Fraude: a diferença em foco

*Por Natácia Guimarães – repórter voluntária da Agenda Arte e Cultura

“Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar”. A frase de Drummond foi um dos pilares da 11ª edição da revista Fraude, publicação do PETCom (Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Comunicação da UFBA). O lançamento digital ocorreu no sábado, 21 de dezembro, no Cine Teatro Solar Boa Vista, em Brotas. A revista, realizada pelos alunos do PetCom teve como capa e tema central da festa a  matéria intitulada Bonecas de Montar – escrita pelos estudantes Renata Farias e Tiago Sousa.

A matéria principal foi proposta pela bolsista Nathália Luna, com intuito de se debruçar sobre o universo transformista. “Houve o critério apuração, relevância do tema – por ter relação com homossexualidade -, mas, principalmente, por ter muito a ver com a Fraude 11. A revista está se renovando, ou melhor, transformando! Colorida”, conta Renata sobre a escolha da matéria como capa.

A experiência de pesquisa e criação foi algo único. “Sempre é muito interessante escrever uma reportagem como essa, principalmente quando se entra em contato com um universo completamente desconhecido, como foi meu caso com a matéria de transformistas. Foi interessantíssimo conversar com esses artistas, descobrir o que está por trás daquelas personagens, o que os levou até onde estão agora… Entrar em contato com outras experiências de vida é sempre muito enriquecedor”, completa.

O Cine Teatro Solar Boa Vista foi palco de uma festa que democratizou a diversidade. A festa foi iniciada com performances das transformistas Ayana Vitória, Rainha Loulou e da Drag Queen Sfat Auermann, que animaram a plateia repleta de estudantes da UFBA que foram prestigiar os colegas e interessados pelos mundo transformista. Logo após as apresentações, a cantora Aila Menezes continuou o show até o final da festa. O ambiente estava ornamentado de acordo com o tema: plumas, cadeiras e outros objetos glamourosos.

De acordo com a matéria de capa da revista Fraude, o cenário transformista em Salvador e no Brasil ainda passa por muitas dificuldades no reconhecimento – tanto artístico como financeiro. A maioria desses artistas trabalham em boates noturnas e recebem um cachê que não os possibilita sobreviver. Muitos precisam buscar outras fontes de renda. A questão do preconceito, por sua vez, ainda é latente. A Bahia lidera pelo sexto ano consecutivo o ranking de estados mais homofóbicos. No blog “Quem a homofobia matou hoje?”, criado pelo Grupo Gay da Bahia, a mais antiga entidade brasileira de defesa dos homossexuais, é possível ver  registros de violências baseadas na orientação sexual e na identidade de gênero das vítimas.

Foto: Lara Perl/Labfoto
Alunos do PETCom.
Foto: Lara Perl/Labfoto

A nova revista Fraude contém novidades que condizem com o cotidiano dos jovens que a realizam e o lançamento digital inovou através da possibilidade de leitura da revista através do QR Code – aplicativo para celular que possibilita a leitura digital. “Essa revista é toda colorida. Não só isso, a revista está toda repaginada. Tentamos manter a qualidade dos textos, mas criar o recurso visual na revista”, disse o  professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e tutor do programa, Fabio Sadao. Os desafios na elaboração das matérias possibilitaram uma revista com variados conteúdos, como contou a bolsista do programa Thamiles Alves .“A minha matéria sobre naturismo foi um desafio muito grande. Queria que minha matéria fosse diferente pra revista. Ficamos 4 meses pesquisando sobre o naturismo. Foi uma experiência muito boa”,  conta.

Novidades A revista contém uma nova sessão chamada Decifraudando. A sessão trata de uma mini entrevista com alguém influente da  capital baiana falando sobre a sua relação com a cidade. O primeiro escolhido foi o Sambista baiano Riachão. A entrevista elaborada pelos alunos Lucas Gama e Camila Hita trouxe uma abordagem inovadora por traçar um paralelo entre a relação do cantor e compositor com sua vida pessoal, a música e sua relação com a cidade. A experiência acrescentou na trajetória acadêmica e, mais importante, no crescimento pessoal dos repórteres. “Foi a primeira matéria que fiz pra Fraude. Foi uma experiência de aprendizado enriquecedora. Ele é um sambista de 90 anos e representa um retrato geracional da cidade. Nasceu e mora até hoje no Garcia. Uma mescla de passado e presente do mesmo bairro. O discurso dele condiz com a realidade de alguém que vive inteiramente na/para a  cidade,” reflete Lucas Gama.

As diversidade entre matérias refletem a própria diversidade do jovens que compõem o programa e fizeram a revista. A diagramação e edição é toda feita pelos alunos  – e em nada deixam a desejar de uma revista comercial. “Sempre achamos que, por ser feita por alunos, a revista não seria tão completa. Me surpreendi com a diversidade de temas e empenho dos alunos para realizar um projeto tão bem feito”, opinou a aluna de Medicina Louise Garboggini.

A revista Fraude é uma publicação do Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Comunicação (Petcom) da Universidade Federal da Bahia. O PET é um programa mantido pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, e sua impressão é paga por meio de edital da Pró-Reitoria de Extensão (Proext).

Confira aqui a edição digital da Fraude.

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