Encontro debate dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência na UFBA

Evento promovido por ACCS discutiu também as formas de inclusão que são oferecidas pela instituição

Por Lua Gama

Para debater sobre a inclusão da pessoa com deficiência nos diversos espaços da universidade, relatar algumas experiências dentro do âmbito acadêmico e desconstruir preconceitos relativos ao tema, foi realizado na sexta-feira (29), o encontro O Que É Isso? – Acessibilidade e Universidade no Teatro Experimental da Escola de Dança, na UFBA.

O encontro teve a participação do professor de Libras do Instituto de Letras Bruno Ernsen, dos estudantes da instituição, Mateus Rocha e Natália Ribeiro. Contando também com a participação da Professora da UNEB, Sandra Rosa.

O evento foi promovido pela ACCS da Escola de Dança Acessibilidade em Trânsito Poético, coordenada pelos professores da Escola de Dança, Cecília Accioly, Edu O. e pela professora do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde do IHAC Maria Beatriz. Essa é a primeira ação realizada pela ACCS, que pretende promover outros eventos ao decorrer do semestre.

Arte como instrumento de integração: essa foi uma das questões sobre acessibilidade, que a ACCS levou para o público na tarde da última sexta. A professora Cecília Accioly defendeu que a arte deve servir como instrumento de (re)existência, dentro e fora da Universidade.

“Pensar esse lugar da deficiência não apenas como um lugar biomédico, ou a dança como reabilitação, mas sim como forma de ser e estar no mundo como poesia. De existir e resistir na arte”, concluiu Cecília.

O bate-papo foi iniciado pelo professor Bruno Ernsen, um dos três professores surdos da UFBA. Ele contou com a ajuda de três intérpretes de Libras para se comunicar com o público presente. Ernsen realizou um exercício de leitura labial com dois voluntários para que o público entendesse a dificuldade em compreender a comunicação por meio dessa técnica.

Ao perceber que a maioria estava com dificuldade em entender o que os voluntário falaram, ele ponderou que a linguagem de sinais é essencial e deveria haver uma maior divulgação nas escolas.

“A Língua Brasileira de Sinais é de suma importância para os surdos. Uso também a leitura labial, mas existe muita dificuldade não só para mim enquanto surdo, mas para todas as pessoas. Se vocês estivessem no lugar do surdo, vocês iriam perceber esse obstáculo. Por isso preferimos a língua de sinais”, relatou um dos intérpretes.

(Foto: Lua Gama)
(Foto: Lua Gama)

A estudante convidada Natália Ribeiro possui baixa visão e  salienta que é importante que haja um debate sobre acessibilidade nos diversos setores da sociedade. “Quando a gente reivindica que as instituições tenham fácil acesso nos espaços, não é exatamente e apenas para pessoas com deficiência, mas também para qualquer pessoa, para um idoso ou alguém que tenha algum tipo de limitação temporária. É uma causa de todos”, conta.

Falta de acessibilidade na universidade
Bruno relatou também que tem dificuldade em usar a língua portuguesa para se comunicar dentro da UFBA, já que a comunicação por meio da linguagem de sinais é diferente das linguagem oral-auditiva. “Quem é surdo, não consegue escrever perfeitamente bem como uma pessoa ouvinte da língua portuguesa”, esclarece Bruno.

Outro obstáculo relatado pelo professor é o fato de a UFBA não possuir uma sala com equipamentos adaptados, já que algumas instituições públicas dispõem desse recurso. Segundo ele, isso dificulta, por exemplo, nas aulas de Libra e na produção de vídeos adaptados para pessoas com deficiência auditiva.

O estudante de Comunicação na UFBA Mateus Rocha é cadeirante e relatou as dificuldades que ele enfrenta para ter acesso aos laboratórios e as salas de aula, por não haver elevador na faculdade.

“Você é jogado no mundo e ele não é para você. É um mundo feito para uma pessoa que anda, que enxerga, e não abrange todas as necessidades que precisamos para viver igual e sermos uma sociedade melhor”, ponderou.

O universitário conta que mesmo estando em um lugar que, a priori, é para ser um espaço de discussões de temas sociais, a questão de acessibilidade não é debatida pela comunidade acadêmica. “A permanência na universidade de uma pessoa com deficiência é pura resistência. Total resistência ao que o sistema impõe”, afirma.

Para o jovem, é importante que a pessoa que possui algum tipo de deficiência, ocupe todos os espaços dentro e fora do ambiente acadêmico. “Se empoderar é pensar nossa independência não só física, mas como sujeito. A gente não só pode como deve fomentar a cultura, produzir e ocupar esses espaços, mesmo que a estrutura não seja adequada”, concluiu.

Foto: Lua Gama
Foto: Lua Gama

Política de assistência e tecnologias assistivas
A universidade dispõe de um núcleo de assistência para pessoas com algum tipo de deficiência física ou educacional, aberto a toda comunidade acadêmica, o NAPE (Núcleo de Apoio à inclusão do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais). Lá estão disponíveis serviços como: intérpretes de Libras, tecnologias assistivas, como um software de leitura de textos para pessoas cegas ou com baixa visão.

O NAPE oferece um curso de Libras para professores e alunos, psicólogos e assistente social. Intérprete de Libras e psicólogo do NAPE Álon Maurício diz que essas são as formas que a universidade oferece para que mais alunos com deficiência possa fazer parte da comunidade.

“Falar de inclusão não é apenas o estudante estar aqui. Para que a inclusão seja efetiva, esses mecanismos de acessibilidade precisam ser efetivos. Acessar a universidade é bom, mas esse aluno precisa permanecer”, conta.

Outro ponto levantado pelo psicólogo é a questão de gênero e diversidade sexual de pessoas com deficiência. Pensando nisso, o núcleo criou o projeto Diversilibras, que realiza diversas ações informativas dentro desse contexto voltadas principalmente para pessoas surdas.

Outra forma de integração é o recurso de audiodescrição apresentado pela Professora da UNEB Sandra Rosa. Trata-se de um tipo de narração utilizada em vários tipos de arte, seja de uma peça teatral ou filme, para pessoas com deficiência visual. A professora faz parte do Grupo de Pesquisa e Extensão Acessibilidade e Arte da UNEB e defende que a arte deve ser acessível para todos.

Para ela, a dificuldade em fazer esse tipo de arte em Salvador se dá por causa da falta de políticas públicas de inclusão no campo da cultura, recursos econômicos e produtores culturais que queiram desenvolver algum projeto dentro dessa temática.

Durante o encontro, Sandra fez uma demonstração de como funciona a arte inclusiva, com uma audiodescrição da apresentação Se quiser, deixe sua lembrança do Grupo X de Improvisação em Dança. Alguns fones de ouvido foram distribuídos para que as pessoas pudessem ouvir a narração.

A importância em debater o tema
Muito alunos estavam na plateia do evento, entre eles, estavam duas estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFBA. Monica Queiroz conta que acha importante debater o tema e divulgar quais são os canais de acessibilidade que a universidade oferece para que mais alunos com deficiência possam entrar na instituição.

“Quem tem deficiência ainda enfrenta muitos percalços. E importante discutir isso na universidade, levando também para fora. Tem que problematizar mesmo, tem que ser debatido”, ressalta. Já Eliane Santana diz que é importante para os estudantes da área de saúde terem conhecimento sobre o tema, já que é abordado de forma teórica na graduação. Para ela, o ensino de Libras não deveria ser facultativo, mas sim, obrigatório para todos os estudantes.

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