Como ajudar pessoas que passam por transtornos mentais?

Essas doenças apresentam variações que afetam o comportamento, o humor e o raciocínio dos portadores

Por Laiz Menezes

Há uma grande variedade de informações sobre transtornos mentais na internet. Mas será que as pessoas sabem como identificar e prestar auxílio às pessoas que sofrem com distúrbios, como ansiedade, fobia social e depressão? Essas doenças apresentam variações que afetam o comportamento, o humor e o raciocínio dos portadores. A Agenda conversou com quem já passou e presenciou tais situações e também com psiquiatra para entender e saber como ajudar.

Os efeitos de um transtorno mental podem ser temporários ou duradouros. O estudante Rafael Lima* conta que namora com a atriz Gabriela Ferreira* há dois anos e que tem transtorno de bipolaridade, ansiedade e depressão. O aluno conta que quando presenciou pela primeira vez uma crise da sua namorada foi bastante assustador, porque, segundo ele, quando a pessoa passa por essa situação, em que ela é levada ao extremo, ao ponto de querer tirar a própria vida, é muito triste, principalmente quando é alguém que você ama. 

“Fiquei mal por semanas tentando administrar o ‘baque’, porque é uma energia muito pesada que eu não estava acostumado e não tinha capacidade para lidar. Eu tive que ir no psiquiatra para ter acompanhamento. A partir dela eu percebi que é importante você ter acompanhamento profissional independente de ter ou não algum distúrbio para saber administrar suas emoções. Depois disso eu fui me acostumando a lidar. É sempre muito desgastante e vai te deixar mal, não tem jeito. Gabriela parece outra pessoa quando ela passa por alguma crise”, explica Rafael. 

Quem mais sofre nessas situações é a pessoa que tem o transtorno mental. Rafael conta que é difícil dizer como prestar auxílio e que você nem sabe se realmente ajudou. “Eu tento me manter do lado da pessoa e dizer o tanto que eu me importo e dou apoio, amor, compreensão e me mantenho ao lado dela independente do que ela passe. As vezes é difícil entender, já que você não passa por isso. No caso de Gabriela, que é uma depressão química, ela produz uma substância que causa a doença, então não tem como ela se curar totalmente. Ela tem momentos, problemas muito grandes que mexem com ela, por exemplo”.

O estudante ainda conta que ele percebe que Gabriela, que tem três transtornos mentais, tem a probabilidade de ficar mais instável em alguns momentos. Segundo ele, no início do relacionamento foi mais difícil, já que ele nunca tinha tido um contato tão próximo com esses distúrbios. “Acredito que ela melhorou muito, principalmente porque ela tem feito tratamento psicológico. Ela tem permanecido estável na maior parte do tempo. Eu acho que não há uma recuperação, a pessoa passa por fases melhores e outras piores”.

O psiquiatra Irismar Reis explica que transtornos podem ser tomados como distúrbios, mas em psiquiatria essa palavra tem uma conotação mais técnica e, há muito tempo, desde a década de 80, sua utilização é feita para se referir a praticamente todos os diagnósticos feitos na área.

Para identificar que a pessoa passa por algum tipo de transtorno, Irismar conta que ela precisa dizer e, a depender das características, o psiquiatra vai indicar um tratamento psicológico ou um farmacológico. “Vamos imaginar que o paciente diz que tem muita preocupação há muito tempo. A gente sabe que esse sentimento caracteriza o transtorno de ansiedade generalizada. A partir disso indicamos o tratamento”, afirma.

“É muito importante que a gente saiba que não é apenas o profissional que pode ajudar, esse auxílio pode partir dos familiares, dando apoio, pode vir de amigos e colegas. Uma vez estabelecido que essa pessoa teve um quadro eventualmente mais preocupante, deve-se procurar um profissional”, explica. 

Já a arquiteta Paula Mendes* conta que passou por transtornos mentais, depressão e crise de ansiedade e que estar longe da sua família piorou essa situação. “Algumas pessoas reconheceram que era uma doença e isso me ajudou bastante. Por um tempo eu achei que fosse preguiça, como se eu estivesse cansada e não quisesse fazer nada, como ver meus amigos e fazer minhas obrigações”. 

Paula lembra que uma amiga sua, que já passou por transtornos mentais, lhe ajudou, dizendo que era pra ela procurar uma terapeuta. “Isso me deixou melhor, de saber que tinha saída. Depois que eu fui no psicólogo tudo foi melhorando”, explica. 

Paula comenta que o que uma das coisas que fez com que ela melhorasse foi o seu processo de autoconhecimento. A arquiteta começou a perceber o que ela gostava, o que a fazia bem, o que queria ou não fazer. “Eu troquei de curso, de cidade, passei um tempo com minha família. Eu continuo fazendo terapia, quando eu paro volto a ficar mal. E também eu preciso ter uma rotina, quando eu não programo o meu dia e fico deitada procrastinando, eu me sinto mal. Além disso, conversar e entender o porquê eu me sentia dessa forma me fez bem”.

 

*os nomes originais foram preservados

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