Agenda na Saladearte: Em Seberg Contra Todos, o caminho mais fácil é o ataque às mulheres

Por Amanda Braga e Jô Stella

Inspirado na história da atriz Jean Seberg (Kristen Stewart), “Seberg Contra Todos” traz uma reflexão atual, mas também muito antiga, de como o machismo pode devastar e levar a vida de uma mulher até o seu mais profundo abismo. 

Ao apoiar movimentos de luta pelos direitos civis nos anos 60, especialmente Os Panteras Negras, grupo que ela passou a apoiar financeiramente, Jean Seberg vê sua vida se transformar em um verdadeiro caos. Ela começa a apoiar o grupo depois de se envolver com o ativista Hakim Jamal (Anthony Mackie) e é perseguida pelo FBI, que teme o crescimento desses movimentos.

Os agentes utilizam táticas misóginas na perseguição contra a atriz, mas o longa também mostra como esse é um problema presente no cotidiano de todas as mulheres. Das personagens menores às maiores, todas elas estão expostas a situações de violência física, psicológica e patrimonial. Temos a mulher silenciada pelo marido violento, a filha silenciada pelo pai, a jovem que tem seu sonho de se tornar médica ridicularizado por outras mulheres mais velhas, a mulher negra que é traída por seu marido com uma mulher branca, até chegar à protagonista, escolhida como o alvo a ser destruído pelo FBI.

 O que transforma Seberg nesse alvo é o fato de que eles percebem que é mais fácil destruir e enfraquecer a imagem de  uma mulher do que a de um homem. Por isso, os métodos escolhidos para descredibilizar a protagonista são todos pautados em misoginia. Os agentes passam a expor os seus casos amorosos de forma sensacionalista e, por vezes, mentirosa, sempre no intuito de desmoralizá-la e pintá-la como  uma “vadia” diante da opinião pública.

Essa é a história de uma mulher devastada porque escolheu usar a sua posição como estrela de Hollywood para ir contra o sistema e que, mesmo no momento de maior destruição e fragilidade, teve lucidez para enxergar que ela não era principal vítima nessa história. O ataque a Seberg era apenas o caminho mais fácil para atacar estruturalmente o movimento Panteras Negras, rompendo o vínculo de apoio com a atriz e assim desestabilizando projetos, como a escola para crianças negras mantida com esse financiamento. Nessa história, Seberg está contra todos e ninguém está com ela. 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *