Desafios para a formação em cultura é tema do segundo dia do Enecult 2023

O evento reúne pesquisadores e interessados em discutir sobre os novos rumos do cenário cultural

Por: Gleisi Silva

Nesta quinta-feira (24/08), pesquisadores, professores, estudantes e profissionais dos mais diversos campos da cultura tiveram a oportunidade de conferir mais um dia da 19ª edição do Encontro Multidisciplinar de Estudos em Cultura – Enecult. O evento deste ano teve como tema central “Culturas para o novo Brasil” e foi marcado por uma série de debates enriquecedores e apresentações instigantes, reafirmando seu papel como um espaço fundamental para a discussão acadêmica. 

“Enecult se tornou o principal evento acadêmico no país sobre estudos multidisciplinares em cultura. Reforça também a importância que temos na área da organização da cultura, com cursos pioneiros no Brasil e que tem destaque através das suas pesquisas”, destaca Leonardo Costa, diretor e professor da Faculdade de Comunicação da Bahia (Facom/UFBA). 

Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)
Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)

Destaques do dia 

A programação do segundo dia de evento começou às 9h da manhã, na Reitoria da UFBA, com transmissão ao vivo pelo Youtube. A Mesa, “Dilemas para o patrimônio cultural no Brasil”, coordenada pelo professor e pesquisador, José Roberto Severino, e contou com a presença dos seguintes expositores: Hermano Queiroz, diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); Márcia Sant’Anna, doutora em Arquitetura e Urbanismo e; Mirela Araújo, museóloga, gestora e produtora cultural. Além disso, houve ainda a participação da pesquisadora, mestra em educação e especialista em políticas e gestão cultural, Mona Nascimento; do professor e coordenador da Cátedra UNESCO-UFSM em Fronteiras e Migrações, André Soares; e da professora, doutora Neivalda Oliveira. 

Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)
Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)

Dando continuidade à diversidade temática do Enecult, no período da tarde, às 15h, o centro do debate foi desafios para a formação em cultura, sob a coordenação da doutora em Ciência Política pela Universidade de Paris X – Nanterre e Gestora Cultural, Ângela Andrade, a mesa reuniu pesquisadores com o objetivo de discutir sobre o “estado da arte”, a partir das políticas públicas para formação em cultura e artes, planejadas de formas transversal entre os Ministérios da Educação e da Cultura, pelo atual governo federal. Dando foco particularmente àqueles programas e projetos que envolvam as Instituições Públicas de Ensino Superior. 

Dentre os participantes da Mesa, estiveram presentes o Secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC) – Fabiano Piúba e a Doutora em Ação Cultural – Isaura Botelho. Os mencionados expositores, destacam sobre a importância de elaboração de um plano emergencial de cultura, visando minimizar os impactos negativos da crise cultural no país, evidenciada durante a pandemia de Covid-19. Ressaltando ainda a necessidade de criação de políticas públicas que visem a democratizar e valorizar os diferentes espaços que fomentam cultura, bem como ações que busquem a melhor qualificação profissional de seus agentes.

Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)
Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)

Dessa forma, para o Secretário, é fundamental construir uma agenda que seja integrada com o Ministério da Cultura (MEC), a fim de juntos criar uma nova educação multidisciplinar no Brasil, afinal “a cultura melhora o IDEB” – Índice de desenvolvimento educacional do Brasil. “Precisamos contrariar a palavra cultura. Nosso maior desafio é saltar da monocultura para a policultura. Pensar a cultura como um saber comum […] haja vista que, não há educação sem cultura, educação e cultura devem caminhar juntas como políticas públicas integradas”, disse o Secretário do MinC. 

Além disso, como meta para o desenvolvimento cultural no país, ele informa que o governo federal assumiu o compromisso de incentivar o ensino em tempo integral nas escolas, de modo que permita às práticas culturais diversas. Ademais, garantir o cumprimento da Lei nº 11.645/2008, que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. 

Debates e discussões da tarde de quinta-feira

A tarde de quinta foi marcada ainda pelo debate com grandes nomes do cenário cultural do país, estiveram presentes: A professora, produtora e gestora cultural – Daniele Canedo; A Doutora em Educação e professora – Beth Rangel; A professora, pesquisadora e membra do FORMACCE/FACED/UFBA – Vanda Machado, e o Pró-Reitor de Cultura da UFMG – Fernando Antônio Mencarelli. 

A discussão iniciou-se com alguns questionamentos feitos por Beth Rangel, a respeito das falas do Secretário do MinC. Ela pontuou que, apesar de concordar sobre a necessidade de criação de mecanismos que garantam o cumprimento da lei de ensino da cultura indigina e afro-brasileira nas escolas, é necessário construir políticas públicas em conjunto com outras ações já existentes em nosso país. “Tem que estar atento às leis mas não aprisionado”, frisa. 

Para a pesquisadora Vanda Machado a escola assume um papel fundamental na construção e transformação de uma sociedade: “A escola é um lugar que permite a possibilidade de ser igual”. Portanto, para ela, governo precisa encontrar meios que possibilite, aos jovens negros, alcançar os mesmos espaços e lugares de pessoas brancas. 

“Só a vocação não basta, se o menino ou a menina que tem interesse não tiver acesso”, Daniela Canelo – Gestora e Produtora Cultural. Sendo assim, ela considera que é preciso pensar de maneira ampla, incluindo setores que, embora não sejam artísticos, dialoguem com a arte, sobretudo, no que diz respeito à democratização do ensino através da desconstrução do ensino eurocêntrico. 

Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)
Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)

Além disso, a produtora cultural reconhece as deficiências em termos de acesso à informação. Assim, sugere que o governo precisará discutir também sobre a criação de políticas públicas que permitam a plataformização da cultura em diferentes contextos e espaços. Afinal, para ela, de nada adianta focar, tão somente, na formação de novos gestores, se não houver diálogo com a população “arte não consegue chegar”. 

Fernando Antônio Mencarelli propõe que as Universidades, sobretudo as de ensino público, devem ser convocadas para as discussões do governo sobre a Cultura. “Somos também uma instituição artística e cultural. Somos parte fundamental nos pilares de extensão, ensino e pesquisa”, finaliza ele. 

Programação 

O evento contou com as apresentações de artistas e estudantes das Escolas de Dança, de Música e de Teatro, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 

Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)
Fotografia: Zeza Maria (@zezamaria)

A noite teve ainda, no Instituto Goethe-Institut em Salvador, a Roda de conversa – Perspectivas para o audiovisual brasileiro, uma homenagem a Roland Schaffner, Orlando Senna e Guido Araújo, personalidades que marcaram a cena cultural baiana. 

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