Dia dos Pais: conheça George, Rossoni e Urbano, pais da comunidade UFBA

A Agenda ouviu histórias de diferentes paternidades para homenagear a data

Por Laiz Menezes e Luana Lisboa*

Você pode encontrar essas pessoas em diferentes lugares da Ufba. Corredores, salas de aula, biblioteca de Ondina, portaria de Residências Universitárias. Talvez você não os conheça, mas todos tem uma característica em comum: são pais e, ao mesmo tempo, mantêm uma rotina de estudos ou trabalho no ambiente universitário. Nesse Dia dos Pais, a Agenda te conta a história de três deles: o seu Urbano, vigilante da Residência, o geógrafo e estudante de jornalismo, George e o professor Rodrigo Rossoni, da Faculdade de Comunicação.

George, estudante
George Teixeira, 36, foi um filho muito traquino. Faz sentido pensar que era o caçula de duas irmãs. Na escola, ouvia reclamações por ser inquieto. Em casa, era criado com liberdade pelo pai, que era mais rígido, e pela mãe. Vivia perambulando com os amigos pelas ruas do centro de Juazeiro, a cidade natal, e, para estudar, fazia a travessia no Rio São Francisco, famosa pela canção de Alceu Valença, para chegar em Petrolina. Cresceu, mudou de cidade, se formou como geógrafo pela UFBA, e ainda assim, continuou inquieto.

Seu filho, Manoel, nasceu quando ele tinha 30 anos e trabalhava na Coordenação de Desenvolvimento Agrário. Foi também na época em que George agarrou sua inquietude e resolveu trocar de campo profissional. Pelo seu interesse por fotografia, ele resolveu fazer um novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e passou para Jornalismo, que cursa atualmente. Apesar de ter dificuldades, consegue conciliar trabalho, estudo e a paternidade. Por isso, muitas vezes o filho o acompanhava nas salas de aula da Facom.

George leva o filho para as aulas na Facom (foto: acervo pessoal)
George leva o filho para as aulas na Facom (foto: acervo pessoal)

“Eu entendi ser pai como um renascimento, um evento que, inevitavelmente, me mudaria para sempre, e foi o que aconteceu. Percebi que não poderia mais ser o centro das minhas atenções, que havia uma criança que importava mais do que a minha própria vida e isto deveria se refletir em tudo que eu fizesse”. Ele conta que tem uma ligação muito forte com o filho e que, apesar de não morar com ele, tenta o criar como foi criado: sem tanta exposição ao mundo virtual. Manoel gosta de luta, futebol e tem uma paixão pelos transformers.

Com a quarentena, George tenta aplicar brincadeiras que envolvem técnicas de mindfulness, prática de estar consciente de seu próprio corpo, mente, sentimentos e pensamentos para criar um estado de paz e tranquilidade, já que os desenhos e o isolamento tem deixado a criança muito inquieta e impaciente. Para o Dia dos Pais, conta seus planos: “Passarei o dia dos pais com ele, aqui em casa. Nós vamos ligar para o seu avô, meu pai, e faremos uma videoconferência”.

Seu Urbano, vigilante
Ao entrar na residência 5, alguns dão “boa tarde”, outros vão só sorrir, mas com o vigilante Urbano Sena é diferente. Ele recebe os moradores e visitantes do local com um “E aí garoto(a), tudo beleza?” acompanhado de uma boa história e risadas, sempre em um tom animado. Dificilmente esquecerá o nome das pessoas que passam por ele durante o dia. Para ele, isso demonstra cordialidade e atenção. Aos seus 57 anos, Urbano é sorridente e adora conversar. Teve três filhos: Bruno, de 32 anos, Maurício, de 27, e Caroline, que hoje estaria com 33.

Urbano acredita que, em qualquer profissão, as pessoas precisam aprender a gostar do que fazem e que, no seu emprego como vigilante, é importante tratar as pessoas bem, se colocar no lugar delas, orientar e ajudar sempre que possível. “É legal conversar sempre olhando nos olhos do público e aprender seus respectivos nomes, para que assim possamos ter uma comunicação com clareza”. Essa característica, ele levou também para a paternidade.

Seu Urbano e os filhos (Foto: acervo pessoal)
Seu Urbano e os filhos (Foto: acervo pessoal)

“Minha relação com meus filhos é baseada na conversa e na orientação, sempre mostrando o que é certo e o que é errado”. Por ter sido criado com mais rigidez, ele preferiu dar mais liberdade aos filhos. Ao se tornar pai, passou a batalhar para sustentar a casa. Urbano sempre trabalhou em lugares em que podia ser liberado mais cedo, então, muitas vezes, estava em casa durante a tarde para brincar com as crianças. Além dos finais de semana, que eram dedicados a eles.

“Os meus filhos sempre foram apegados a mim. Lembro que eles, bem pequenos, já me acompanhavam para assistir jogos nos estádios, tanto na Fonte Nova, como no Barradão. Todos os três eram grudados em mim, por isso pegaram gosto pelo Esporte Clube Vitória, time que eu torço”.

Na UFBA, trabalha um dia sim e um dia não, já que a carga horária é das 7 às 18 horas. Mas agora, não precisa mais se preocupar com a criação dos seus filhos como antes, eles já cresceram e se cuidam sozinhos. Ele diz que será sempre um pai, com responsabilidades, amor e carinho com seus filhos, mas reconhece que uma das maiores dificuldades, que é colocar alguém no mundo, sustentar e cuidar dessa pessoa até que ela se torne adulta, já ficou para trás.

Rodrigo, professor
Rodrigo Rossoni, professor há nove anos na Ufba e pai de Ísis, pode ser descrito pelos seus alunos como rígido e metódico, mas ainda assim simpático e sociável. Pai há 10 meses, ele ainda não sabe dizer como a relação com a filha mudou sua forma de ver o mundo, já que em metade desse tempo, o contato com o mundo foi escasso. Mas ele sabe dizer que a relação de afeto com Ísis é diferente de tudo que ele já viveu antes.

“A gente só consegue acessar esses sentimentos sendo pai. Como é muito tempo junto, você vai compreendendo as necessidades dela como um ser em desenvolvimento e, principalmente, do nosso papel em tudo isso”.

Sua relação com os seus pais foi característica da geração dos anos 70 e 80: muita disciplina, rigor e obediência e, às vezes, ele diz, mais medo do que respeito. A estrutura rigorosa, segundo ele, não contribui para o crescimento da pessoa e pode mais despotencializar do que movimentá-lo. Sendo pai de uma menina, ele quer construir um caminho diferente da forma como ele e sua irmã foram criados. O que exige um entendimento de contextos, da condição de dar mais autonomia e a compreensão de que os pais constituem o seu apoio e estrutura.

“Vejo muitos familiares sendo protetores demais, o que despotencializa e deixa a criança medrosa, com medo do mundo e da vida”. Rossoni deseja que Ísis entenda sua condição de mulher no mundo e possa lutar por melhores condições para todas, para que assim ela possa saber a importância de fazer escolhas.

Rodrigo não cria muitas expectativas para o Dia dos Pais, já que, para ele, todos os dias nos últimos 10 meses, tem sido de pai. A data comemorativa, apesar de ser uma lembrança importante, ainda lhe traz a imposição do mercado de consumo, o que ele não gosta. “Prefiro curtir o cotidiano e saber que todo dia é para se celebrar os detalhes da vida”.

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