Confira como foi a abertura e os destaques do primeiro dia do Enecult

A Agenda fez um resumo de tudo o que rolou no primeiro dia

do Enecult e traz para você em primeira mão

 

Por Maysa Polcri e Ruan Amorim

 

A 17° edição do Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult) está sendo realizada entre os dias 27 e 30 de julho de maneira online, com transmissão pelo Youtube, e conta com a participação de cerca de 1,5 mil pesquisadores de todo o Brasil. O tema central desta edição é uma continuidade das temáticas de 2019 (“Menos ódio, mais cultura”) e 2020 (“Cultura é vida”). “A cultura na encruzilhada”, reflete sobre o momento que atravessamos e traz para o centro dos debates uma perspectiva humana da cultura como lugar de construção de afetos e de fortalecimento da esperança. Confira abaixo um resumo com os destaques do primeiro dia do encontro.

 

Abertura

“O que é isso, a cultura na encruzilhada?”, com essa pergunta o ator Mário Gusmão faz a abertura da 17° edição do Enecult. Com a presença do Senador Paulo Rocha (PT), da cantora e compositora Margareth Menezes e da professora Natalia Coimbra, o evento pautou, em meio a poemas e músicas, o cenário de ausência de políticas culturais e como isso coloca o setor e seus profissionais em meio a uma encruzilhada.

Em análise ao panorama cultural brasileiro,  a influência, tanto da pandemia quanto do Governo Federal, é colocada em evidência pela professora e também vice-coordenadora do projeto Natalia Coimbra. Para ela, embora a cultura esteja sendo negligenciada nesse período, a sua importância se torna cada vez mais nítida.

“A conjunção perversa da pandemia descontrolada com a desastrosa atuação político-cultural da gestão federal levou o campo cultural brasileiro a uma profunda crise. Essa, por sua vez, demonstrou, de forma inegável, a relevância da cultura mediada por meio de diversos suportes. Ela tem sido vital para a saúde de pessoas privadas de suas relações sociais e afetivas”.

A proposta da Lei Paulo Gustavo também ganhou destaque na discussão. “O Fundo Nacional de Cultura (FNC) tem a função de financiar as ações culturais populares. A Lei Paulo Gustavo vem para fazer esse financiamento chegar nessas ações e fortalecer a cultura popular”, é o que explica o senador e  autor da lei, Paulo Rocha. A proposta prevê o investimento de 4,3 R$ bilhões para a esfera cultural até o final de 2022.

Representante direta do campo, a cantora Margareth fechou a cerimônia de abertura do Enecult com falas que elucidaram o telespectador sobre as dificuldades de ser artista no período da crise sanitária. Além disso, também prestou solidariedade às famílias enlutadas por causa da covid-19.

 

Marca Lugar, Cidades e Cidadania

A mesa intitulada Marca Lugar, Cidades e Cidadania foi a primeira a ser apresentada no Enecult. Os pontos principais dos trabalhos discutidos foram as tensões existentes entre o turismo e políticas públicas voltadas aos habitantes das cidades e, além disso, as divergências entre áreas privilegiadas da cidade e as que estão à margem do circuito cultural vendido pelo turismo. “A nossa aposta é que a partir de um trabalho de comunicação pública e maior participação dos habitantes na construção de planos municipais de turismo e cultura, será possível pensar em outros modos de viver a cidade”, afirmou o coordenador da mesa e professor do PósCom da UFBA, Adriano Sampaio.

A mesa coordenada contou com a participação da doutoranda do PósCom, Mariana Miranda, que com a apresentação da tese A Gestão Pública da Cultura em Salvador e Lisboa: Marca Lugar, Democratização e Descolonização explicou as diferenças e semelhanças das formações da marca lugar das duas cidades com o objetivo de contribuir para que Salvador tenha um turismo com maior participação dos habitantes. Já o doutorando do PósCom e professor da UFOB Ronei Souza apresentou o trabalho Andar com Fé Eu Vou: Análises e Reflexões sobre as Romarias no Santuário de Bom Jesus da Lapa. Em sua tese, Ronei pesquisa e disserta sobre a importância do turismo religioso na cidade. A mestranda do PósCom Sara Mariano também apresentou seu trabalho de pesquisa intitulado Cachoeira Jóia do Recôncavo: A Construção da Imagem da Cidade, no qual apresenta dados sobre como a cidade tem sido apresentada pela mídia. Ao final das exposições, houve um momento para perguntas, e, entre outros assuntos, os pesquisadores falaram sobre o impacto da pandemia na realização de seus trabalhos.

