Maquiagem como forma de expressão

Conheça Hávata Serena, maquiadora busca valorizar o rosto sem transformá-lo

Por Laiz Menezes

O surgimento da maquiagem é datado por volta de 3000 a.C, em que eram usadas pinturas corporais para adorar aos deuses e celebrar a vida. O ato de se maquiar, desde então, se torna cada vez mais uma forma de esconder possíveis defeitos, de  transformar e moldar os rostos  Por ser uma mulher negra, que não tem o corpo padrão, e entender que há todo um sistema que quer colocar as pessoas, principalmente as mulheres, dentro de moldes, para que todos sigam o mesmo padrão, a maquiadora Hávata Serena, 29, acredita que a maquiagem é uma forma de expressão, em que ela busca questionar e reconstruir imagens padronizados.

(foto: Tayllafoto)
(foto: Tayllafoto)

Quem é simpatizante da astrologia já sabe que pessoas do signo de aquário são inquietas, energéticas e revolucionárias. Assim, como uma boa aquariana, Hávata tem em si essas características. A partir de sua inquietude, ela buscou se refazer, se reconstruir e rever seus conhecimentos, tentando aprender, segundo ela, com os deuses, orixás e natureza. Por isso, no seu trabalho como maquiadora, que exerce há seis anos, ela se incomodou com essa maquiagem que cobra demais e transforma as pessoas, forçando-as a entrarem em um padrão. “Ao analisar a minha e a autoestima de outras mulheres negras, eu decidi que não queria reforçar esses moldes padronizados da sociedade, ele não faz bem pra mim e pra ninguém”. 

Seu interesse pela arte e beleza sempre existiu, por isso ela fez designer de interiores na Faculdade de Belas Artes da Ufba. Mas, pela falta de contentamento com o curso, Hávata buscou outras alternativas: pegou matérias em teatro, cenografia, fez cursos de figurinos, curso de direção de arte para cinema e, finalmente,  o curso de maquiagem artística e social. Se apaixonou pela área e não parou mais, pelo contrário, ela só cresceu e evoluiu. Foi quando começou a dar aula para pessoas das comunidades e, a partir disso, a vontade de seguir nessa carreira só aumentou. Hoje, seu maior foco é no campo audiovisual, em que o ato de maquiar para se expressar fala mais alto, representa algo, não sendo apenas para esconder “imperfeições”.  

Quando Hávata, que nasceu e sempre morou em Salvador, faz seus trabalhos autorais, grande maioria, ela sempre busca por modelos negras e negros. Assim, as pessoas a convidam muito para fazer pele preta, já que ela tem bastante experiência na área. A maquiadora acredita que pode fazer trabalhos incríveis, mas ela não acha certo que na hora de maquiar alguém ela tenha afinar o nariz, o rosto e transformar completamente o modelo. “Eu não quero ter o meu rosto transformado, quero que ele seja valorizado, quero ser quem eu sou e quero que as pessoas se sintam bem também em ser quem elas são. Eu tento colocar isso no meu trabalho”.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *