Indústria de games na Bahia é tema de evento na Facom

A atividade contou com a participação de Lynn Alves, Danilo Dias e Victor Cardozo que compartilharam suas experiências e impressões sobre a temática

Por Greice Mara

Na última quinta-feira, 14, o auditório da Faculdade de Comunicação foi palco de uma palestra sobre o mercado de jogos digitais na Bahia. A primeira edição do ciclo de debates Cultura em Rede, organizado pela Logos, em parceria com a Agenda Arte e Cultura, contou com a participação de Lynn Alves, Danilo Dias, Victor Cardozo. Os convidados apresentaram desde o panorama da produção até estudo de caso da produção de um game. Atualmente, o estado é representado no setor por grupos como Sinergia Games, Moovi Game Studio, Unique Entretenimento Digital, Victor Cayres, Era Game Studio.

Os games, na Bahia, começaram a ser explorados na UFBA por volta de 2005 através do grupo de pesquisa Indigente. O coletivo já desenvolveu jogos como Kirimurê e possui artigos e produtos premiados no SBGames. O estado conta ainda com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Comunidades Virtuais. O grupo ligado à UNEB desenvolveu jogos com cenários de aprendizagem escolar e também com cenário  de aprendizagem para a indústria, como Tríade, Braskem Game Quiz e Salvador Sim. “A gente acredita que não se deve pensar a aprendizagem só no ambiente da escola territorializada”, explicou Lynn Alves, que é professora do IHAC e integrante do Comunidades.

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Lynn Alves traça panorama no mercado baiano/ Foto: Glenda Dantas

Segundo ela, a complexidade de se criar jogos para a educação está no respeito à diversidade cultural dos ambientes escolares. Um exemplo disso foi o jogo Búzios, que não teve boa aceitação entre os pais e responsáveis pertencentes a religiões protestantes. Eles quiseram proibir as crianças de jogar por conta do nome do game. “Por isso, acho que é cada vez mais importante ouvir o público que vai interagir desde o primeiro momento”, contou.

Entre 2005 e 2010, aconteceu um boom das ações governamentais para as produções de games. Na Bahia, o destaque ficou por conta da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) que chegou a ser considerada o maior agente de fomento do país. Entre 2008 e 2010, a instituição implantou um game cluster, onde academia e indústria se juntavam a fim de garantir o fortalecimento do segmento. Grupos e instituições como RedRabbit Interactive, MDS Tecnologia, Comunidades Virtuais, Gamenyx, Indigente, IFBA, Virtualize Games, UNEB e UFBA participaram da iniciativa.

Como ações de cunho nacional, Lynn ressaltou o edital BrGames, um programa de fomento à produção e exportação do jogo eletrônico brasileiro criado pelo Ministério da Cultura (2009 2010);  o incentivo à produção de games através da Lei Rouanet; a criação do InovaApp, pelo Ministério das Comunicações (2014-2015); o edital de games da FINEP; incentivo do CNPQ e da CAPES para as áreas de pesquisa em Jogos Digitais; e o mais recente edital da Ancine para games, que teve um representante baiano contemplado (Árida – Projeto Sertão).

Danilo lança o livro Fase em Games / Foto: Glenda Dantas
Danilo lança o livro Fase em Games / Foto: Glenda Dantas

Danilo Dias destacou a importância de se atentar aos mais variados detalhes que envolvem o processo de produção de jogos. Segundo ele, no Brasil, os desenvolvedores costumam fazer jogos de maneira generalizada, enquanto no exterior cada membro da equipe se aprimora em um ponto específico da produção do game. “Lá fora você é especialista no sapato do personagem, no cabelo da personagem ou em elementos de cenário. Aqui a gente é generalista, trabalha com tudo”. Ele acredita que essa característica de trabalho típica daqui pode ser muito positiva, desde que as pessoas saibam aperfeiçoar suas habilidades.

Danilo apresentou parte do processo de desenvolvimento do gamebook Guardiões da Floresta, criado pelo Comunidades Virtuais. O game é baseado numa aventura envolvendo personagens do folclore brasileiro, como Iara e o lobisomen.. A história se passa a partir do surgimento de uma fábrica de celulose que pode colocar a vida dos habitantes da floresta em risco. A modificação dos desenhos das personagens para reconhecimento do público e definição de uma identidade visual atrelada a uma cor padrão por personagens foram algumas das etapas pelas quais o jogo passou.

Dias aproveitou o evento para apresentar o livro Fase em Games, de sua autoria. A publicação descreve teorias, ideias, conceitos e fundamentos utilizados para ultrapassar obstáculos e encarar desafios da produção de 12 jogos diferentes.

Victor Cardozo, diretor de Arte no estúdio Aoca Game Lab,  complementou a fala de  Lynn sobre a indústria de jogos na Bahia. Ele falou sobre a BIND (Bahia Indie Game Developers), um coletivo que surgiu em 2014 e visa ampliar conhecimento e experiência, além de instrumentalizar novos desenvolvedores por meio de palestras e workshops.

Victor apresenta projeto Árida / Foto: Glenda Dantas
Victor apresenta projeto Árida / Foto: Glenda Dantas

Entre os eventos que movimentam a indústria de games no Brasil estão o Seminário Jogos Eletrônicos, Educação e Comunicação (SJEEC), Simpósio Brasileiro de Games e Entretenimento Digital (SBGames), Game Jam e Big Festival.

Cardozo salientou ainda a importância de mulheres no universo da produção de games.“Nossa equipe tem seis pessoas, sendo que uma só é mulher. Então acho que é muito importante que vocês mulheres entrem nessa indústria e comecem a fazer parte.” Para ele, uma maior participação feminina ajudaria a quebrar estigmas de um mercado tradicionalmente masculinizado.

O também fundador e gerente da empresa Contra Labs ainda  apresentou o Projeto Árida,  um jogo de aventura e exploração em 3D. O game  narra a trajetória de Cícera, uma jovem de 13 anos do semiárido nordestino.

Para o estudante do quarto semestre de Jornalismo, Levy Teles, o evento foi importante para que ele conhecesse um pouco sobre como o mercado de jogos na Bahia se aprimorou ao longo dos anos. “Foi bem legal porque eu pude conhecer um pouco mais do cenário de produção de jogos na Bahia, tanto porque eu  não conhecia muito sobre produção no Brasil, muito menos sobre a posição até de relativo pioneirismo que a Bahia tem em independência para fazer jogos”.

Filipe Caldas, que é motion designer, também acredita que a atividade esclareceu pontos consideráveis no que diz respeito à produção de jogos na Bahia. Para o jovem, jogos digitais e audiovisual são áreas que, com a animação, se cruzam. “Os games também têm animação, apesar de eu trabalhar com um tipo diferente, mas é uma coisa que agrega, que envolve profissionais que têm interesses semelhantes. Acho que a área de design, comunicação e de produção cultural podem se encontrar e que precisam se conhecer mais para fazer coisas interativas”, afirma.

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