Coletivo “Curta Cena no Buzu” leva diversão e entretenimento aos ônibus coletivos

O objetivo é atingir pessoas que não estão pensando em ir ao teatro, mas sim nas contas para pagar ou mesmo nos problemas da vida cotidiana

Por Kelven Figueiredo

Quem  acha que teatro e ônibus não combinam, é porque não conhece o coletivo de teatro “Curta Cena no Buzu”. Criado há pouco mais de um ano, o grupo tem  o intuito de levar a arte e diversão para os ônibus coletivos de Salvador. O nome do coletivo é inspirado no projeto homônimo que visa promover a aproximação da população que não possui acesso fácil a projetos e eventos culturais. Outro objetivo do grupo é inserir no cotidiano das pessoas debates sobre questões como o racismo, machismo e homofobia, porém de uma forma que fuja da abordagem convencional.

A experimentação com essa modalidade teatral começou em 2011. No mesmo ano, foi iniciado o processo de roteirização das esquetes. Contudo esse tipo de teatro requer alguns cuidados especiais, um deles diz respeito ao processo de ensaio que se diferencia um pouco de espetáculos comuns. Os atores precisam acostumar o corpo com o movimento e espaço limitado dos ônibus. Segundo o criador do grupo, Kadu Lima, também é uma preocupação do coletivo o tempo da narrativa desenvolvida. “Não podemos nos alongar muito porque o público não é estático e a cada parada sofre uma alteração em números”, conta.

A primeira mostra de cenas foi realizada em novembro deste ano, durante o período do Congresso Pesquisa, Ensino e Extensão, e contou com quatro esquetes. Três delas foram roteirizadas por Kadu Lima, estudante do Bacharelado em Artes Cênicas, a outra, também de sua autoria, foi construída em parceria com Kalu Santana e Geisla Abreu, integrantes do grupo. O projeto foi selecionado no Edital de Experimentação Artística (PIBEXA), da Pró-Reitoria de Extensão.

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Coletivo se apresenta em ônibus

As cenas apresentadas abordaram temáticas como a importância do artista na sociedade, na cena “Eu sou Artista” e o assédio sexual sofrido pelas mulheres em coletivos, como na cena “Comigo não violão!!”. Além da preocupação com o social, as cenas também são montadas com o intuito de trazer diversão, tensões, entretenimento e drama, como nas cenas “Ai Se sesse Mary Anjo” e “Chame Gente”. A primeira edição da mostra aconteceu no Buzufba e na frota de ônibus convencionais.

Porém, Kadu garante que essa não foi a única mostra e o grupo já planeja a segunda para muito breve. “O único problema é que atualmente o grupo funciona com apenas sete  membros e não dá conta de atender a toda Salvador”, confessou ele.

Os desafios

Fazer teatro no ônibus possui alguns obstáculos. Para Kalu, estudante do Curso de Interpretação da UFBA, um dos maiores são os motoristas. “Alguns deles dificultaram o nosso acesso aos ônibus, porém mesmo com algumas recusas a grande maioria nos recebeu muito bem”, declarou a atriz.

Outro desafio apontado pelos artistas é a relação com o espaço móvel e limitado. Eles consideram como “espaço cênico no ônibus” apenas o corredor, por isso, só se apresentam nos ônibus em que todos os passageiros estão sentados. Além disso há a dificuldade em lidar com a imprevisibilidade do público. “A gente compreende que o ônibus é um espaço de tensão, as pessoas estão ali com medo de um assalto, cansadas de um dia trabalho”, explica Kadu.

O público

O ator relata que em uma das encenações da esquete “Comigo Não Violão!!”, onde ele interpreta um assediador, foi agredido por uma senhora com uma vassoura que ela havia comprado na feira. “Então eu tive a expertise de dizer para ela ter calma e observar. Quando notou que se tratava de uma encenação, ela relaxou, se divertiu e elogiou nosso trabalho”, relatou o ator.

Apesar do objetivo principal ser o de atingir pessoas que não estão pensando em ir ao teatro e trabalhar com o que o grupo chama de “teatro de assalto”, atualmente o coletivo experimenta apresentações em ônibus parados para que todos os interessados tenham acesso. “Na próxima mostra, a expectativa é que os empresários de ônibus nos apoiem e permitam que a gente faça as apresentações nas estações de transbordo enquanto o ônibus ainda está parado”, revelou.

O coletivo que é derivado de um projeto já existente na Escola de Teatro, aceita qualquer um que tenha interesse em encenar ou mesmo em aprender. “A nossa proposta é também realizar uma série de atividades formativas, como oficinas e cursos de teatro no ônibus. Faz parte da proposta  incluir pessoas” defende, Kadu.

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