Djamila Ribeiro participa de mesa no II Ciclo Formativo Opará Saberes

A programação do evento que tem a proposta de instrumentalizar pessoas negras para acessar os programas de pós-graduação se estende até o próximo dia 09 de novembro

Por: Glenda Dantas

“O pensamento de Simone de Beauvoir  sob o olhar de uma filósofa negra” foi o tema da segunda mesa do II Ciclo Formativo Opará Saberes. A conferência ministrada por Djamila Ribeiro aconteceu na última terça, 24, no Auditório da Faculdade de Arquitetura da UFBA (FAUFBA). A partir dos trabalhos desenvolvidos durante o período de iniciação científica e de sua tese de mestrado, Djamila traçou críticas ao pensamento da intelectual francesa que ignora as implicações raciais em seus trabalhos sobre gênero.

“Durante quatro anos e meio de graduação em Filosofia, eu só estudei uma autora mulher”, declarou Djamila acerca da falta de autoras nas grades curriculares, em especial do curso de Filosofia. Desde 2011, quando conseguiu que fosse aprovado um projeto de Iniciação Científica para estudar a obra de Simone de Beauvoir, ela trabalha a obra da autora refletindo à luz das contribuições de feministas negras. A aprovação do projeto se constitui um desafio porque a autora não era estudada em cursos de Filosofia.

Conferência de Djamila lotou o auditório da FAUFBA
Conferência de Djamila lotou o auditório da FAUFBA

Uma das críticas traçadas por Djamila ao trabalho de Simone é de que seus estudos universalizam a categoria mulher. Essa foi uma das conclusões a que ela chegou por meio de sua pesquisa de mestrado em Filosofia Política. No livro O Segundo Sexo, a escritora francesa caracteriza a mulher como o ‘outro’ em oposição à figura masculina.  “A relação da mulher com o homem é de submissão e dominação. A mulher nunca é vista como dona de suas próprias ações”, explicou Djamila.

No entanto, ao analisar a categoria do “outro” fazendo um recorte de gênero e raça, a mulher negra seria “o outro do outro”. “É  uma dupla antítese: da branquitude e da masculinidade”, explicou. Com base nos estudos de Grada Kilomba, também não haveria uma universalização da figura masculina, uma vez que “o homem negro é ‘o outro’ do homem branco.

Djamila comparou a estrutura de categorias dos indivíduos com uma pirâmide, onde o homem branco está no topo, seguido das mulheres brancas, na sequência os homens negros e, por fim, as mulheres negras. No que se refere às relações entre homens negros e mulheres brancas, ela destacou a existência de um status oscilante, onde o homem gozaria de privilégios devido ao gênero e a mulher devido à cor da pele. De acordo com ela,  “é necessário destacar essas disparidades nas categorias de gênero, raça e classe para que possamos falar sobre novos lugares de fala na sociedade hegemônica”.

Ainda sobre as distinções sociais entre pessoas brancas e negras, Djamila pontuou a importância de evidenciar de que categoria se fala ao proferir discursos como “mulheres ganham 30% menos que homens. “Mulheres brancas ganham 30% menos que homens brancos, mas ainda ganham mais que homens negros. Mulheres negras ganham menos que todos os outros grupos. É uma obrigação moral fazer essas distinções porque isso implica também na adoção de políticas públicas focais”, ressaltou.

Pesquisadoras como Ângela Davis, Grada Kilomba, Audre Lord, Luiza Bairros, Lélia Gonzalez e Patricia Hill Collins embasam as críticas de Djamila ao trabalho de Simone. “Trazer essas autoras é também questionar um modo de fazer filosófico, que é completamente embranquecido”, defendeu.

Opará – O projeto idealizado por Carla Akotirene  surge a partir da necessidade de enfrentar as dinâmicas sociais, econômicas e políticas que precarizam a educação pública no Brasil e dificultam o acesso e ingresso da população negra nos cursos de nível superior nas universidades públicas. A primeira edição do Opará Saberes auxiliou vinte projetos de pessoas negras, incluindo alguns aprovados em vagas de doutorado em programas da UFBA.

Shirlei Sanjeva, que participou da primeira edição da iniciativa, afirma que “o Opará foi o afinador do meu projeto de mestrado”. Atualmente ela é aluna do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM/UFBA). Para Djamila Ribeiro, o Ciclo Formativo “é uma maneira de seguir a tradição da luta das mulheres negras de pensar e resistir coletivamente dentro da universidade”.

Entre outras autoridades, estiveram presentes no evento, Carla Akotirene, idealizadora do projeto e professora da UFBA; Julieta Palmeira, secretária de Política para Mulheres (SPM/BA) e Vilma Reis, ouvidora Geral da Defensoria Pública do Estado (DPE/BA).

A programação do evento se estende até o próximo dia 09 de novembro e pode ser conferida na página do Facebook.

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