 

O Emergencial e o Emergente nas Políticas e Práticas Culturais no Brasil da Pandemia

A segunda mesa coordenada do primeiro dia do Enecult debateu e analisou como a pandemia vem afetando a cultura e como a cultura, enquanto campo institucional, político e organizacional, se reinventou neste período. De acordo com o coordenador da mesa e professor do PósCultura da UFBA, José Márcio Barros, “Se a pandemia aumentou a vulnerabilidade dos diversos setores culturais, talvez seja legítimo e urgente se perguntar que capital social a crise e a Lei Aldir Blanc oportunizaram emergir”.

A produtora cultural e pós-graduanda da Faculdade Latino Americana de Ciências Culturais, Luisa Hardman, contribuiu para a mesa com reflexões acerca das experiências proporcionadas pela Lei Aldir Blanc. Segundo ela, a lei serviu para aproximar o Estado da sociedade, além de mostrar a importância de se conhecer o setor cultural para que se façam políticas públicas mais assertivas. Outro participante da mesa foi Max Maciel, coordenador pedagógico do RUAS (Rede Urbana de Ações Sócio Culturais) e co-criador do LeCria (Laboratório de Empreendimentos Criativos). Max refletiu sobre os impactos da Lei Aldir Blanc nas ocupações culturais, principalmente sobre as pessoas que passaram a se enxergar como produtores culturais,  em especial no Distrito Federal.

Já o professor da UECE Alexandre Barbalho, apresentou a pesquisa A Cultura em Tempos de Covid: Uma Análise das Políticas Estaduais de Cultura Voltadas para o Contexto da Pandemia. Como um dos resultados da pesquisa, o professor citou a importância do engajamento e mobilização dos agentes culturais nas definições das políticas públicas. Depois de cada convidado falar por cerca de 20 minutos, foi aberto um bate papo que contou com participação dos espectadores.

 

Diálogos Emergentes: Enlaces Culturais Brasil-Portugal

Na terceira mesa, o livro Enlaces Culturais Brasil-Portugal foi lançado. Organizado pelos professores Albino Rubim e Urbano Sidoncha, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Beira Interior (UBI), respectivamente, a obra traz 12 textos de 17 autores diferentes, portugueses e brasileiros. Os temas discutidos no projeto editorial são diversos, vão de políticas públicas nas universidades brasileiras e portuguesas até questões identitárias que envolvem as duas nações. “É uma constatação recíproca das realidades culturais do Brasil e de Portugal”, explica Sidoncha.

Para o debate sobre o exemplar em questão, quatro autores foram convidados: os portugueses Paulo Serra (UBI) e Miguel Real (UBI) e as brasileiras Laura Bezerra (UFRB) e Rita Aragão (UFBA). Os escritores falaram sobre as semelhanças e diferenças entres os países, cada qual, simultaneamente, olhando para a sua realidade e para a realidade do outro.

 

Brilho e Resistência: mesa em homenagem à Baga de Bagaceira 

O que encerra a programação do primeiro dia do Enecult é uma homenagem ao ativista de gênero Baga de Bagaceira, que faleceu em 2020 vítima de uma síndrome respiratória grave. “Baga de Bagaceira era um pesquisador inquieto, extremamente comprometido, uma pessoa combativa e gentil”, é o que diz  Renata Pitombo, que foi professora e orientadora de Baga no mestrado e doutorado.

Baga de Bagaceira era natural de Pojuca, formado em Jornalismo e mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e cursava o doutorado no Pós-Cultura. Atuante e ativista, lutava pelos direitos LGBTQIA+. Levando em consideração a sua trajetória, a mesa traz à tona e reverencia suas pesquisas sobre gênero e sexualidade.

Os palestrantes foram Leandro Colling (vice-coordenador do Pós-Cultura), Renata Pitombo Cidreira (professora da UFRB), Hanna Rodrigues (doutoranda do PPGAC/UFRJ e parceira de Baga no mestrado do PPGCOM/UFRB) e Silvia Leme (artista visual e autora do livro fotográfico Armadura Queer, in memoriam de Baga). Figuras que, de alguma forma, acompanharam as inquietações do ativista e pensaram com ele novas formas de existir e resistir.

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