Agenda na Saladearte: Jojo Rabbit usa humor para falar de nazismo

Por Amanda Palma e Monique Feitosa

O humor para falar de nazismo pode causar um estranhamento inicial, mas o filme Jojo Rabbit consegue surpreender e sai do óbvio usando a leveza – sem tirar a dramaticidade –  para abordar o tema. O filme conta a história do pequeno Johhanes (Roman Griffin Davis), de 10 anos, que vive com sua mãe, Rosie (Scarlett Johansson), durante a Segunda Guerra Mundial.

As cenas cômicas com Hitler, interpretado pelo diretor Taika Waititi, que, a princípio, se mostra um amigo legal e divertido para Jojo gera preocupação ao espectador, por parecer que se mostra um ditador como uma boa pessoa. No entanto, com a evolução do enredo, vemos que essa “máscara” vai caindo, conforme Jojo vai conhecendo a realidade ao seu redor e começa a ter conflitos de valores com as situações na guerra.

A mãe usa o fanatismo da criança com o Hitler como uma proteção da família, visto que ela se opõe ao nazismo e faz campanha pelo fim da guerra. Rosie “aceita” o extremismo do filho, mas tenta mostrar a ele uma outra perspectiva da vida, onde é possível andar de bicicleta, dançar e ser livre. 

Fanático, Jojo acaba sendo um “escudo” para Elsa (Thomasin McKenzie), a judia que vive escondida em seu sótão. Inicialmente, ele é contra a presença dela em sua casa, mas, ao perceber que não vai conseguir expulsá-la, Jojo se comove e a vê como uma amiga.

Com a proximidade entre os dois, o menino descobre quem são realmente as pessoas judias que, antes, ele via como monstros. Essa intimidade entre Jojo e Elsa acaba afastando a criança do seu amigo imaginário Hitler. As cenas entre os dois diminuem e a cada encontro, o clima vai ficando cada vez mais tenso.

A perspectiva infantil é muito forte no decorrer do filme, tanto pelas cenas de humor, como pelos diálogos e outras situações, como por exemplo, as descrições do judeus vistos como monstros que têm rabos, chifres e cheiro de couve de bruxelas. Ao mesmo tempo, são assustadoras as passagens no acampamento onde as crianças são treinadas para usar armas e granadas. Naquele espaço, Jojo tem um primeiro choque de realidade ao perceber que não consegue matar um coelho (e é aí que surge o apelido de Jojo Rabbit) e não se encaixa naquele grupo.

O filme mereceu ganhar o Oscar de melhor roteiro adaptado (é baseada no livro “O Céu que nos Oprime”, de Christine Leunens)  pois consegue fazer uma trama envolvente, mas a parte técnica também chama a atenção. A fotografia é importante, com o uso de cores fortes para alertar sobre detalhes que podem revelar sobre o filme, a exemplo dos sapatos vermelhos de Rosie, e a capa vermelha do Capitão K. O cinza predomina nos momentos de guerra, e a luz transparece leveza em momentos mais tranquilos.

Destacamos a a parceria entre Scarlett Johansson e Roman Griffin Davis que, juntos, conseguem trazer uma delicadeza à trama em diversas cenas.

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