3 de outubro, narra a história de Rémy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot), duas pessoas que, apesar de morarem bem próximas, em prédios vizinhos, num bairro de Paris, não se conhecem. Eles parecem que nunca chegaram a olhar um nos olhos do outro. Mas, além da rua, outra coisa os unem: os conflitos que cada um tem com problemas do passado, e que reverberam negativamente em seus modos de vida até hoje, enquanto lutam para superá-los.

Numa narrativa que entrelaça bem as doses de drama a curtas cenas de humor, muito baseadas na ironia, o filme aborda depressão, ansiedade e a efemeridade de algumas relações provocadas pelas redes sociais. Além disso, a solidão e a necessidade de enfrentar o luto (seja ele provocado por um falecimento ou pelo fim de um relacionamento) são mostradas de uma forma cadenciada, sem entrar num clima melancólico.

A Paris apresentada é suburbana e fria, com um único espaço quente: a mercearia próxima à casa dos dois. Costumeiramente, eles compartilham nesse local vivências muito parecidas, mas sem nunca trocar um “oi”. Esses desencontros e o próprio desenrolar dos dois personagens lembra bastante o filme argentino “Medianeras”, de Gustavo Taretto

O ritmo do filme é calmo, equilibrado e os personagens são expostos lentamente em camadas não explícitas, o que nos mantém atentos a trama. Eles vão se desenvolvendo num ritmo progressivo em relação aos dramas pessoais que o cercam, pontos centrais da história. E é justamente nesse ponto que sobressai aquilo que mais chama atenção do enredo: a busca do autoconhecimento.

Fica em evidência também como a carga psicológica de cada personagem é bem trabalhada, deixando explícitas as dores de cada um. Dores essas que os fazem experimentar diversos caminhos para tentar achar um reconforto, recorrendo desde encontros casuais marcados pelo Tinder até aulas de dança.

Entre erros e acertos, os dois compreendem, pouco a pouco, a necessidade de trabalhar problemas pessoais consigo mesmo, sem projetar as soluções em relações posteriores.

De forma geral, “Encontros” tem temáticas interessantes, atuais e profundas. E trata mais sobre o enfrentamento com dores reais e psicológicas, do que sobre um romance.

Serviço
Filme: “Encontros” (“Deux Moi”) (Direção: Cédric Klapisch. França, 2018)
Quando e onde assistir: Diariamente, às 16h20, na Saladearte Cinema da UFBA (Av. Reitor Miguel Calmon, s/n – Vale do Canela – Ao lado das Faculdades de Educação e Administração

*Essa resenha faz parte de uma parceria entre a Agenda Arte e Cultura e o Circuito Saladearte. Mais detalhes sobre essa parceria podem ser conferidas aqui. 

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