“Usar esse espaço da Universidade para subverter o que a gente não concorda”: Conheça Ohana Boy, a mais nova professora adjunta da Facom/UFBA
Integrando um corpo docente predominantemente branco, a pesquisadora faz questão de diversificar as leituras em sala
Por: Maria de Moura
“Beyoncé, Faça a coisa certa, do Spike Lee e Emicida”, listou Ohana Boy, a mais recente professora adjunta da Faculdade de Comunicação da UFBA, quando pedi que citasse três produtos culturais que a definissem. Nascida em Niterói, cresceu na Região dos Lagos e, aos 34 anos, integra um corpo docente ainda muito carente de participação feminina negra.
“Não, não, acho que eu vou ter que substituir pelo meu livro preferido, agora que eu lembrei”, corrige a carioca, enquanto conversávamos. “‘Um defeito de cor’, da Ana Maria Gonçalves. Ele está completando dezesseis anos e é o meu livro favorito da vida.”
Essa indecisão ao tentar se descrever a partir da cultura mostra como a arte faz parte da vida de Ohana. É uma consumidora assídua de cultura pop desde a adolescência. A cantora Beyoncé, por exemplo, domina os seus fones de ouvido desde quando integrava o grupo Destiny’s Child. “A primeira é Beyoncé, não tem jeito, né? É uma grande referência para mim. Pode ser o último álbum dela [Renaissance], pode ser tipo a trajetória, a carreira”, comentou. Foi esse encanto com a televisão, cinema e cultura pop que a fez decidir por cursar Produção Cultural na Universidade Federal Fluminense. Além disso, outra coisa aproximava Ohana desta graduação: a idealização de trabalhar nos bastidores da produção artística em uma grande cidade, como Niterói. Crescida na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, a possibilidade de mudar de vida na região metropolitana lhe brilhava os olhos.
Filha de professores, sempre gostou de estudar. Mesmo tendo sua mãe, professora de geografia, como exemplo e referência, a sala de aula nunca esteve entre seus sonhos profissionais. Foi no mestrado, ao fazer estágio docente, que Ohana mudou de ideia. “Isso mudou muito o meu olhar, então eu percebi que eu queria estar naquele lugar também”, lembra. Dois anos depois de defender o doutorado e alguns processos seletivos no meio, Ohana se tornou, em 2022, professora adjunta da Faculdade de Comunicação da UFBA. “A ficha demorou para cair e eu nem sei se caiu totalmente ainda.”
A capital baiana não foi escolhida à toa: Ohana se encanta com Salvador desde quando a cidade pela primeira vez, em 2012, ao participar do ENECULT, o Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Desde lá, o cenário cultural efervescente pelo qual a capital é conhecida, a natureza litorânea e a receptividade foram alguns dos motivos que a fizeram pensar: “Eu moraria muito nessa cidade.”
Sem deixar o cineasta americano de lado, a doutora em Comunicação lembrou que vários outros filmes de Spike Lee poderiam estar nessa lista. Por último, procurou uma referência cultural brasileira. Dessa vez, o rapper Emicida integrou a lista. Essa tendência de abarcar a diversidade de perspectivas vai além da vida pessoal de Ohana. Em sala de aula, a pesquisadora faz questão de trazer referências fora do padrão masculino-branco-norte global. Lélia Gonzalez, Angela Davis, Stuart Hall, bell hooks são algumas das leituras recorrentes em suas salas de aula. “Eu quero compartilhar esses instrumentos e essas ferramentas que tive acesso ao longo da minha formação com todas as pessoas. Quero que a gente leia quem já pensou muito sobre o mundo e formas de mudá-lo”, defende a professora.