“A Internet é um espaço público”: palestra sobre autonomia tecnológica acontece na UFBA

Loreto Bravo, integrante do projeto que viabilizou a telefonia livre na cidade mexicana de Oaxaca, compartilhou experiência com autonomia tecnológica em evento aberto na FACOM

 

Por Rafaela Oliveira

 

Soberania tecnológica, softwares livres, telefonia alternativa e segurança digital. Esses foram alguns pontos discutidos pela mexicana Loreto Bravo, integrante da ONG Rhizomatica, produtora de rádio e especialista em tecnologias livres, na Faculdade de Comunicação da UFBA no último dia 15 de setembro. Focando na luta pela descolonização midiática, ela relatou suas experiências com as comunidades indígenas de Oaxaca, no México, onde implantou através de um transceptor uma rede de telefonia livre.

A visita de Loreto ao Brasil aconteceu devido ao 13° Fórum Internacional AWID (Associação pelos Direitos das Mulheres e o Desenvolvimento). Com o tema “Futuros Feministas: Construindo Poder Coletivo em prol dos Direitos e Justiça”, o encontro contou com a presença de 1700 participantes de mais de 100 países, dentre elas feministas, defensoras de direitos humanos e ativistas de justiça social. “Como ela já estava aqui, não poderíamos deixar passar essa oportunidade. Nos conhecemos  através da internet, já tinha lido muito sobre o projeto dela no México, mas não sabia detalhes, por isso aproveitamos”, declarou Graciela Natansohn, professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas na UFBA e organizadora do bate-papo.

Durante a apresentação, Loreto relatou a experiência de  soberania tecnológica que foi implantada nas comunidades indígenas da cidade mexicana de Oaxaca, que após sofrerem muito tempo com a exclusão digital, perceberam que somente uma infraestrutura autônoma permitiria o acesso da população à tecnologia. O processo se baseou no modelo de uma rede de rádios funcionando apenas com software livre, que chegou a 17 comunidades. “Não vamos vencer as grandes empresas.É uma luta que já perdemos. Temos que criar novas estruturas”, afirmou.

Produzidos apenas nos Estados Unidos, Rússia e Alemanha, o custo de instalação dos transceptores custou 7 mil dólares. Além de fornecer serviços de telefonia ilimitados, também permitem que os habitantes da comunidade tenham acesso a internet com um custo de 2U$ ao mês. “Internet não é ferramenta, internet é um espaço público, mas as grandes empresas se apropriam disso e constroem regras de uso”, alegou Loreto, ressaltando a importância de se apropriar das novas tecnologias independente de governos e do mercado. Recentemente, o governo mexicano concedeu autorização para a rede de telefonia  operar na região  durante 15 anos renováveis por mais 30.

Apesar de parecer distante da realidade brasileira, iniciativas semelhantes têm sido implementadas entre as comunidades  indígenas e quilombolas . “Essas comunidades  já estão fazendo algum tipo de comunicação, principalmente por radiofrequência e usando IP mascarado para evitar a interceptação”. A informação é de Geísa Santos, publicitária por formação que hoje faz parte do Raul Hacker Club, um grupo de pessoas interessadas em usar, remixar e compartilhar tecnologia de forma colaborativa, indiscriminada e livre.
Para a jornalista Ramayana Barreto, que estava presente no bate papo, o mais importante foi ter tido a oportunidade de refletir mais sobre a apropriação tecnológica presente no mundo. “A palestra me tocou, eu pude perceber que eu preciso me apoderar dessas ferramentas e desse espaço que é público, é nosso”, afirmou.

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