Feminaria Musical debate o protagonismo da mulher no Maracatu
O evento aconteceu na Escola de Música e foi liderado pela coordenadora dos grupos Maracatu Ventos de Ouro e Ânima -mulheres artistas
Por Greice Mara
Na tarde da última quinta-feira (13), a sala da pós-graduação da Escola de Música da UFBA (EMUS) foi palco de uma discussão acerca do protagonismo da mulher no cenário musical da cidade de Salvador. O evento foi idealizado pelo grupo de pesquisa da EMUS Feminaria Musical e liderado por Josy Garcia, idealizadora e coordenadora do Maracatu Ventos de Ouro e do Ânima – mulheres artistas.
O foco principal do bate-papo foi ressaltar a importância de ocupação de determinados espaços que costumam ser negados às mulheres no cenário musical, sobretudo no Maracatu que tem toda uma questão de tradicionalismo. Josy Garcia, coordenadora de dois grupos de Maracatu que visam dar espaço para mulheres musicistas e desta forma dar voz a elas, afirmou que as mulheres ainda encontram dificuldade para serem incluídas.
Dentro dos seus grupos de Maracatu, Josy conta que a principal intenção é dar visibilidade às mulheres, seja na divulgação de trabalhos feitos por mulheres ou com as loas – músicas do Maracatu – que visam o empoderamento feminino e fazem referências a orixás. No grupo Maracatu Ventos de Ouro, é possível que haja a presença de homens, o que, segundo Josy, é fundamental para difusão dos ideais feministas.
“A ideia do feminismo não é excluir, acho importante a presença do homem, mas é claro que o lugar de protagonismo não é deles”, afirma a coordenadora. “Se não tem esse envolvimento, não tem desconstrução” – completa Thalita Batuk, graduanda do Bacharelado Interdisciplinar de Artes.
Josy também levantou debate sobre os tipos de Maracatu. O Maracatu de Baque Virado/Nação é a maior representação do Maracatu, tem seu registro mais remoto em 1711 e fala de uma instituição que compreendia um setor administrativo e outro, festivo, com teatro, música e dança. A parte falada foi sendo eliminada lentamente, resultando em música e dança próprias para homenagear a coroação do rei: o Maracatu. O Maracatu Rural tem um ritmo mais acelerado em relação ao Maracatu Nação e conta com o coro exclusivamente feminino.
A tradicionalidade dos grupos de Maracatu também foi discutida por Josy. Ela falou sobre a relação do Maracatu com as religiões de matriz africana e toda a responsabilidade que cada grupo tem em respeitar e manter as questões da ancestralidade. Outra parte marcante sobre a tradicionalidade do Maracatu é o fato de Mestra Joana ser a primeira e, até agora, a única mulher à frente de um grupo de Maracatu de Nação. Entretanto, por não se tratar de um espaço tradicionalmente ocupado por mulheres, a Mestra ainda sofre bastante preconceito por parte dos demais mestres.
Josy falou sobre o pouco apoio financeiro que recebe em seus grupos e o quão difícil é a luta das mulheres na conquista de espaço, mas ressaltou a importância de continuarem buscando essa ocupação, já que, sem a tentativa de preencher esses lugares, as mulheres acabam invisibilizadas. Ela ressaltou a importância de se ter um espaço para debater essas questões, porque acrescentam tanto em aspectos técnicos (aprendizado sobre o Maracatu) quanto em aspectos políticos e religiosos.
O Maracatu Ventos de Ouro é um grupo feminino de Maracatu de Baque Virado. É fruto de um trabalho coletivo que busca pesquisar, difundir e fomentar as manifestações artísticas da cultura brasileira, que vem sendo desenvolvido por cerca de quinze integrantes, desde abril de 2014. O grupo ministra oficinas aos sábados, a partir das 14h, no Colégio Estadual Odorico Tavares.
O Feminaria Musical é um grupo feminista de extensão ligado ao Programa de Pós-Graduação em Música da UFBA que também integra a linha de pesquisa Gênero, Cultura e Arte do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA). Fundado em 2012, o grupo atualmente agrega professor@s e alun@s de diferentes unidades da UFBA e também artistas colaborador@s que têm contribuído de forma significativa para a pesquisa e para pensar novas propostas que unam pesquisa, produção artística coletivas e militância feminista, anti-racista e LGBT.
O ÂNIMA – Ações Nutrindo Inquietações de Mulheres Artistas foi idealizado e produzido por Cau Gonçalves e Josy Garcia, surge com o pensamento de abrir um espaço que una e fortaleça a sororidade, debates, questionamentos e, acima de tudo, a voz das mulheres. Tem o objetivo de conduzir a força e sabedoria feminina, atingindo de forma direta ou indireta um maior número de pessoas.