Projeto da UFBA busca ampliar participação feminina na ciência

O objetivo é incentivar a participação de meninas no campo científico, por meio da divulgação da experiencia de mulheres cientistas

Por Yananda Lima

Somente 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres, é o que afirma a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em dados levantados em 2014. Salvo algumas exceções, a diminuição da participação feminina na ciência, à medida que cresce o nível de educação, é uma propensão comprovada.

“A ferramenta de dados revela essa tendência em todas as regiões, o que mostra o conflito que muitas mulheres enfrentam, ao tentarem conciliar as ambições de profissionais com as responsabilidades exigidas no cuidado com a família”, aponta a representação da Unesco no Brasil.

Paralelo a essa disposição, as pesquisadoras também tendem a trabalhar em setores acadêmicos e governamentais, ao passo que os pesquisadores tendem a trabalhar em órgãos privados, com salários mais altos e melhores oportunidades. Na Argentina, 52% dos pesquisadores são mulheres, mas somente 29% delas estão empregadas no setor privado, afirma a Organização.

A luta por igualdade de gênero se estende ao incentivo de meninas e adolescentes ainda em fase escolar a buscar oportunidades profissionais nas áreas científicas, predominantemente ocupadas pelo sexo masculino. “Em todas as regiões, as mulheres pesquisadores são minoria nos campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)”, aponta a Unesco.

Esse é o objetivo do projeto de pesquisa Inspiradoras: histórias de cientistas baianas no contexto do ensino de ciências, coordenado pela professora da Universidade Federal da Bahia, Ângela Maria Freire. A proposta do projeto é divulgar a história de mulheres cientistas de diferentes áreas de conhecimento, com ênfase em Ciências Naturais, para estudantes do ensino fundamental na Bahia.

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Na foto, a bióloga Anna Lima (Tomaz Silva/Agência Brasil)

A pesquisadora ressalta a invisibilidade de mulheres cientistas como um problema recorrente em seus estudos. “Seja em livros didáticos seja no próprio discurso de docentes, que veiculam sistematicamente uma imagem de cientista geralmente como uma pessoa do sexo masculino, além de omitir os nomes de grandes mulheres cientistas que deram enormes contribuições para o avanço científico e tecnológico no mundo inteiro”, afirma.

O programa está dividido em duas etapas, na primeira parte é realizada uma pesquisa do grupo de professores vinculados ao projeto, visando a definição das cientistas baianas a serem estudadas, assim como suas contribuições dentro da área de estudo e trajetória profissional. Na segunda parte serão produzidos livros paradidáticos com as histórias das respectivas cientistas e distribuição nas escolas públicas de ensino fundamental em Salvador.

“O projeto Inspiradoras foi pensado como uma possibilidade de veicular, através de palestras, imagens e pequenas biografias, histórias de mulheres cientistas baianas bem-sucedidas, que construíram suas carreiras de modo a conciliar sua condição feminina aos desafios da prática científica” salienta a professora Ângela Maria.

A escolha das cientistas ainda está em andamento, mas já foram selecionadas oito cientistas baianas, entre elas quatro médicas, três biólogas  e uma física. Entre os critérios utilizados pelos pesquisadores estão a construção de uma carreira sólida e o reconhecimento do trabalho por seus pares, através de prêmios e/ou homenagens no meio acadêmico. Duas biografias já foram parcialmente divulgadas em um dossiê sobre Mulheres na Ciência e na Tecnologia, na Revista Ártemis.

Contrariando, consequentemente, alguns estereótipos que rodeiam o meio acadêmico e com o próposito de combater outros, como a predominância de mulheres em áreas ligadas ao cuidado, em contraponto a pouca representação em áreas associadas a tecnologia, o grande objetivo do projeto é incentivar a participação de meninas na carreira científica.

“Consideramos de importância crucial a apresentação de exemplos de mulheres cientistas que conseguiram conciliar sua vida profissional ao exercício dos papéis historicamente destinados pela sociedade para as mulheres, que constituíriam, a princípio, obstáculos para a realização de seus objetivos profissionais”, conclui a pesquisadora.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

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