Coletivo de artistas se reúnem a fim de dar uma cara nova para a arte em cerâmica

O coletivo revela que essa edição foi uma espécie de projeto piloto e que já planejam uma segunda exposição

Por Kelven Figueiredo

Os artistas expositores da mostra “Entremeios: desdobramentos do tempo e da terra” se reuniram na Galeria Cañizares, no último dia 29 de junho para um bate-papo com os visitantes. Na ocasião, eles falaram sobre o processo criativo de suas respectivas obras, inspirações, sobre o trabalho do coletivo e também ouviram as impressões do público sobre a exposição que fica em cartaz até o próximo dia 07 de julho.

A mostra coletiva é o resultado do trabalho de seis artista. O coletivo de artistas composto por Eriel Araújo, Luisa Magaly, Mario Vasconcelos, Milena Oliveira, Rodrigo Seixas e Takeo Komorizono se reuniu a fim de explorar e pesquisar a arte em cerâmica misturada a outras linguagens como a fotografia, audiovisual, instalações, sonoras e escultóricas. “Embora cada um tenha seu jeito de fazer e criar, a gente troca experiências, críticas e ideias”, garantem os artistas.

Aluna do mestrado em Artes Visuais e Processos Criativos, Luisa Magaly chama sua obra de “Para dias de chuva: Repouso”. A escultura é o desdobramento de uma ação feita pela artista no Congresso UFBA 70 anos, no ano passado. A ação nomeada de “Para dias de chuva: A terra” consistiu no que a artista chama de “mergulho na terra para depois vir a ser esse repouso petrificado”. Luisa admite que possui planos para desdobrar ainda mais essa obra, já que esta simboliza “um grande desdobramento no meu processo criativo, no meu modo de agir como artista e no modo de pensar a minha obra”.

Aluno da graduação em Artes Visuais, Mário Vasconcelos relata que seu processo criativo de sua obra “Desabrochar do âmago” parte dos desdobramentos de um outro trabalho, intitulado “Sin-signo”. o projeto retrata a importância dos signos para um indivíduo dentro da sociedade como forma de se reconhecer social e culturalmente. A partir da pesquisa sobre os “Signos da Diáspora africana em atravessamentos contemporâneos”, o autor preferiu fazer um recorte no assunto sobre a fertilidade feminina e o feminino presente em todos os seres. Segundo Mário, “o Desabrochar pode ser interpretado como um ato de se conectar ou se reconectar com o feminino, rompido durante o nascimento, assim como as fases de vida de cada indivíduo ou as suas experiências incisas sobre esse corpo”.

Milena é mestre em Artes Visuais e Processos Criativos e admitiu certo fascínio com a ideia de quebrar uma de suas obras. A peça recebe o nome  de “Abrir pedras” e estar relacionada com a visão da artista em ter de lidar com o inesperado e a fragilidade da mesma. Milena revela que fez esse exercício com o intuito de quebrar e tentar ver a beleza do que se parte, ver com outros olhos os possíveis caminhos que se abrem.  “No meu trabalho, eu achava estar protegendo e mantendo uma memória, mas vi que não, a todo momento eu estava ressignificando imagens”. A obra final consiste em fotografias de uma peça desde o  colo de sua criadora até os cacos restantes.  

Takeo Komorizono é formado no Bacharelado Interdisciplinar em Artes e, atualmente, estuda Arquitetura. Sua obra recebeu o nome de “O que te liberta também te aprisiona” e consiste numa escultura instalada pelo próprio artista no salão da galeria. Takeo revela que esse processo foi muito difícil, “porque eu passei por um momento de baixa autoestima e pouca confiança em meu trabalho”. Segundo ele, é um traço muito forte em seu trabalho a intensidade dedicada às suas obras que muitas vezes só ficam prontas no último minuto antes da exposição ser aberta.

Rodrigo Seixas também é aluno do mestrado em Artes Visuais e Processos Criativos. A obra “Dissimulações”, segundo ele, é o resultado final de uma ação feita no Porto da Barra e representa “um corpo que está perdido na superfície de uma terra”. A ação que originou a obra foi feita com caixas de cerâmica que o artista jogava ao mar sempre na direção do leste para que a câmera apontada na mesma direção capturasse o trajeto da caixa, o compilado de vídeos registrados foram editados e tornaram-se um só. A caixa que aparece a todo instante na tela representa, para Rodrigo, um lugar em que ele guarda “coisas”, como uma espécie de Atlântida. Mas esse é só um dos significados que ele atribuiu a mesma.

Eriel Araújo ousou e decidiu brincar com o público. Sua obra nomeada de “Presunção da inocência” consiste em mini esculturas de flores guardadas cuidadosamente dentro de caixas de acetato. Instalada numa encruzilhada da Galeria propositalmente de maneira que deixasse o público preso  no dilema de passar por cima da obra ou dar a volta para percorrer o espaço. Essa tomada de decisão, segundo Eriel, está relacionada com a inocência ou perversão que o ser humano está submetido em sua vida. O artista declarou ainda que levou cerca de 2 horas até que alguém tomasse a iniciativa e finalmente pisasse.

Entre os visitantes a preferência quanto às obras de arte está bem dividida, alguns se sentiram tocados pela tridimensionalidade e jogo de sombras que a obra de Mário Vasconcelos provoca. Outros foram pegos pela astúcia de Eriel que concedeu ao seu público o direito de compor sua obra junto a ele. Enquanto alguns ficaram tocados mesmo pela reflexão que a obra de Takeo traz sobre uma falsa liberdade que temos, quando na verdade estamos presos em nossos cotidianos.

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