O papel dos Estudos Africanos é discutido na VII Semana da África

O evento de caráter comemorativo contou com exibição de filmes, mesas redondas, espetáculos teatrais para marcar o dia da África na cidade mais negra do Brasil.

* Por Luiza Peixoto

Em comemoração ao Dia da África (25 de maio) o Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da UFBA acolheu a sétima edição da Semana da África, que aconteceu entre os dias 20 e 25 de maio. Discutir sobre as especificidades culturais e políticas, estabelecer trocas científicas, preservar o legado e a memória sociocultural dos diversos países africanos são alguns dos objetivos do evento que é resultado da iniciativa de estudantes africanos e afro-brasileiros.

Com o tema “Identidades Africanas na Produção Audiovisual em África e na sua Diáspora” o encontro deste ano reuniu pesquisadores africanos e brasileiros para discutir como os negros, o continente, e as expressões de matrizes africanas são representados pelas produções audiovisuais, em especial o cinema.  Na tarde da última quarta-feira (22) a mesa redonda Imagens da África: o papel dos Estudos Africanos discutiu a forma homogênea sob o qual o Continente Africano é comumente representado nas imagens e produções audiovisuais e a importância dos Estudos Africanos nesse contexto. A mesa composta por Carlos Cardoso (Guiné – Bissau), José Luís Cabaço (Universidade Técnica de Moçambique), Valmir Zamparoni (Universidade Federal da Bahia), teve mediação de Cláudio Furtado (Cabo Verde – Universidade Federal da Bahia).

Carlos Cardoso discutiu como o Continente Africano é representado nos mecanismos de pesquisa, a exemplo do Google. Segundo o pesquisador, mesmo com a globalização e o sistema de satélites, a África é representada de forma homogênea e negativa, sendo reduzida a um continente de ambiente árido, com problemas de subnutrição, miséria e seca onde os animais vivem livremente. Carlos salienta que o continente africano é visto com um olhar de distanciamento que foi construído ao longo dos séculos a partir da visão europeia “A África é qualquer coisa que não seja eu (europeu)”. Carlos acredita que os Estudos Africanos tenham um papel fundamental para que a imagem da África seja desmistificada no resto do mundo.

Dando continuidade ao debate, José Carlos Cabaço faz uma reflexão acerca de como o audiovisual representa os africanos na África e no exterior. Segundo ele, há duas formas de representação e o cinema que é feito para os africanos se distingue do que é mostrado no exterior. Uma dificuldade apresentada pelo pesquisador diz respeito aos saberes necessários para decodificar as cenas de um filme. “Muitos filmes estrangeiros são apresentados a uma parte da população, porém eles não possuem os saberes necessários para decodificar as informações e um filme com passagens lógicas e compreensíveis se torna incompreensível”, comenta.  Elementos como tempo e espaço, descontinuidade espacial e flash back confundem o telespectador e eles acabam por não compreender a proposta do audiovisual. De acordo com José Carlos, muitas produtoras locais acabam se enquadrando ao modelo de produção e filmagem internacional e perdem a capacidade de comunicação do audiovisual com o povo local para conseguir patrocínio: “muitos produtores vivem no dilema entre conseguir patrocínio ou produzir um filme cuja narrativa o povo compreenda”, disse.

Valdemir Zamparoni, professor de História da África, retoma o debate acerca da representação do continente nas imagens. Para o pesquisador, a leitura ocidental acerca dos povos africanos é desumana e estereotipada. “Todo o continente é reduzido a tribais, tambores, vestimentas coloridas e selvageria. Os africanos são igualados a animais, povos bárbaros e selvagens”, diz. Segundo Valdemir, o conhecimento diminui a diferença, e nessa perspectiva ele ressalta a importância dos Estudos Africanos para a construção de um novo olhar sobre a África e suas matrizes culturais. Ao fim do debate, Claudio Furtado agradeceu a presença dos debatedores e deu espaço para questionamentos dos ouvintes.

Serviço:

O quê: VII Semana da África – Identidades Africanas na produção audiovisual em África e na sua diáspora

Onde: Em Salvador

Quando: De 20 a 25 de maio de 2013

Informações: http://semanadaafrica.blogspot.com.br/

 

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