James Martins: a poesia na escrita e nos microfones 

 

Poeta se interessou por acaso pela comunicação

Marcelo Azevedo*

Exceto por um breve período na infância, no qual cogitou a possibilidade de seguir a carreira de repórter (e foi prontamente repreendido), James Martins nunca teve planos de se tornar um comunicador. Seu interesse surgiu por acaso, e a vida o levou aos microfones. Hoje, ao falar sobre seu trabalho, James destaca sobretudo o papel de poeta. “Minha relação com comunicação e com o jornalismo é sempre poética. Em primeiro lugar, eu tento dar à palavra um trato mais ambíguo.”

Para lançar um olhar mais sensível sobre os fatos, James vale-se de seu repertório cultural e da descontração. Leminski, Vinicius de Moraes, Saint-Exupéry e Arnaldo Antunes foram alguns dos nomes que surgiram em entrevista à Agenda. E a construção desse repertório, “se é que há algum”, segundo ele, veio justamente da comunicação. Durante sua infância, a televisão cumpria um grande papel de difusão da cultura, especialmente do cenário musical. “Às vezes eu brinco falando que aprendi a ler ouvindo músicas, vendo televisão”, diz James. 

Mesmo com o grande consumo da grade televisiva, James afirma que nunca teve grande afinidade com programas e veículos jornalísticos. “Eu não sou a pessoa mais informada do mundo, nem pretendo ser”. Para ele, um dos grandes problemas da geração atual é justamente o excesso de notícias, que nem sempre é acompanhado de uma reflexão. James preza pela profundidade. “Eu procuro processar melhor o pouco que sei, e às vezes isso causa a impressão de que eu sei sobre muitas coisas”, brinca. Em suas palavras, ele tenta fugir de uma “anestesia da sensibilidade”.

Levando a vida mergulhado na arte, o comunicador atribui apenas uma palavra ao papel da cultura: tudo. “Gente não existe fora da cultura. Ela é aquilo que cultuamos, cultivamos e desprezamos. A cultura inclui tudo.” Por isso, vê com tristeza o tratamento do setor pela sociedade. “Hoje vivemos um momento mais grotesco, com ataques à cultura, mas ela nunca foi encarada como essencial para a nação. Nós nunca tivemos um projeto de memória, um cultivo à nossa história”. Apesar de tentar manter uma postura otimista, não consegue enxergar melhorias no curto prazo. 

Em sua vida na comunicação, faz um pouco de tudo. Apresentador, comentarista, repórter, roteirista, poeta e o que vier. Hoje, integra o time da Rádio Metrópole, atuando tanto nos microfones quanto na escrita. Qual a parte mais difícil do seu trabalho? A própria comunicação, que pode não sair como planejada. “Hoje, a chance de um comentário se tornar polêmica é gigantesca. A raposa já havia prevenido o Pequeno Príncipe ao dizer que a linguagem é uma fonte de mal-entendidos.”

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