Um instante de poesia e dois dedos de prosa

“A arte é um momento de descanso da realidade”. Não houve em toda a noite melhor expressão que descrevesse o último Pós-Lida, recital de poesia e alguma prosa, realizado no sebo Porto dos Livros, na Barra, dia 1° de agosto.

Entre o dramaturgo Gil Vicente Tavares e a cantora napolitana Federica Cammarota, convidados especiais da 29ª edição, o anfitrião do projeto James Martins recitou poemas – seus e alheios – na medida em que descontraidamente interagia com o público.

Como de costume, a arte foi a protagonista da noite. Presente via o aplicativo skype, Federica, entre uma canção e outra, falou sobre a antiga poesia napolitana e do modo como esse passado ainda persiste na cidade. Compôs ainda o retrato de Nápoles há 50 ou 100 anos, antes da unificação da Itália: uma pequena Paris. Apaixonada pela música brasileira, Federica despediu-se cantando Eu sei que vou te amar, clássico de Tom Jobim.

Foto: Amana Dutra
Foto: Amana Dutra

Filho do poeta e romancista Ildásio Tavares, Gil Vicente aproveitou a noite para recitar e cantar alguns dos seus poemas prediletos, entre eles o que musicou de Castro Alves, “Laço de Fita”, além dos de seu pai. Leitor de Florbela Espanca e de Fernando Pessoa, o compositor criticou a apropriação que atualmente se faz da arte e defendeu a liberdade absoluta do pensar. “Eu não consigo imaginar um pensamento que não seja livre”.

 

Foto: Amana Dutra
Foto: Amana Dutra

Martins, incisivo e sagaz como sempre, não se absteve de alfinetar a intelectualidade brasileira, adjetivando-a de “desarmada, pouco erudita, burra” e usar o artista Caetano Veloso como exemplo de “bode expiatório” dessa intelectualidade. Na opinião do poeta, o Brasil precisa superar Caetano. “Precisamos forjar um distanciamento histórico de Caetano [que é] um paroxismo do próprio pensamento intelectual”. Em consonância com Gil, o anfitrião do Pós-Lida defendeu ainda a ideia da arte pela arte. “Arte se faz com arte, não com boas causas”. Para ele, “a arte se resolve na estética, se resolve na própria arte, na técnica”.

Foto: Amana Dutra
Foto: Amana Dutra

Com a máxima “eu não preciso ser intelectual, eu sou poeta”, James se despediu da plateia e abriu o microfone para que o público pudesse recitar suas criações ou de outrem. Em síntese, o que fica dessa edição é a expectativa para a próxima, dia 15 de agosto, que terá como tema o universo percussivo baiano e contará com a presença dos percussionistas Ícaro Sá, Luan Costa e Lucas Maciel.

Saiba mais sobre o Pós-Lida clicando aqui.

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