Comunidade UFBA não visita os espaços artísticos e culturais da universidade

O grande público que frequenta os museus e galerias da UFBA é de fora da universidade, em sua maioria alunos de escolas públicas e particulares de Salvador

Por Kelven Figueiredo e Greice Mara*

Com cerca de cinco museus e duas galerias há sempre algo novo para conhecer, aprender ou apreciar nos equipamentos culturais da UFBA. Estes espaços, apesar de contarem com exposições muitas vezes exclusivas, enfrentam a baixa receptividade de espectadores da universidade. “Esse fato é muito estranho para a gente, porque os membros da universidade não pagam para visitar o Museu”, pontua Cláudio Pereira, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE).

No MAE, a cada 13 mil visitantes anuais, apenas 4%  são visitantes da UFBA. Mesmo que, a exemplo de outros espaços, fique afastado dos campi – o MAE localiza-se no Largo do Terreiro de Jesus – Cláudio não acredita que este seja o principal fator para o baixo número de visitantes membros da comunidade universitária. “Na verdade são os campi da UFBA que estão longe do Museu”, afirma lembrando que a UFBA teve suas origens no Centro Histórico.

As baixas não são notadas apenas pelo diretor do MAE. Seu vizinho mais próximo, o Museu Afro-Brasileiro (MAFRO) possui o maior número de visitantes anuais entre os museus da UFBA, cerca de 17 mil por ano, mas apenas 10% desse total pertence à comunidade UFBA. “Nosso maior público vem de escolas públicas e privadas. Visitantes da UFBA representa quase nada”, declara Ilma Vilas Boas, integrante da coordenação do Museu. Ela acha que os números poderiam melhorar se houvessem parcerias entre o MAFRO e alguns cursos como o de Licenciatura em História ou mesmo o de Museologia.

A situação se repete no Museu de Zoologia, que mesmo localizado dentro do Instituto de Biologia, em sua maior parte do tempo está vazio. O fato evidencia-se não só pela média de visitação, que no ano passado foi de  2 pessoas por dia, como também pelo fato de que, nas duas vezes em que nossa equipe de reportagem esteve no local, não tinha ninguém visitando.

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Ilustração: João Lucas (Musca)

O Museu de Arte Sacra recebe, anualmente, entre 1500 e 1700 visitantes. Apesar de o número ser considerado baixo em relação aos demais museus, Edjane Rodrigues da Silva, que é coordenadora do setor de exposição, leva em consideração a dificuldade de acesso ao espaço juntamente com a falta de segurança. Outro ponto mencionado por ela é a baixa divulgação das ações do Museu, cujo site está fora do ar, e há pouco tempo vem-se utilizando, sobretudo, o perfil no Facebook. Em período de greve na UFBA, o número de visitas é ainda menor devido à suspensão das atividades do mesmo.

Edjane reconhece que boa parte da comunidade da UFBA desconhece o Museu. A coordenadora conta que, entre os maiores visitantes, estão os estudantes de arquitetura, museologia, desenho e artes plásticas. Em muitos casos, esses estudantes estagiam no Museu, além de desenvolver ensino, pesquisa e extensão.

Apesar de ser um museu institucionalizado, isto é, ligado à Pró Reitoria de Extensão (PROEXT), a coordenadora do setor de exposição afirma também que o Museu utiliza dos casamentos realizados no local para se manter funcionando, já que possui uma grande estrutura que a UFBA não poderia manter sozinha. Além do Museu de Arte Sacra, somente o MAE é institucionalizado. Eles operam com condições mais objetivas, sobretudo orçamentárias, que os demais museus.

A reportagem também apurou o índice de visitação em outras duas unidades da UFBA. O Memorial de Medicina, que costumava funcionar na Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), de acordo com informações da faculdade, via e-mail, foi extinto. No entanto, não foram explicitadas as razões e nem quando isso ocorreu. Nossa equipe de reportagem entrou em contato com o Museu de Anatomia comparada e até visitou a unidade algumas vezes. O espaço estava sempre fechado e até a publicação dessa matéria não tivemos um retorno.

Galerias – A situação, quanto às visitas, se modifica um pouco apenas nas galerias Cañizares e do Aluno, ambas localizadas dentro da Escola de Belas Artes (EBA). Segundo seus coordenadores, 80% dos visitantes são alunos da própria escola. No entanto como isso é registrado manualmente, por meio de um livro de atas no qual os visitantes assinam e fazem comentários sobre a exposição em questão, os números se distanciam um pouco da realidade já que nem todos os visitantes assinam no livro.

Sistema Unificado de Museus

Há 10 anos, a UFBA aprovou em seu Estatuto e Regimento Geral, a criação do Sistema Universitário de Museus. No entanto, segundo Cláudio Pereira, diretor do MAE, isso só existe no papel. Ele acha que faltou um posicionamento que considerasse a criação do sistema, que, segundo ele, seria indispensável para a manutenção dos museus, já que daria uma maior autonomia financeira e administrativa. “A verdade é que a gente vive um isolamento e a gente não consegue criar uma articulação”, completa o diretor do MAE que critica a falta de  diálogo entre os museus.

Até hoje não houve consenso para a implementação do sistema de museus. Este não funciona pelo fato de não estar regulamentado. “O sistema de museus não responde por ele, não existe orçamento, não existe superintendente. Existe como uma figura institucional, mas sem nenhuma base real”, afirma Cláudio.

Segundo o Estatuto da UFBA, “cada Sistema Universitário terá um Superintendente, nomeado pelo Reitor, e um Conselho Deliberativo, cuja composição, competências e funcionamento estarão definidos em Regimento próprio, aprovado pelo Conselho Universitário”. Nossa equipe entrou em contato com a assessoria da UFBA para obter informações sobre a implementação do sistema de museus, mas até a publicação da matéria não tivemos retorno.

 

*Colaborou Glenda Dantas

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