ACCS da UFBA promove oficina de dança afro inclusiva

Participantes puderam aprender um pouco sobre a dança afro e refletir sobre a inclusão de pessoas com deficiência nos diversos espaços e na dança

Por Lua Gama

Inclusão, dança, representatividade e muita animação. Essas foram as marcas da oficina Dança de Rainhas: Dança Afro e Deficiência, promovida pela ACCS Acessibilidade em trânsito poético, que integrou a programação da semana inaugural da Escola de Dança deste semestre. O evento aconteceu no dia 22 de fevereiro, no Teatro Experimental da Escola, com a presença das coreografas Josy Brasil e Graziela Santos, que ministraram a oficina.

Para acompanhar os passos de dança afro ensinados pelas coreógrafas, a oficina contou com o som do percussionista Gilberto Santiago e do cantor Vinicius Lima, que tocaram músicas conhecidas do Ilê Aiyê. Além da oficina, o evento teve também um bate-papo  mediado pela professora da Escola de Dança Marilza Oliveira. Todo o evento contou com intérpretes em Libras e monitores para que as pessoas com deficiência pudessem participar da oficina.

A convidada de honra, Josy Brasil, foi a primeira mulher cadeirante a concorrer o título de Rainha do Ilê no concurso Deusa do Ébano promovido pelo bloco Ilê Aiyê, desde que o concurso foi criado há 40 anos. Ela não chegou ao final, mas logo depois foi convidada a participar do concurso Rainha do Muzenza, do bloco afro Muzenza. Desta vez, ela foi coroada a Rainha Muzembela deste ano.

(Foto: Christiana Lima/Divulgação)
(Foto: Christiana Lima/Divulgação)

 

O concurso
Para Josy, ter participado da seleção do Ilê serviu como exemplo de que pessoas com deficiência podem ocupar os diversos espaços da sociedade.

“Fiz a seleção e não passei, mas saí com a sensação de que nada poderia me impedir. Saí com uma sensação de leveza. Um passo já foi dado, agora vou ver onde mais eu posso chegar”, conta.

A experiência reforçou a certeza de que ela sempre teve de que não é incapaz de nada por conta de ser cadeirante.“Eu sempre tive dentro de mim que, independente de qualquer situação, eu poderia chegar em qualquer lugar e de qualquer forma. Sempre tive essa certeza e quando saí de lá, essa certeza veio muito mais forte”, afirma.

Graziela Santos foi responsável pela preparação artística de Josy para o concurso do Ilê e também participou por algum tempo da ACCS, experiência na qual ela diz ter compreendido que é possível que todos, independente da capacidade física, podem ser incluídos na dança.

“Através da ACCS eu passei a entender que cada corpo encontra a sua dança, independente das suas eficiências. A capacidade de uma pessoa com deficiência física de se mover é diferente da minha, mas isso não a torna deficiente”, pondera.

Ela estudou e pensou em como poderia adaptar os movimentos da dança afro ao que o corpo de Josy permite. “A maior parte da preparação dela foi feita da cintura pra cima e percebi a vastidão de movimentos nessa parte do corpo e que poderíamos trabalhar as pernas de uma outra forma. Procurei me aproximar ao máximo do que o corpo permitia”, explica.

Inclusão
Um dos coordenadores da ACCS, o professor da Escola de Dança Edu O., é cadeirante e ressaltou a importância de evidenciar que a escolhida para representar o Muzenza neste ano é uma mulher com deficiência. “Eu acho importante frisar porque é um espaço totalmente de reclusão, pois quando eu me vejo ‘rainha’? Nunca! Por isso é importante frisar para que as pessoas com deficiência também se vejam nesse lugar. Traz a visibilidade de um corpo que  invisibilizado o tempo inteiro”, defende Edu.

Graziela conheceu Josy no aniversário do Ilê Aiyê e, após o encontro, propôs que Josy participasse do concurso. “Isso me fez ver que o corpo dela não é diferente por estar em uma cadeira. Eu enxerguei a possibilidade que todos nós temos de ser Deusa do Ébano. Em nenhum momento eu enxerguei que isso seria impossível, pra mim sempre foi possível”, disse.

Sobre a coroação de Josy como Rainha do Muzenza, Graziela acredita ser importante a inclusão de mais pessoas com deficiência nos concursos pela representatividade e pelo potencial que essas pessoas possuem. “É importante que a gente trace esse olhar, enxergue o que é esse corpo, nesse movimento com as suas possibilidades e não um coitado que está ocupando um espaço. Esse espaço é alcançado, conquistado e não foi dado como prêmio de consolo’, salienta.  

A Ação Curricular em Comunidade e Sociedade (ACCS), Acessibilidade em Trânsito Poético, é promovida pela Escola de Dança da UFBA há quase 10 anos, aberta para alunos de todos os cursos da universidade. Ao longo dos semestres são desenvolvidas diversas atividades relacionadas a dança voltadas para pessoas com qualquer tipo de deficiência, dentro e fora da universidade, como oficinas e palestras que buscam provocar reflexões que contribuam para a mudança de exclusão em relação às pessoas com deficiência. Mais informações sobre a ACCS podem ser acessadas através do site.

Com registros de Nei Lima e edição de Edu O, confira no teaser divulgado pela ACCS um pouco de como foi a oficina.

 

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