Dicas para quarentena: Luana indica 5 contos brasileiros para ler em 5 minutos

Por Luana Lisboa*

Essa é uma lista pensada para você, ser socialmente isolado, que tem vontade de consumir algum conteúdo literário, mas está muito ansioso para conseguir terminar qualquer livro com mais de 100 páginas. É o meu caso. Ou para você que simplesmente prefere passar a tarde no movimento incessante de arrastar o polegar pela tela do celular para assistir o próximo TikTok. Poder admitir sem peso na consciência que ler é a última ocupação que passa pela sua cabeça, agora, pode ser libertador. Mas essa lista também é para você, leitor nato, que devorou 5 livros na última semana. Aqui tem espaço para todo mundo.

Sem ordem específica, esses são 5 contos nacionais que selecionei para vocês aproveitarem durante a quarentena. A maioria perpassa pela temática família, com quem muitos de nós está passando ou de quem estamos sentindo falta durante esse período. Espero que gostem.

Amor – Clarice Lispector
Essa narrativa gira em torno de Ana, mãe e dona de casa. Como na maioria das obras de Clarice, o encanto está na imersão psicológica da protagonista. Ana é uma mulher comum demais, realizando tarefas comuns demais. Até que uma situação cotidiana do acaso a faz sair do modo automático de viver e repensar toda a sua visão de mundo: um homem cego mascando chiclete no transporte público. 

Denso, esse conto coloca o leitor em posição reflexiva sobre sua própria realidade. É parte do livro Laços de Família, publicado em 1960. Disponível em: https://contobrasileiro.com.br/amor-conto-de-clarice-lispector/

Trechos que valem a menção: “Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver”.

 

Feliz Aniversário – Clarice Lispector
Também parte do livro Laços de Família, essa é a história do aniversário de 89 anos de Dona Anita, matriarca da família. Sua filha Zilda prepara uma festa e convida a todos eles, inclusive os que só visitam a idosa uma única vez no ano. Acontece que os convidados passam boa parte da festa absortos neles mesmos e ignorando as vontades e até a presença da aniversariante. É aí que Dona Anita, revoltada, passa a se manifestar.

O conto retrata temas como abandono, negligência familiar e até sociedade de aparências e está disponível no link: http://www.beatrix.pro.br/index.php/feliz-aniversario-clarice-lispector/

Trechos que valem a menção: “Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar á luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos?” 

 

Baleia – Graciliano Ramos
Essa indicação serve tanto para os que já leram Vidas Secas e querem relembrar o capítulo mais marcante da obra quanto para os que não leram, mas nutrem alguma curiosidade pela cadelinha mais famosa da literatura nacional.

A narrativa gira em torno de uma família de retirantes sertaneja. Baleia, animal de estimação, está muito doente e o patriarca, Fabiano, decide pôr fim ao seu sofrimento. Só que a partir daí, o ponto de vista da história se torna o dela. 

 

Da década de 30, sua crítica à desumanização do homem é válida até os dias atuais. Disponível em: http://www.tirodeletra.com.br/conto_canino/Baleia.htm

Trechos que valem a menção: “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás”. 

 

Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos – Conceição Evaristo
Parte do livro Olhos D’água, essa narrativa é, de longe, a mais forte da lista. É uma história, assim como as outras do mesmo livro, de denúncia social, segurança pública e violência urbana. E diferente de qualquer outra, é protagonizada por uma criança. Esse conto é daqueles que apertam o coração.

O livro está disponível no link a seguir para aqueles que fizerem login no site: https://www.passeidireto.com/arquivo/24729713/olhos-d-agua-conceicao-evaristo-completo/14

Trechos que valem a menção: “O irmão de Zaíta, o que não estava no Exército, mas queria seguir carreira, buscava outra forma e local de poder. Tinha um querer bem forte dentro do peito. Queria uma vida que valesse a pena. Uma vida farta, um caminho menos árduo e o bolso não vazio. Via os seus trabalharem e acumularem miséria no dia a dia”.

 

Aí pelas três da tarde – Raduan Nassar
Para o final da lista, escolhi um conto que, assim como o primeiro, propõe a pausa no modo automático em que vivemos. Em um único parágrafo (prolongado), Raduan Nassar incentiva o leitor a incorporar a urgência da realidade e, sem hora marcada, “gozar a fantasia de se sentir embalado pelo mundo”.

Disponível em: http://www.releituras.com/rnassar_tarde.asp

 

*voluntária da Agenda Arte e Cultura

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