Diversidade e interculturalidade são discutidas em encontro latino-americano

*Por Vanice da Mata e Virgínia Andrade

Diversidade, identidade e culturalidade; culturas indígenas e quilombolas; processos de dominação e resistência na América Latina. Como compreender a complexidade das relações sociais que perpassam essas questões? Parte da programação do seminário “Pensar América: Pensadores latino-americanos em diálogo”, a mesa “Práticas, Saberes e Epistemologias” se dedicou a discutir esses assuntos na última quinta-feira, 21 de agosto.

A discussão foi mediada por Nádia Cardoso, doutoranda do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura) da UFBA, e aconteceu no auditório do PAF V. A mesa contou com a presença de Clélia Côrtes, professora coordenadora do PET Indígena (UFBA), José Tasat e Juan Pablo Pérez, ambos professores da Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), em Buenos Aires.

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Foto: Virgínia Andrade

 América Latina, um universo complexo No que se refere à questão identitária, Clélia Côrtes observou que a América vive um tipo de dualidade permanente. Para  a professora, “a questão da identidade passa pela relação entre o global e o local”, e as políticas de ações afirmativas funcionam como garantias para que este espaço, historicamente negado, fosse ocupado por indígenas e afrodescendentes. Côrtes destaca ainda a importância da “antropofagia das tecnologias” por parte dos indígenas, ou seja, o uso das tecnologias informacionais como ferramentas de construção do saber e do próprio diálogo dos saberes.

Para Juan Pérez, coautor do documentário “Rodolfo Kusch: Algunas Búsquedas, algunos encuentros”, reexibido durante a mesa, é preciso ter cuidado para não assumir leituras e discursos hegemônicos sobre o complexo universo da América Latina, de modo a perpetuar estereótipos de construção das identidades indígena, africana e latino-americana, e reproduzir a lógica do sistema sociopolítico moderno. Nádia Cardoso inclui na discussão a ideia de que experiências como a da professora Clélia, atuando na pesquisa com indígenas, põem em constante diálogo diversos saberes e conhecimentos, e atuam como potencializadores de outros saberes.

Foto: Virgínia Andrade
Foto: Virgínia Andrade

Nádia destaca ainda que reconhecer quilombolas e indígenas como sujeitos do conhecimento é expressão de uma potência descolonizadora dentro da universidade, bem como seria a experiência do encontro em questão. A pesquisadora enfatiza que a intenção desse seminário é “apresentar e julgar estudos e reflexões sobre o pensamento na América Latina e Caribe”, além de contribuir para o processo de descolonização da universidade e do conhecimento acadêmico, por considerar que “as universidades não só mantêm a herança colonial de seus paradigmas, assim como contribuem para reforçar a hegemonia cultural, econômica e política do ocidente”.

Novas tradições De acordo com Carlos Bonfim, coordenador do grupo Latitudes Latinas, programa de extensão do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC), o propósito do Pensar América é “difundir um repertório, uma tradição de pensamento crítico latino-americano que se trabalha pouco ainda no Brasil e na Universidade”, através, também, da interlocução entre o trabalho de Rodolfo Kusch, filósofo argentino, com o de Milton Santos, geógrafo brasileiro, além de outros autores latino-americanos.

Doutor em Comunicação e Cultura pelo Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo, Carlos Bonfim é graduado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP), com mestrado em Estudos da Cultura – Universidad Andina Simón Bolívar (Equador, 1999). Atua como docente do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos da UFBA e coordena e apresenta Latitudes Latinas, programa semanal de rádio dedicado à música e à cultura latino-americana que integra as atividades de extensão do IHAC/UFBA. Membro do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT) e da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular (IASPM-AL), desenvolve pesquisas em música popular urbana, cultura latino-americana, culturas juvenis, riso e cidade.

Nádia Cardoso, além de graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, com especialização em Direitos Humanos e mestrado em Educação e Contemporaneidade pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB), é doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. Professora das disciplinas fundamentos sócio-antropológicos e em outras relacionadas ao campo da educação, atuou como consultora para assistência técnica extensiva às organizações sociais e comunitárias da Península de Itapagipe e Subúrbio Ferroviário de Salvador. Ex-coordenadora de Educação para as Relações Étnico-Raciais e Diversidade da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, tem experiência em elaboração e coordenação de projetos em organizações sociais como Instituto Steve Biko, Ceafro, Grupo de Apoio à Prevenção a Aids da Bahia (Gapa), Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) e o Projeto Axé. 

Foto: Virgínia Andrade
Foto: Virgínia Andrade

Clélia Côrtes é graduada em Administração Pública pela Universidade Federal da Bahia (1978), com mestrado e doutorado em Educação pela UFBA e pela Facultad de Filosofía y CC. Educación – Universitat de Valência, respectivamente. Professora adjunta da UFBA, tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Politicas Culturais, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, meio ambiente, água e território, família, educação, cultura, saberes e práticas e território indígena.

José Tasat, além de consultor de órgãos nacionais e internacionais de cultura, é licenciado em Psicologia pela Universidad de Buenos Aires (UBA), com mestrado em Educação (UNTREF/UNLA). Coordenador adjunto do curso de Licenciatura em Administração Pública e em Gestão de Políticas Públicas, é pesquisador do Instituto de Políticas Culturais da UNTREF, onde estuda políticas culturais locais, além de ser docente de Licenciatura em Gestão da Arte e Cultura.

Foto: VIrgínia Andrade
Foto: VIrgínia Andrade

Licenciado em Artes pela Facultad de Filosofía e Letras da Universidad de Buenos Aires (FFyL-UBA), Juan Pablo Pérez é professor de Artes Plásticas no Instituto Universitario Nacional del Arte Prilidiano Pueyrredón (IUNA-Prilidiano Pueyrredón), de Arte Argentino I, Siglo XIX (FFyL-UBA) e de Arte Contemporáneo (UNTREF, IUNA, IES Nº2 y Nº1). Coordenador do Departamento de Ideias Visuais do Centro Cultural de la Cooperación, é coautor do livro Artes Visuales. Del Centenario al Bicentenario. Lecturas, problemas y discusiones en el arte argentino del último siglo, 1910-2010.

 

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