Um coletivo de poesias

Luiza Leão

         Transitar pelos ônibus da cidade para revelar os encantos da poesia e incentivar a leitura. Esses foram os motivos que, em 2012, fizeram a produtora cultural Luciana Estrela se juntar aos poetas Luan Gusmão, Uri Menezes, Marcos Cacequi e Tiago Oliveira, para dar vida ao Poesia em Trânsito. O projeto é independente e promove a difusão da literatura pela capital baiana através de oficinas, palestras e apresentações em escolas, praças, centros sociais e eventos culturais.

        Em 2013, o coletivo ganhou um edital promovido pela Fundação Gregório de Mattos no valor de 30 mil reais, o Arte em Toda Parte. Com a quantia, além dos cinco integrantes do Poesia em Trânsito, outros 20 poetas convidados puderam circular em dez microrregiões de Salvador recitando poesia nos ônibus. O maior retorno, segundo Estrela, foi a formação de arte-educadores. Na ação, foram distribuídos livretos contendo poesias de escritores renomados como Castro Alves, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes.

     Recentemente, em 2015, Uri e Luan venceram um edital da Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba) em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão, através do qual foram produzidos 5 mil livretos com textos do coletivo Poesia em Trânsito e também de estudantes e escritores da Ufba. O projeto de incentivo ao escritor também os permitiu realizar um sarau no campus de Ondina, em setembro.

Independente dos prêmios em editais, o grupo sobrevive com a maneira tradicionalmente conhecida pelos artistas: passando o chapéu. Durante os três anos de projeto, mais de 500 mil livretos foram distribuídos a valor aberto, ou seja, cada pessoa colaborava com quantia considerada justa, custeando o valor da produção e diminuindo o desperdício de papel.

O olhar dos poetas

         Tiago Oliveira é artista de rua. Faz da poesia e dos seus livros, o seu trabalho e seu sustento. Ao falar da atuação do coletivo, conta que é um fenômeno cada vez mais comum na cidade encontrar artistas fazendo sua arte pelos ônibus. Ele acredita que esta é uma possibilidade que diferencia o transporte público de Salvador de outros lugares do Brasil.

A grande satisfação, segundo Tiago, acontece ao receber relatos de passageiros através do e-mail do grupo. “As pessoas dizem que estavam cansadas, estressadas com o engarrafamento e ao ouvirem a poesia, se sentiram bem. É dessa forma que a gente vê a vida da gente valer”, contou.

          Os passageiros não são os únicos beneficiados com as ações do Poesia em Trânsito. Para Luan Gusmão, essas ações nos ônibus são importantes para suprir a necessidade do fazer artístico do artista. O gaúcho Marcos Cacequi citou as experiências nos coletivos como fundamentais para o sustento do artista de rua, principalmente quando, há um ano, ao chegar na Bahia, teve esse meio como fonte de renda.

         A poetisa e produtora cultural oferece oficinas de poesia, até mesmo sem remuneração. “O incentivo à leitura na infância é uma arma de transformação para a vida inteira”, conta. Estrela cita também que o papel da família é indispensável na educação e comprova que o exemplo deve começar em casa. Não é à toa que seu filho, Benjamim, de apenas quatro anos, já recita poesias. Sobre seu autor preferido, ele fala com um sorriso no rosto que é Castro Alves.

       Os olhares atentos das crianças e a interação dos idosos é algo que envolve os artistas. No coletivo, a troca de energia é contínua e as respostas do público, positivas ou não, são imediatas. “Certo dia, o cobrador se levantou, após recitarmos a nossa poesia, e disse: ‘agora é a minha vez!’ Começou a recitar uma poesia autoral e depois recitou uma de Castro Alves”. Discordando de uma senhora que, em uma das ações, gritou que só Jesus pode transformar a humanidade, Tiago prefere acreditar que o livro, seja ele qual for, pode.

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