Afro Estilo: Afropunk e a moda negra como expressão de identidade e empoderamento

O evento, que acontece neste final de semana, transcende os palcos musicais para se tornar um manifesto de moda e expressão cultural, onde a diversidade e a identidade negra brilham em cada detalhe

Por: Gleisi Silva

afropunk_foto de Matheus L8 (1)Foto: Divulgação

 

O Festival Afropunk Bahia, maior evento de música negra do país, desembarca na capital baiana para mais uma edição. Entre os dias 18 e 19 de novembro, o Parque de Exposições, em Salvador, se transforma em um santuário da cultura afro-brasileira.  O evento, que está em sua terceira edição, reúne mais de 20 atrações de diferentes estilos musicais, como pop, rap, pagodão baiano e MPB.

Muito além da música, o festival é, sem dúvidas, um movimento cultural que celebra a expressão artística, a identidade negra e sobretudo, a moda. Um ponto de encontro onde é possível expressar sua individualidade e estilo. Dessa forma, a moda assume um papel significativo durante todo o evento, pois além de auxiliar na construção da identidade negra, é também uma forma de expressão cultural, social e política.

Para a designer de moda, Natália Junqueira, a proposta do evento é unir e valorizar a cultura negra como um todo. Portanto, o Festival é uma ótima “oportunidade de usar a criatividade e liberdade para se expressar”: “O Afropunk vem como esse espaço para a gente ousar e usar aquilo que sempre tivemos vontade, mas por diversas razões não conseguimos”.

Assim, os preparativos para o grande dia começam antes mesmo dos portões do Parque se abrirem. Ao anunciar a data, eis que surge o seguinte questionamento: Com que roupa, eu vou?! Garanto que todos que já conhecem, ou já foram em algumas das edições passadas, tem na lembrança algum look marcante, pode ser de um amigo, ou até mesmo de algum desconhecido que cruzou contigo durante o evento. Ou talvez, essa pessoa seja você.

A moda no Afropunk é com toda certa um espetáculo em si mesma. É um lugar onde as pessoas se sentem livres para expressar suas tradições, combinando elementos de moda tradicional com estilos contemporâneos, incorporando cores vibrantes, estampas, acessórios ousados e penteados um mais lindo que o outro.

De acordo com a Stylist de Moda, Beatriz Loren, o Afropunk é um espaço que permite que a pessoa negra celebre suas raízes e histórias. “Vejo que esse festival comunica muito sobre a liberdade de expressão para encontrar suas raízes ancestrais, transcender gerações e ser uma expressão genuína”, ressalta ela.

Além disso, o impacto social  gerado a partir no festival, reflete positivamente no empreendedorismo negro, já que o Afropunk tem o intuito de movimentar uma cadeia produtiva e mercadológica, capaz de impulsionar a economia dos empreendedores locais e periféricos. A designer de moda e dona da loja de roupa @bixacostuna, Tauan Carvalho, ressalta que pensar na moda, através de novas formas de existir e pertencer a algum lugar, impulsiona também a economia criativa.

“Isso aquece a economia e acaba auxiliando a movimentação de uma economia criativa dentro de um determinado lugar, principalmente nas periferias, onde muitos empreendedores de moda estão.”

Sendo assim, a moda passa a ser um elemento fundamental para a comunidade negra, pois cria um espaço de proteção, acolhimento, reconhecimento e manifestação política. “Tudo o que conquistamos foi resultado da busca de dentro para fora dessa rica cultura. Acredito que o movimento está em encontrar o que é seu e criar suas próprias referências, além de ser uma maneira de demonstrar apoio a diferentes causas”, acrescenta Loren.

Por outro lado, embora seja um importante momento para desconstruir padrões, ousar, e especialmente se enxergar, a moda e estilo criado a partir do movimento do Afropunk não pode ser caracterizador de segregação, e nem instrumento de novas formas de preconceito. Carvalho explica que é necessário ter o cuidado e estar atento para não criar novos padrões, que em sua maioria busca excluir aqueles que não se encaixam, já que o objeto do festival é justamente o oposto.

 

 “É um momento que as pessoas podem criar coisas diferentes sem ser podadas, pensar fora da caixinha. Mas ao mesmo tempo, temos que tomar cuidado para não parecer uma crítica negativa para aqueles que preferem ir básico, ou colocar uma roupa simples, do dia a dia, ou até mesmo uma roupa que considera de sair mas que não seja tão pomposa, tão estruturada”.

 

 

Mas afinal, com que roupa eu vou?

 
Horários AFROPUNk (2) (1)
A primeira questão é entender que a roupa é uma forma de expressão pessoal, portanto, vestir-se de acordo com sua personalidade permite que você mostre quem você é ao mundo. Então, nada de querer vestir algo que não goste, apenas para tentar se encaixar.

Uma outra dica, é usar da criatividade e autenticidade. Beatriz Loren, explica que o ideal, antes de tudo: É ser você mesma! “Sempre considere a riqueza de herança ancestral, cultural e familiar dentro de si, repleta de diversas referências. Explore seu guarda-roupa e sua realidade, questionando: ‘Como posso me reinventar com o que já tenho?’ Use sua criatividade, busque inspiração em seus amigos, quebre o tabu da comparação e aproveite o festival como se ninguém estivesse observando você dançando. Lembra daquele show particular que fazemos no chuveiro? Recupere essa memória feliz e liberte-se das amarras”.

 

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A designer de moda, Natália Junqueira, por sua vez, destaca ainda que “não existe roupa certa ou errada”. Assim, o importante é se sentir bem e ser livre para ser quem você quiser. Afinal, a moda é uma forma de arte pessoal. Sendo assim, escolher o que vestir nos permite expressar nossa individualidade e criatividade.

“Falar do estilo da população negra brasileira, é falar de pluralidade. Não existe a forma certa de se vestir para o Afropunk. Lá é uma oportunidade para expressarmos nossa criatividade, mas não significa que o dress code será criativo para todos. Além do estilo criativo, existe o tradicional, elegante, romântico, sexy, dramático e também o básico. É importante entender que a proposta do evento é liberdade, sendo assim, não devemos cair na pressão estética. Se vestir da gente é ser livre!”, finaliza.

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