Cinefacom destaca produções realizadas por mulheres

Realizadores dos filmes ressaltam a importância de um espaço como o Cinefacom

Por Madson Souza

Na mesma semana em que produções brasileiras foram premiadas em Cannes, ocorreu também a 32ª edição do Cinefacom, uma mostra que busca valorizar projetos feitos por estudantes e como mostram os prêmios recebidos internacionalmente o investimento no cinema nacional parece válido. O evento que ocorreu no auditório da Faculdade de Comunicação da UFBA (FACOM), na quarta-feira (29), teve apresentação de quatro filmes e uma mesa composta majoritariamente por mulheres.

Um ponto que foi comentado durante toda a mostra foram as dificuldades de se promover uma exposição de cinema e principalmente, sobre o próprio ato de produzir filmes. Talvez, por isso, seja uma unanimidade aos ali presentes a importância de um espaço como esse. José Francisco Serafim, doutor em cinema documental e mediador da mesa com os responsáveis pelas obras, comenta sobre as dificuldades em torno do cinema nacional. “Fazer cinema é complicado, mas dá pra fazer. E fazemos muito bem!”, afirma.

O projeto que teve início em 2013 é coordenado por professores, mas é uma realização dos alunos, que formam grupos para manter a atividade. E essa foi outra marca da edição, a renovação, já que foi a última edição da atual equipe, cuja principal responsável é a estudante de produção cultural Ailly Cavalcante. “O que gente produz fica muito em sala ou para os amigos, são poucas as plataformas que oferecem essa disponibilidade de você exibir seu material”. Continua: “Por isso, a necessidade do Cinefacom, é importante que a universidade ofereça um espaço para exibição desses filmes”, explica.

Após a exibição dos curtas foi montada a mesa para um bate-papo em torno das produções, constituída por Maína Diniz, uma das diretoras do “Minha vida com você”; Ítalo Rodrigues, responsável pelo “O Peixe”, não pode comparecer, mas em seu lugar veio o Josias Andrade; “Mete a Colher”, foi representado pela realizadora, Clara Ballena; e Vanessa Aragão, veio falar do seu filme “Livre”.  

Apesar dos gêneros diferentes, em comum a vontade de comentar sobre temas sociais relevantes e atuais, tanto na angústia em relação à política, e aos casos de feminicídios, quanto na representação de um subúrbio que trabalha e que sonha.

Luz, câmera e ação
“Intenso, cansativo, mas foi um prazer ter feito”, conta Maína Diniz sobre a produção “Minha vida com você”, em conjunto com Marjory Rocka. O trabalho levou quatro meses para ficar pronto, do roteiro até a pós-produção. A autora ainda ressalta a importância do Cinefacom para estar em contato com gente da área, que compartilha das mesmas dificuldades e com quem pode vir a trabalhar junto no futuro.

Enquanto produz um filme que trata sobre a força do feminino, machismo e as dificuldades de ser mulher, Maína conta sobre sua história de retorno aos estudos e atividades próprias, após um momento de dedicação exclusiva a maternidade.

Josias Andrade, um dos colaboradores do filme “O Peixe”, substituí Ítalo Rodrigues, que não compareceu, para comentar sobre a obra, que trata com um olhar real a vida no subúrbio. “É um trabalho que representa toda a classe que trabalha diariamente e que muitas vezes esquecem, mas que também sonha”, diz.

“Poder passar um curta falando sobre feminicídio, falando sobre violência contra mulher e ainda ter a companhia de três mulheres na mesa foi algo fenomenal”, diz Clara Ballena, que construiu o “Mete a Colher”.

Durante a mesa falou mais sobre sua obra, focando na sua vontade de trazer à tona essa discussão. “Pensei em planos que trouxessem o espectador para o lugar da mulher, porque precisamos falar sobre isso, infelizmente ainda não superamos essas questões”, afirma.

Vanessa Aragão quando perguntada sobre seu trabalho, então desabafa. “Eu queria quebrar uma televisão, acho isso algo muito simbólico”. Essa indignação com o momento em que vivemos, especialmente na política, se mostrou presente tanto no seu filme, quanto nas suas falas, mas em ambos os espaços deixa claro que mantém a esperança e que precisamos lutar. “Nem tudo está perdido, temos que nos reconectar, pensar numa saída individual e coletiva pra tudo isso”, discursa.

*Alerta de spoiler. Como no seu filme em que a personagem termina caminhando para a luz, numa maneira de representar que temos que acreditar, de acordo com a própria autora. *Fim do spoiler. Ao fim do evento fica a sensação de que o cinema nacional importa, tanto para o público, quanto para os realizadores. E que ou aqui, no auditório da Facom, ou no Festival de Cannes, o cinema brasileiro se mantém, apesar dos apesares.

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