Mês da Dança: Escola da UFBA avança no ensino das manifestações populares

Atualmente as danças populares brasileiras fazem parte do currículo da faculdade de Dança da UFBA

Por: Alana Bittencourt

Abril é conhecido como o mês da Dança e, especificamente no dia 29, dançarinos do Conselho Internacional de Dança (CID), órgão ligado à UNESCO, celebram o dia Internacional da Dança.

No país, temos como referência na área a Escola de Dança da UFBA que, apesar dos 60 anos de existência, continua inovando em sua unidade, como nos últimos semestres, quando introduziu uma nomenclatura específica para o componente Danças Populares. Disciplinas como estilos do corpo com ênfase em danças populares, cultura indígena e afro-brasileiras, são oferecidas aos estudantes de graduação.

Professores e alunos veteranos relatam que anteriormente não havia ênfase nessa área da dança“Eu senti muita falta. Estou no 6° semestre e só passei a ter esses ensinamentos a partir do 5°, e é com o que eu quero trabalhar”, relata Tuane, estudante de licenciatura.

O cenário começou a mudar em 2016, com a abertura de um concurso, pensado para inserir oficialmente esses saberes no currículo. Aliado a isso, foi realizada uma reforma curricular nas ementas e nos componentes, que contemplou os ritmos nacionais na formação do profissional em dança.

Danças populares virou um componente obrigatório da unidade de ensino
Danças populares virou um componente obrigatório da unidade de ensino

O professor Denny Neves ressalta que a cultura popular sempre esteve presente na Escola, porém, era colocada à margem dos principais conteúdos na instituição

Na verdade, todas as perspectivas de experimentação sempre foram em grupos ou movimentos de dança, não dentro da formação curricular. Mas existiram trabalhos muito potentes que partiram da pesquisa e da prática dessas danças dentro da academia. Porém, só oficializamos recentemente como componente curricular, o que faz toda diferença porque temos leis que garantem o ensino da cultura afro-brasileira e indígena a muitos anos.”   

Projeto pedagógico
No entanto, a direção da Escola de Dança salientou que a faculdade sempre teve as danças populares na sua grade, destacando a participação da professora folclorista Hildergardes Viana, que convidava mestres de capoeira para participar de suas aulas.

A Escola reconhece que a inclusão de estudos específicos sobre as danças afro-brasileiras, solicitada pelos movimentos organizados e a própria sociedade, proporcionou grande avanço após o concurso denominado “Estudos do Corpo com Ênfase em Danças populares, Indígenas e Afro-Brasileira”. O componente, específico para essa área, permitiu a contratação de profissionais como a mestre Marilza O. da Silva, o mestre Fernando Ferraz e Denny Neves e a pesquisadora Amélia Conrado.

Segundo a coordenação do curso, os projetos pedagógicos da Escola de Dança da UFBA são elaborados de acordo com os requisitos educacionais e se organizam como disciplina e módulos. Assim, as danças populares brasileiras, principalmente as de origem africana, estão no currículo de maneira transversal.

Escola de Dança destaca os avanços que aconteceram na área nos últimos semestres
Escola de Dança destaca os avanços que aconteceram na área nos últimos semestres

Danças populares ou folclóricas?
O professor Denny Neves explica que o pensamento sobre o folclore foi instituído no Brasil na década de 50, durante a ditadura militar, quando existia uma perspectiva de controle de liberdade de expressão. Para ele, o folclore foi eleito para representar a cultura popular nacional e construir uma identidade brasileira hegemônica, com objetivo de “vender” a diversidade do Brasil.

Por causa disso, o folclore não representa a importância da resistência que o popular traz, segundo o professor. Na visão do docente, o folclore exibe um país pluri étnico, mas descarta o real saber popular que é a consciência política e crítica que está intimamente  ligada às manifestações culturais brasileiras.

Professor Denny explica a diferença das danças folclóricas e populares
Professor Denny explica a diferença das danças folclóricas e populares

“Esse pensamento de folclore que não contempla os saberes de construção crítica que está dentro das manifestações culturais brasileiras se tornou também ensino obrigatório na educação superior. Então, ele surgiu dentro das áreas humanas: filosofia, educação, pedagogia…mas esse folclore é maquiado e preocupado em vender a imagem de um Brasil maravilhoso. O popular é diferente. É dinâmico, se refaz e sempre levanta a bandeira de reivindicação e resistência”, argumenta o professor.

A Escola de Dança
A Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia foi fundada em 1956, um ano após a fundação da Escola de Música e de Belas Artes, formando o pilar acadêmico na área de artes na Bahia. Com isso, apesar da falta de uma estrutura mais especializada e consistente em seu início, o curso foi pioneiro no Brasil por ser o primeiro específico em nível superior de dança.

A principal responsável pela criação da Escola de Dança foi a bailarina, professora e coreógrafa polonesa Yanka Rudzka, convidada pelo reitor Edgar Santos para ocupar o cargo de diretora, após realizar uma pesquisa sobre folclore brasileiro patrocinada pelos Diários Associados, em 1954. Yanka também criou o Grupo de Dança Contemporânea da Bahia, composto por alunas da escola e desenvolveu um currículo básico, com ênfase numa abordagem artística que privilegiasse o ato criativo, baseado na sua formação expressionista.  A instituição foi pioneira novamente ao implantar, em 2006, ano do cinquentenário da Escola, o primeiro Programa de Pós-Graduação em Dança (PPGD) do Brasil e da América Latina.

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