Estúdios de games jogam a fase pandemia

Confinamento impulsiona o crescimento do mercado de videogames e empresas precisam se adaptar ao cenário 

Ruan Amorim

Um dos efeitos colaterais do confinamento gerado pela pandemia tem se manifestado por meio de horas de concentração em frente às telinhas dos smartphones, dos computadores e consoles. Dessas ações surgem uma adaptação da frase “Todos os caminhos levam a  Roma”. Agora, “Todos os aparelhos levam aos  games”.

Segundo os dados divulgados pela Superdata, consultoria do grupo Nielsen especializada no setor, com o isolamento social, em novembro de 2020, o total de gastos em jogos digitais bateu o recorde de US $11 bilhões, valor 15% maior que o arrecadado no mesmo mês em 2019. Além disso, o cenário conta com boas perspectivas de crescimento. De acordo com a Newzoo, até o final de 2023, o mercado de jogos no mundo pode alcançar US $200 bilhões.

Apesar do setor de videogame ser um dos poucos que tem conseguido bons resultados durante a crise sanitária, os estúdios que desenvolvem esse entretenimento tiveram que se adaptar às limitações impostas pelo cenário e buscar estratégias para melhorar seus desempenhos em meio ao boom do mercado. Para entender como foi esse processo, a Agenda conversou com profissionais de três empresas que atuam nesse segmento em Salvador e com uma pesquisadora da área.  

Uma nova fase: o jeito de jogar mudou

Felipe Pereira, 35, game designer e fundador da Aoca Game Lab, explica que a pandemia impulsionou diversas reinvenções na indústria de desenvolvimento de jogos, algumas boas, outras, nem tanto. “As positivas estão conectadas com as pessoas estarem buscando mais espaços de entretenimento. Então, a gente tenta entender como se conectar com o nosso público.  As negativas dizem respeito à crise sanitária; à questão da saúde e do trabalho. Nós trabalhávamos presencialmente e tivemos  que aprender na força os novos métodos de exercer a profissão”.  

Já no estúdio Sinergia Games, a adaptação para home office não foi tão difícil.  Esse modelo de trabalho já era uma realidade na empresa. Adotá-lo de uma vez, por influência do contexto, contribuiu bastante para a conexão da instituição com profissionais de outros lugares do Brasil. “Facilitou bastante para a gente porque estamos trabalhando com pessoas de outros estados, onde tem mais disponibilidade dos perfis que a empresa precisa”, explica Christiane Ribeiro, sócia-fundadora da Sinergia Games.

Falha encontrada no jogo: a disparidade 

Embora o cenário atípico causado pelo coronavírus tenha impulsionado o crescimento do nicho, o ecossistema de empresas que desenvolvem jogos em Salvador ainda é pequeno e tímido em relação aos de outras cidades. De acordo com um estudo feito pela bandeira de cartões Visa, as transações financeiras feitas nas principais plataformas e consoles de jogo cresceram 140% em 2020. São Paulo e Rio de Janeiro têm a maior concentração de operações financeiras. 

“O Mercado de Salvador ainda é bem incipiente, ainda está em desenvolvimento. Ele alterna momentos de muita exposição com momentos de invisibilidade. Assim é,  de certa forma, uma coisa muito inconstante, o que o torna difícil”, desabafa Pereira.

Para contornar a disparidade que acontece no mercado de games entre grandes estúdios que já nadam em águas internacionais, jogam com os tubarões do setor e são sediados em cidades com um cenário sólido, e as pequenas empresas da capital baiana, é necessário pensar novas estratégias.

Então, foi isso que fez o CEO da “Strike Games”, Alexandre Santos.  Com a intenção de aproveitar o aquecimento gerado na economia da indústria de entretenimento, na Strike, a produção de games passou a ser segundo plano. A empresa focou em oficinas formativas para professores que querem aprender a criar jogos. “Por trabalhar com formações que ensinam a utilizar e criar jogos, conseguimos aproveitar bem o cenário, pois os treinamentos são online e, assim, temos vendas no Brasil inteiro”, afirmou Santos. 

Para zerar o jogo: união e resistência
“A união faz a força”, um clichê, que segundo a pesquisadora e  pós-doutora em Jogos eletrônicos e aprendizagem, Lynn Alves, faz todo sentido no universo dos games. Para ela, a falta de relação profissional entre os estúdios de Salvador enfraquece o cenário local.  “Uma coisa que fragiliza  o ecossistema é a falta de integração entre as empresas, porque se você fortalece os vínculos, os grupos que existem podem alcançar objetivos mais alvissareiros”, explica.

Mesmo diante de grandes dificuldades, que foram intensificadas com a crise na saúde mundial, como a competição com grandes estúdios, a falta de consolidação do mercado de criação de jogos em Salvador e as reinvenções para continuar realizando o ofício, os pequenos estúdios resistem.  Segundo Pereira “Passar por esse momento de pandemia é um fator a mais de complicação. Porém, ao mesmo tempo, a gente segue, temos muita convicção do que queremos, quais são os nossos planos, as metas”.

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