Entenda o que é NFT e qual seu impacto no mundo da arte

Os NFTs têm dado o que falar na internet, mas você sabe o que significa? A Agenda explica como a certificação digital tem movimentado o mundo artístico e o que podemos esperar para o futuro.

Por: Maysa Polcri

Você sabe o que a cantora do milênio escolhida pela BBC, Elza Soares, e o artista plástico baiano Bel Borba possuem em comum? Ambos aderiram à moda do NFT (“non fungible tokens”, tokens não fungíveis, em português) e começaram a abrir caminho para que outros artistas nacionais utilizem a tecnologia. Apesar de ter surgido em 2015, só neste ano o NFT explodiu e tem chamado atenção nas redes sociais e no mundo da arte.

Mas afinal, o que de fato significa NFT e porque as pessoas estão gastando milhões comprando memes, vídeos e ilustrações que podem ser acessadas e replicadas na internet de graça? A Agenda desbravou esse universo digital e conta tudo o que você precisa saber para entender de vez o que é NFT e como ele pode impactar o meio artístico. 

O que é NFT? 

Para que ninguém sinta que pegou o bonde andando, vamos explicar desde o início. O termo “token não fungível” se refere a algo que não possui fungibilidade, ou seja, não pode ser trocado por elementos semelhantes. O dinheiro, por exemplo, é fungível, uma vez que duas notas de 10 reais diferentes valem a mesma coisa. Já o NFT, é um ativo financeiro digital que confere autenticidade e corresponde ao direito de posse daquela obra. É o que torna a obra única. 

Então, mesmo que uma ilustração, meme ou música possam ser reproduzidos diversas vezes em qualquer aparelho, se aquela obra virar um NFT é possível verificar sua identidade, autenticidade e domínio de propriedade. Apesar de valores exorbitantes na comercialização de NFTs estarem chamando a atenção, como o famoso meme da garotinha que parece ter colocado fogo na casa, que foi vendido por 2,5 milhões de reais, o mercado se baseia na especulação de que será possível adicionar mais valor para os ativos digitais, o que pode se concretizar ou não.

“O NFT aparece para criar um valor ao instaurar uma originalidade artificiosa por meio de uma certificação em blockchain”, explicou o professor da Faculdade de Comunicação da UFBA André Lemos, em comentário na rádio Metrópole. O blockchain é um sistema que mantém registrado todo o histórico de transações, possibilitando e facilitando o rastreamento. O valor do NFT hoje está em 0,18 dólares ou R$ 0,95.

Como e porquê comprar NFT? 

Na prática, comprar ou vender NFTs é fácil, basta que você tenha acesso a um marketplace que ofereça essa opção. O leilão de 20% dos royalties da gravação inédita da música “Drão” na voz de Elza Soares está acontecendo pelo Phonogram.me, primeira plataforma de NFT de música do Brasil, e o maior lance até então corresponde a 10 mil reais. O marketplace da plataforma conta com sua própria criptomoeda, que o usuário recebe após fazer um PIX em reais – confira no vídeo.

Já o leilão da obra digital de Bel Borba, que arrecadou por volta de 27 mil reais, foi realizado pela startup baiana Inspire IP, que além de ser um marketplace de NFT, trabalha para facilitar o registro de propriedade intelectual via tecnologia blockchain. Bel Borba foi o primeiro artista brasileiro a ter uma obra certificada com NFT em um leilão internacional.

De acordo com Caroline Nunes, CEO e fundadora da Inspire IP, existem dois tipos de compradores de NFT: os colecionadores, que agem por paixão e desejam a exclusividade, e os investidores, que veem uma possibilidade de retorno financeiro. “Está havendo um hype (exagero) do NFT porque o mercado está muito aquecido, mas essa explosão é necessária para que a tecnologia possa avançar”, afirma Caroline, que acredita que os preços de NFTs devem adquirir valores mais racionais num futuro próximo. 

A obra “Fronteira Físico/Digital” do artista Bel Borba foi dividida em 100 partes iguais, que foram colocadas à venda tanto fisicamente como virtualmente, em NFT. (Foto: Divulgação)
A obra “Fronteira Físico/Digital” do artista Bel Borba foi dividida em 100 partes iguais, que foram colocadas à venda tanto fisicamente como virtualmente, em NFT. (Foto: Divulgação)

Como a arte pode ser impactada pelo NFT? 

Há mais de um século, a economia não trata necessariamente de bens, mas de representações de uma riqueza potencial. Na era do capitalismo pós-industrial, a virtualização da economia se radicaliza e o que move os mercados, inclusive o da arte, são promessas. Fala-se em bolha especulativa porque a valorização das representações são artificiais e podem sofrer alterações a qualquer momento. 

Quando se soma a isso os NFTs, tudo fica ainda mais complexo. Com a possibilidade de autenticidade verificada, a crypto art (arte digital) pode se tornar economicamente valiosa, mas continua inserida na bolha especulativa. Justamente por esse universo ainda ser embrionário e cercado de dúvidas, o professor da Escola de Belas Artes da UFBA Raoni Gondim afirma que o assunto abre muitas possibilidades para debates e questionamentos. 

“A arte se trata de uma expressão maior, simbólica e subjetiva e fundamentada numa questão estética de apreensão sensível. O mercado da arte é especulativo, porque trabalha com a relação de demanda e exclusividade”, afirma o professor. Ao diferenciar a arte de seu mercado, Raoni Gondim defende que os arquivos digitais e o NFT se referem menos à uma experiência artística e mais à uma experiência voltada ao mercado. 

No que diz respeito às questões práticas de compra e venda de NFT o professor afirma que ainda existem muitas dúvidas: “Se formos trazer para um contexto mais cotidiano, pensando nos artistas em formação e na arte como campo profissional, não sei até que ponto o NFT vai ter adesão, porque é um mercado que envolve uma parcela da sociedade que tem muito dinheiro”.  

O que pode parecer surpreendente para alguns, é que a crypto art é apenas um dos campos que o NFT pode revolucionar. De acordo com Caroline Nunes, conforme o tempo passa, a tecnologia evolui e novas possibilidades para o uso dos tokens não fungíveis surgem. Os NFTs parecem cada vez mais estar ganhando força na venda de experiências, por exemplo. Já existem bandas, inclusive no Brasil, que estão vendendo ingressos (em formato de NFT, portanto autenticados) que dão acesso vitalícios aos seus shows.

“Eu diria que a crypto art representa só 1% do potencial do NFT” (Caroline Nunes)

Caroline Nunes afirma ainda que é possível utilizar a tecnologia blockchain e os NFTs nos cenários mais inimagináveis, como o agronegócio. De acordo com a CEO da Inspire IP, é possível criar NFTs de um cavalo de raça e toda sua linhagem, para garantir que ela é de fato pura. Atualmente, a empresa trabalha com artistas convidados e realiza o primeiro leilão envolvendo uma emissora de televisão do país. Em homenagem aos 40 anos do SBT, quatro imagens do apresentador Silvio Santos, em NFT, estão à venda.

Se levarmos em conta que a história não se dá em um momento específico, mas é criada aos poucos, ainda não é possível prever qual será o futuro do NFT. Um boom passageiro ou uma tendência que veio para revolucionar o modo como lidamos com a internet? Apenas o tempo e as novas tecnologias vão responder esse mistério. O que podemos garantir, é que a tecnologia ainda é muito nova e possibilidades estão no radar de quem acredita no poder dos NFTs.

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