Enecult virtual: Mostra Audiovisual apresentou quatro obras baianas

Com temas ligados à música, religiosidade e cultura regional, a Mostra se encerra hoje

Luana Lisboa

Que essa semana foi de muito aprendizado para os que acompanharam o XVI Enecult, a gente já sabe. Além das mesas de debates, palestras e lançamentos de livros, pudemos também assistir a Mostra Audiovisual, que apresentou quatro obras: um curta, um documentário, uma série documental de quatro episódios e um longa-metragem de animação, disponibilizadas no Youtube entre os dias 15 e 18 de setembro. Todas foram produções baianas independentes. Caso não tenha tido tempo de assistir alguma, a Agenda te conta um pouco sobre o que você perdeu.

“Balizando 2 de Julho”

O curta “Balizando 2 de Julho”, dos diretores e roteiristas Fabíola Aquino e Márcio Lima, acompanha parte da história de Diana Souza, Gabriel Vilas Boas e do próprio Márcio Lima como profissionais balizas LGBTQ em Desfiles do 2 de Julho, festejos em comemoração à independência da Bahia. Dentre depoimentos que refletem a LGBTQfobia na comunidade artística e observações de especialistas culturais, a produção mostrou um largo panorama do tema, comumente pouco explorado, em apenas 25 minutos.

“Eu acho que nós podemos fazer da Festa 2 de Julho um momento importantíssimo, pra mostrar que o combate à LGBTfobia não é apenas uma necessidade de política pública, mas uma necessidade de mostrar que a sociedade é diversa e que uma festa de comemoração cívica também é momento de resistência”, diz a professora da UFBA, Jamile Borges, no filme. O curta também conta com participação do ativista dos direitos humanos, Jean Willis, que já participou dos desfiles e afirma a importância deste espaço ter se tornado de resistência.

“O Samba que Mora Aqui”

“Não tenho mais nada a dizer, sabe? Tudo veio de lá mesmo, do berço da África”, afirma o percussionista Gabi Guedes no primeiro episódio da série. Dirigida por Vitor Rocha, a série- documental retrata o entrelaçamento entre os ritmos do samba, a religião do candomblé, e, claro, a resistência negra em Salvador. Entrevista profissionais da música e religiosos candomblecistas e trouxe um novo olhar sob o repertório da cultura popular da cidade para os que assistiram.

“Esses conceitos são muito rigorosos, mas eles foram colocados à margem, primeiro pela questão da dificuldade de aceitar a contribuição do negro na cultura elaborada e também porque o Brasil é um país muito racista”, explica o músico Letieres Leite. “Quando falamos de samba, estamos falando de resistência, do terreiro de Angola, desse povo que manteve esse toque, mesmo perseguido”.

 

“Ritos de passagem”

O segundo longa-metragem de animação do diretor Chico Liberato trata da realidade sociocultural do sertão do Nordeste. Santo e Guerreiro se encontram, após a morte, na barca de Caronte, no Rio da Morte e, enquanto navegam, refletem sobre os atos e as escolhas que fizeram na Terra. Enquanto Guerreiro recorda os fatos de sua jornada clandestina ao lado de seus companheiros, Santo lembra de sua luta por liberdade e plenitude espiritual. 

Produção baiana, lançada em 2012, “Ritos de Passagem” remeteu o público às questões das mais fundamentais ao ser humano, como: “o que fazemos das nossas vidas? Quais são as conseqüências dos nossos atos?”. À época, foi indicado ao Grande Otelo, maior premiação de cinema brasileira, na categoria de Melhor Longa-Metragem de Animação.

 

“Orin: música para os Orixás”

“A música popular brasileira vem do candomblé. ‘Samba’ é uma palavra africana de origem kibundo, que os angolanos trouxeram e a tradução significa oração. Então quando o negro terminava seu trabalho árduo na senzala, ia fazer samba”, explica o cantor e compositor Gerônimo Santana na produção. Esse é somente um dos aprendizados que se tira de “Orin: música para os Orixás”.

O documentário não trata somente da música baiana, mas perpassa por questões de origem, línguas, linguagens, ritmos e religiosidade. A partir de relatos pessoais de ogãs, alabês, produtores musicais, compositores, o diretor Henrique Duarte deixa mais evidente do que nunca a relação música, dança e orixás. “Já aconteceu comigo de eu tocar melodia fora do padrão, o orixá parar e só me olhar. Se ele parou de dançar e se manifestar, você sabe que tá errado”. A fala foi do percussionista Gabi Guedes.

 

https://www.youtube.com/watch?v=Hyg6Wqei894

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *